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Shigeru Ban recebe o Prêmio Pritzker 2014

 

“Shigeru Ban é um arquiteto cujo trabalho incansável inspira otimismo. Onde outros podem ver desafios insuperáveis, Ban vê um convite à ação. Onde outros podem tomar um caminho seguro, ele vê a oportunidade de inovar. Além disso, ele é um professor comprometido que não é apenas um modelo para a geração mais jovem, mas também uma fonte de inspiração ” – . Júri do Pritzker 2014

Citando sua abordagem inovadora para estruturas e o uso de materiais, bem como seu sensível compromisso com o projeto, o Júri do Pritzker escolheu o arquiteto japonês Shigeru Ban como o vencedor do Prêmio Pritzker de 2014. Ban é o trigésimo oitavo ganhador do Prêmio Pritzker e o sétimo arquiteto japonês galardonado.

Ban, que estudou na Sci -Arc e Cooper Union , primeiramente foi reconhecido internacionalmente por seu uso experimental e criativo de materiais não convencionais ( particularmente o uso de papel ). E recentemente um especial reconhecimento por desenvolver projetos de alta qualidade e de baixo custo, para os que mais precisam – refugiados e vítimas de desastres naturais.

De acordo com o júri, o Prêmio Pritzker reconhece aos arquitetos que conseguem demostrar ” excelência na obra construída e que fazem uma contribuição significativa e consistente para a humanidade. Shigeru Ban, o laureado de 2014, reflete esse espírito do prêmio ao máximo ” .

Citação do Júri 2014:

Desde a sua criação 35 anos atrás, o objetivo do Prêmio Pritzker de Arquitetura é reconhecer arquitetos que vivem para a excelência no trabalho construído e que fazem uma contribuição significativa e consistente para a humanidade.

Shigeru Ban, laureado de 2014, reflete esse espírito do prêmio ao máximo. Ele é um arquiteto de destaque que, por vinte anos, tem respondido com criatividade e desenho de alta qualidade em situações extremas causadas por desastres naturais devastadores. Seus edifícios servem de abrigo, centros comunitários e locais espirituais para aqueles que sofreram enormes perdas e tem sido vitimas de tamanha destruição. Quando a tragédia atinge, Ban está lá, muitas vezes desde o início, como em Ruanda, Turquia, Índia, China, Itália e Haiti, e seu país natal, o Japão, entre outros.

Seu enfoque criativo e inovador, especialmente relacionado com materiais e estruturas, e não apenas boas intenções de construção, estão presentes em todas as suas obras. Através de excelentes projetos, em resposta a desafios emergenciais, Shigeru Ban ampliou o papel do oficio. Ele conquistou um espaço para arquitetos participarem do diálogo com os governos, órgãos públicos, filantropos e comunidades afetadas. Ao criar uma arquitetura de qualidade para atender as necessidades da sociedade, seu senso de responsabilidade e de ação positiva associada à sua original perspectiva diante destes desafios humanitários, faz do vencedor deste ano um profissional exemplar.

O premiado possui uma extensa carreira profissional. Desde a criação do seu primeiro escritório em Tóquio em 1985 e posteriormente também em Nova York e Paris, tem realizado projetos que vão desde a habitação mínima, casas experimentais e habitações coletivas; de museus, salas de exposições, salas de conferências e concertos, e edifícios de escritórios.

Um fundamento que unifica grande parte da sua obra construída é a sua abordagem experimental. Ele ampliou com o seu trabalho o campo da arquitetura, em relação não só aos problemas e os desafios que abrange, mas também em relação as ferramentas e técnicas para lidar com eles. Ban é capaz de ver nos componentes padrões e materiais comuns, tais como: tubos de papel , materiais de embalagem e containers , usando-os de novas maneiras. Ele é especialmente conhecido por suas inovações estruturais e a utilização criativa de materiais não convencionais como o bambu, tecido, papel, e materiais compostos de fibra de papel reciclado e plástico.

Na Naked House, foi capaz de questionar a noção tradicional de dormitórios e, consequentemente, da vida doméstica . Simultaneamente, criou uma atmosfera translúcida, quase mágica. Tudo isso foi feito com meios modestos: paredes externas revestidas em plástico corrugado claro e divisões de acrílico branco tensionado internamente através de uma estrutura de madeira. Esta composição em camadas sofisticadas de materiais comuns utilizados de uma forma natural e eficiente proporciona conforto, eficiente desempenho ambiental e ao mesmo tempo uma sensual qualidade da luz.

Ban construiu seu próprio estúdio, (em cima de um terraço no Centro Pompidou em Paris durante os seis anos que trabalhou no projeto do museu Metz), com tubos de papelão e uma membrana que cobre o teto arqueado. Ele também usou containers como elementos pré-fabricados na construção do museu. Sua obra é uma prova de sua capacidade de agregar valor através do desenho. Outras novas ideias conceituais e estruturais foram desenvolvidas e podem ser vistos no PC Pile House, House of Double Roof, FurnitureHouse, Wall-less House, e Nine-Square Grid House.

Outro tema recorrente na sua obra é a continuidade espacial entre os espaços interiores e exteriores. No Curtain Wall House , utilizou cortinas móveis ,similares as tendas de acampamento, vinculando facilmente interior e exterior ,proporcionando ao mesmo tempo privacidade quando necessária. O s 14 andares do edifício Nicolas G. Hayek Center, em Tóquio, estão cobertos com persianas de vidro nas fachadas frontais e posteriores que podem ser abertas em sua totalidade.

Para Shigeru Ban, a sustentabilidade não é um conceito para acrescentar após os fatos, mas sim, é um fator intrínseco à arquitetura. Suas obras se esforçam para encontrar produtos e sistemas adequados que estão em harmonia com o meio ambiente e o contexto específico, o uso de materiais renováveis e produzidos localmente, sempre que possível. Apenas um exemplo é o seu edifício de escritórios Tamedia recém-inaugurado em Zurique, que usa um sistema estrutural de madeira trançada, completamente desprovida de peças metálicas nas juntas ou de cola.

O grande conhecimento da estrutura e apreço por mestres como Mies van der Rohe e Frei Otto contribuiu para o desenvolvimento e concepção de seus edifícios. Sua arquitetura é direta e honesta. No entanto, nunca é comum, e cada novo projeto tem uma novidade especial que o caracteriza. A simplicidade elegante e aparente naturalidade de suas obras são o resultado de anos de prática e amor pela construção. Acima de tudo, o respeito pelas pessoas que habitam seus edifícios, sejam vítimas de catástrofes naturais ou clientes privados ou públicos, é sempre revelado através de sua abordagem reflexiva, planos funcionais, materiais adequados cuidadosamente selecionados, e a riqueza de espaços que cria.

Shigeru Ban é um arquiteto cujo trabalho incansável exala otimismo. Onde outros podem ver desafios insuperáveis, Ban vê um convite à ação. Onde outros podem tomar um caminho seguro, ele vê a oportunidade de inovar. Além disso, ele é um professor comprometido que não é apenas um modelo para a geração mais jovem, mas também uma fonte de inspiração.

Por todas estas razões, Shigeru Ban é o laureado com o Prêmio Pritzker de Arquitetura 2014.

 

 

 

 

3.  Após vencer a competição para o Pompidou em Metz, Ban instalou um escritório do tamanho de uma barraca – feito de tubos de papel, naturalmente – no topo do Pompidou em Paris, para que pudesse supervisionar todos os detalhes do seu projeto. Como ele brincou em sua Ted Talk: “Aluguel de graça por seis anos!”

 

 

4.  Ele trabalhou no escritório de Arata Isozaki, em Tóquio, de 1982 a 1983.

5.  Seu pai era um empresário da Toyota; sua mãe uma estilista de haute couture.

6.  Quando era criança, Ban queria ser carpinteiro.

7.  Quando Ban estudou na Cooper Union de 1980 a 1982, esteve em excelente companhia. Seus colegas de classe eram seu atual sócio no escritório de Nova Iorque, Dean Maltz, e outros notáveis arquitetos como Nanako Umemoto (Reiser + Umemoto) e Laurie Hawkinson (Smith-Miller + Hawkinson Architects). Seus professores foram Ricardo Scofidio, Tod Williams, Diana Agrest, Bernard Tschumi, Peter Eisenman e John Hejduk, entre outros.

8.  O abrigo para refugiados “faça você mesmo” de Ban se provou uma resposta muito popular e efetiva para habitação de baixo custo em caso de desastres naturais; já foi usado no Japão, Vietnã, Turquia, China, Haiti, Ruanda e outros países ao redor do mundo.

 

 

9.  Em 2007 Ban concluiu sua atual casa, situada no distrito Hangei Forest, em Tóquio, sem derrubar uma única árvore.

 

 

10.  Ban, um ávido jogador de rugby em sua juventude, inicialmente planejava entrar na Waseda University para jogar e estudar arquitetura simultaneamente, entretanto, eventualmente escolheu focar na arquitetura e entrar na Tokyo University of the Arts.

11.  Ban foi inspirado a entrar na Cooper Union quando estava na Universidade de Tóquio, ao ler um artigo sobre John Hejduk, o “arquiteto de papel” e então deão da Escola de Arquitetura da Cooper Union em Nova Iorque.

12.  Para construir o Pavilhão Japonês para a Expo 2000 inteiramente com materiais recicláveis, Ban substituiu as juntas mecânicas por fitas de tecido (que permitiam a construção e desmontagem manual). Após a Expo, a estrutura foi inteiramente reciclada.

 

 

13.  Ban é conhecido pelo emprego de materiais pouco usuais em suas obras, estes a seguir são alguns dos que já utilizou: tubos de papelão, papel, containers de navios, materiais de embalagens, telas metálicas, tecido, plástico, acrílico, bambu laminado, madeira (sem conectores de metal), fibras de carbono, cortinas e compostos de fibra de papel e plástico reciclado.

14.  Desde que venceu a competição para o Pompidou em Metz e estabeleceu seu escritório em Paris, Ban passa uma semana em Tóquio outra na França.

15.  Ban já colaborou com Kenya Hara, diretor de arte da companhia Muji, não apenas uma, mas duas vezes. A primeira vez foi em 2012, quando Ban participou do Arquitetura para Cães ao projetar uma estrutura de tubos de papelão; e novamente em 2013, quando projetou uma nova Casa Furniture para a House Vision, uma exposição de três semanas em Tóquio que focava no futuro da habitação em Tóquio.

 

 

Construção civil e a habilidade de prever o futuro

Fábio Rossi

O que será novo, moderno e necessário nas residências daqui a dez anos? Estas são perguntas que as construtoras fazem antes de projetar um empreendimento imobiliário. Diferente de produtos menos duráveis, como um carro ou um celular, o imóvel permanecerá com o consumidor por muitos anos e precisará contemplar necessidades e desejos do morador que ele ainda não sabe que terá. As construtoras tentam mapear essas tendências e incluir ferramentas nos seus lançamentos para atender ao desejo futuro do seu cliente. Tudo isso para valorizar um empreendimento e mantê-lo interessante daqui uma década.

Isso acontece porque as fases para a construção de um empreendimento demandam estudos, análises e, claro, tempo. Por exemplo: para um projeto pensado hoje, seriam necessários, em média, três meses para encontrar um terreno e analisar a viabilidade de se construir no local três meses para a com p do terreno; cerca de um ano e meio para a aprovação da planta na prefeitura e o início das obras, e três anos para a construção e entrega das chaves. Assim, já se foram cinco anos. Como um imóvel é considerado novo com até cinco anos de uso, os projetos devem considerar 10 anos à frente.

Prever o futuro faz parte das novações no mercado imobiliário, mas é um grande desafio. Em 10 anos, a economia muda, a política muda, a tecnologia muda, as pessoas mudam. Os imóveis compactos e funcionais, que hoje fazem tanto sucesso com o novo perfil das famílias, foram pensados em uma época em que a sociedade ainda buscava apartamentos maiores, fora dos grandes centros. Para os próximos 10 anos, essa tendência deverá ser mantida e a preocupação com a mobilidade estará ainda mais presente na parte inicial do projeto, ou seja, na escolha do terreno. Além disso, em uma década, a tendência é termos um mercado ainda mais maduro, com imóveis valorizados voltados, principalmente, para o comprador final, sem especulação e sem bolha no mercado. A manutenção de financiamentos mais longos e o acesso facilitado ao crédito devem colaborar, também, para esse cenário positivo.

Para diminuir esse prazo e acelerar o crescimento da construção civil, seria necessário diminuir as amarras burocráticas, que são os principais impedimentos para um avanço ainda maior do setor. Uma maior agilidade no processo de aprovação da obra e documentos mais simples e unificados poderia reduzir essa necessidade de previsão em pelo menos, um ano e meio. Além disso, uma maior parceria com os governos e investimentos públicos que andassem com a velocidade do mercado imobiliário, além de planos diretores de longo prazo e com ajustes periódicos para que as cidades tenham um direcionamento, diminuiriam as amarras do setor, proporcionando agilidade ao segmento e às negociações.

*Fábio Rossi é sócio da Itaplan Imóveis e membro da diretoria do Secovi-SP

Bolha murcha

Antônio Machado

Depois de o preço médio dos imóveis subir 113% acima da inflação, em São Paulo, e 144% no Rio de Janeiro, entre 2007 a 2013, tornou-se recorrente a questão sobre se o país vive uma bolha imobiliária. O receio remete à grande crise global, iniciada com o estouro da especulação no mercado de hipotecas nos EUA. Mas do que se fala?

Na semana passada, o Banco Central divulgou estudo em que nega tal risco, apesar de o crédito imobiliário ter saltado de 1,3% do PIB em 2006 para 8% em 2013, um grande avanço, mas bem abaixo da medida equivalente no mundo emergente, acima de 15% do PIB, e avançado, de 40% para mais. Parte de seu Relatório de Estabilidade Financeira, o estudo, centrado na segurança bancária, é tranquilizador.

“Não há bolha imobiliária no Brasil, com certeza”, disse o diretor de Fiscalização do BC, Anthero Meirelles, ao apresentar o estudo. “Aqui os preços não sobem sem justificativa econômica. Aqui a gente não tem subprime [alcunha das hipotecas de alto risco nos EUA]. Não tem segunda hipoteca praticamente de nenhuma residência, e mais de 90% dos imóveis são para moradia.” Do ponto de vista da sanidade do crédito imobiliário, de fato, a tendência continua de expansão.

Ainda assim, o conceito de bolha, entendida como sinônimo de alta exorbitante de preço associada à especulação, não se restringe ao mercado de crédito. Ele pode estar no preço em si, como sequela ou de escassez de áreas livres disponíveis para novas construções, tal como o cenário particular do Rio, ou de medidas regulatórias. Ambas as situações são ratificadas pelo crédito, mas não criadas por ele.

Além disso, estouro de bolha é um evento não tão comum em qualquer mercado. Mais frequente é que a especulação passe a murchar, depois de esgotados os fatores que a motivaram. É o que parece em curso no país, conforme o que se observa nos principais mercados, entre a redução cada vez maior da área média dos apartamentos e a diferença entre a renda mínima necessária para um financiamento imobiliário e o preço médio dos imóveis. Os dois vieses dialogam entre si. E, em geral, contra o interesse do comprador. Esse é o cenário à vista.

Quitinetes como mansão

Por muitos anos, por exemplo, os códigos de edificação em cidades como São Paulo e Rio proibiam a construção de prédios residenciais com unidades abaixo de certa metragem, para coibir as experiências de deterioração urbana dos chamados quitinetes. Prédios com muitas unidades pequenas tendem a se degradar, e assim é no mundo.

O modelo dos residences ou flats, que oferecem serviços típicos de hotelaria, contornou tais restrições. O custo de manutenção não os fez uma opção de moradia em larga escala, mas abriu a porta para a legislação ser flexibilizada. Hoje, em São Paulo e no Rio, os prédios com apartamentos de até miúdos 25 metros quadrados (m2) e vários por andar lideram os lançamentos. O preço por m2, contudo, não tem relação com a realidade de mercado. Eles são menores só em valor absoluto, para caber no orçamento do comprador, mas superam o preço equivalente em m2 de imóveis com área até oito vezes maior.

28 m2 por R$ 1,1 milhão

Numa pesquisa da imobiliária Lopes citada pela Exame, encontram-se apartamentos com 36 m2 de área útil, em São Paulo, por R$ 29,8 mil reais/m2, ou R$ 39,3 mil com 28 m2 em Copacabana, no Rio. Comparam-se tais preços com menos de R$ 10 mil o m2 de apartamentos usados, mas renovados, com área útil de 115 a 220 m2. Mesmo habitação nova, com área média de 150/200 m2, custa menos relativamente à metragem. É ai que a disponibilidade do crédito coonesta a especulação. E é assim por quê? Porque, conforme pesquisa do site Canal do Crédito, a renda familiar exigida para financiar um imóvel com 70 m2 de área começa a se descolar dos preços médios de mercado, levando o lobby do setor a arrancar das gestões municipais a desregulamentação do setor. No Rio, já há prédio com unidades de 25 m2 sem garagem.

Desmonte da especulação

Em Brasília, por exemplo, o preço médio de um imóvel de 70 m2, da ordem de R$ 570,2 mil, exige renda familiar de R$ 15,4 mil (tendo como base, segundo nota da Exame, compradores com 30 anos, prazo de 30 anos também, 20% de entrada e financiamento pela Caixa). Em Belo Horizonte, a renda mínima necessária é pouco menor, R$ 10,1 mil, em consonância com o preço médio nas mesmas condições, R$ 375,1 mil.

Está claro que a renda média não encontra mais o preço dos imóveis e as condições dos financiamentos. E o artifício da quitinete, além de prejudicar a qualidade de vida, superou as medidas de bom senso. “Dois anos depois”, disse o professor William Eid Junior, do Centro de Estudos em Finanças da FGV, em artigo na Folha, “não discutimos mais a existência de bolha. Acompanhamos o seu desmonte”. A queda dos lançamentos e o número de imóveis vazios já têm a ver com isso.

8ª maior alta no mundo

Na comparação internacional, segundo o ranking do Global Property Guide, o mercado imobiliário brasileiro continua forte, embora com sinais de desaceleração. Em 2013, o preço médio dos imóveis no país (com São Paulo como referência) teve no quarto trimestre, frente ao mesmo período em 2012, a 8ª maior alta real, +7,59%, vindo abaixo, pela ordem, de Dubai, Estônia, Taiwan, Filipinas, China, EUA e Nova Zelândia. Em 2012, o aumento real fora maior, de 9,38%. E na medida intertrimestre o ritmo de crescimento diminuiu para 1,61%. Noutra métrica, também divulgada nesses dias, apurou-se uma medida instigante: nos últimos 41 anos, segundo o Census Bureau dos EUA, a metragem média das casas subiu 61%, passando de 154 m2 a 248 m2, e o preço médio ajustado ao dólar de 2013 ficou praticamente estável, mesmo com a grande crise das hipotecas, na faixa de R$ 3 mil o m2. Concorrência e produtividade (baixas no Brasil) explicam boa parte.

Uerj terá Faculdade de Arquitetura em Petrópolis

Casa do Barão do Rio Branco, prédio histórico da Cidade Imperial, vai abrigar a nova unidade

PALOMA SAVEDRA

Casa do Barão do Rio Branco foi comprada pela Uerj por R$ 2,2 milhões Foto: Divulgação

Para inaugurar sua primeira faculdade de Arquitetura, a Uerj escolheu a altivez da Cidade Imperial. E o curso, com previsão de início no primeiro semestre de 2015, vai funcionar em imóvel histórico: a Casa do Barão do Rio Branco. A ideia é que, com o tempo, os próprios alunos trabalhem na restauração do espaço, tombado em 1998 pelo Inepac.

“A Cidade Imperial pode ser considerada uma sala de aula ao ar livre”, diz o reitor da Uerj, Ricardo Vieiralves, que pretende ainda ampliar a atuação da universidade em Petrópolis e criar novos cursos na cidade: “O campus deve crescer”. Datado do século XIX, foi no imóvel que Brasil e Bolívia assinaram, em 1903, o Tratado de Petrópolis, que anexou o Acre ao país. As negociações foram mediadas pelo então Barão do Rio Branco.

A construção era de propriedade particular, e foi vendida para o governo estadual por R$ 2,2 milhões. No local, funcionava curso supletivo do governo do estado, que alugava o imóvel.

A aquisição foi formalizada ontem durante cerimônia realizada no Palácio Guanabara. No evento, também foi assinada a compra, avaliada em R$ 12 milhões, do prédio do Instituto Politécnico do Rio, em Friburgo.

No evento, o secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Gustavo Tutuca, disse que, com a instalação da faculdade de Arquitetura, uma série de cursos técnicos, como o de Restauração, passarão a ser oferecidos: “A faculdade representa um salto para o futuro”.

O professor titular da Faculdade de Arquitetura da UFRJ, Olinio Gomes Paschoal Coelho, ressalta que, no uso da casa, alguns requisitos devem ser respeitados, como a manutenção da construção original. “Não pode é descaracterizá-lo. Além disso, se a fachada tiver elementos ou intervenções modernas, é obrigação do novo proprietário restaurá-la em sua originalidade”, explicou Olínio. Mas ele está otimista: “Com a chegada do ensino superior, ele será revitalizado. O imóvel vai se perpetuar”.

Opinião: “Uso das águas do Paraíba do Sul é questão técnica”

O rio atravessa o estado do Sul ao Norte. Não há outro grande manancial que o substitua no abastecimento de água da cidade do Rio

O Rio Paraíba do Sul banha dois estados (São Paulo e Rio de Janeiro) e ainda alimenta um canal adutor que serve à recém-inaugurada usina hidrelétrica de Simplício, servindo como divisa entre o RJ e Minas Gerais. Nasce na Serra do Mar e, desde o seu trecho inicial, contribui para a formação de várias represas. Tanto no lado paulista como no fluminense, o Paraíba é a principal fonte de abastecimento de água de importantes cidades médias e pequenas que se desenvolveram em seu vale.

Devido às represas, que servem simultaneamente para o abastecimento de água e geração de energia elétrica, o rio tem sua vazão mínima controlada. Em cada um de seus trechos, não é possível retirar do leito mais que um determinado volume de água, a fim de não se prejudicar os que estão a jusante (abaixo). No caso do Rio de Janeiro, o Paraíba do Sul é vital, porque é o único que o atravessa do Sul ao Norte. Não há outra bacia ou grande manancial capaz de substituí-lo. No Sul fluminense, o Paraíba tem sua vazão controlada por uma hidrelétrica de porte médio, a do Funil, cuja represa se estende também por território de São Paulo. A partir da represa do Funil, o Paraíba banha cidades médias

Após passar por turbinas de hidrelétricas da Light, as águas provenientes do Paraíba reforçam o rio Guandu, e se torna principal fonte de abastecimento da cidade do Rio de Janeiro e de parte dos municípios vizinhos, na região metropolitana.

Não há, portanto, como se remanejar o rio e alterar sua vazão mínima sem um entendimento que considere a utilização das águas ao longo de todo o seu curso. Por isso, os estudos iniciados anos atrás para se avaliar opções de abastecimento na região metropolitana de São Paulo envolveram órgãos técnicos federais e do Estado do Rio, especialmente no que se refere à Bacia do Paraíba. A possibilidade de abertura de um canal que desvie a vazão de um afluente no trecho inicial do Paraíba do Sul, anunciada pelo governador Geraldo Alckmin (curiosamente, um político do Vale do Paraíba) não pode ser uma decisão unilateral. Erra o governador na afirmação à “Folha de S.Paulo” de que a água a ser transposta “é dos paulistas”.

Os estudos apontaram outras opções. Nenhuma delas é uma solução de curto prazo. Não há como se reforçar o sistema Cantareira (que abastece parte da Grande São Paulo) com esse desvio nos próximos três anos. Assim, uma decisão açodada diante da crise de abastecimento que afeta a região metropolitana de São Paulo, só teria efeito político, em época de eleição. Como se trata de uma questão muito séria, apenas os aspectos técnicos devem prevalecer, sob supervisão da Agência Nacional de Águas (ANA), o órgão regulador federal que vem gerenciando bacias que abastecem diferentes unidades da Federação.

Vale frisar que, desde o início da década, a vazão do Paraíba do Sul na represa do Funil tem sido inferior à vazão mínima estipulada. Isso significa que o consumo de água no trecho paulista já supera o que é tecnicamente admitido para o rio.

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