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Carta aos Candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro
O que os DRONES não vêem na CICLOVIA da Niemeyer
Interessantíssimo utilizarmos de tecnologia nova para desenvolver nossos trabalhos. Comentando sobre os drones que filmam as obras da ciclovia, gostaria de expor alguns fatos relativos as obras
Essa ciclovia tem 4km de extensão, e faz parte de um conjunto de vias que permeiam nossa cidade e trarão, de certo, um novo modal de ligação entre os bairros
Nesses 4km encontramos uma serie de dificuldades que vêm sendo “vencidas” com tecnologia e conhecimento de engenharia, onde o drone consegue nos mostrar o sucesso da empreitada.
As obras estão sendo executadas por engenheiros e técnicos da georio e da cedae. Friso engenheiros, pois a obra de razoável dificuldade técnica, vem demonstrando soluções de engenharia apenas. E este é um dos pontos que me motivou a escrever este texto.
A prefeitura buscou um dialogo entre os órgãos gestores afim de buscar e entender soluções técnicas , ambientais, sociais, e estéticas adequadas a tão importante equipamento. Conversei nos últimos meses, já com a obra em andamento, com alguns setores da prefeitura(secretaria de urbanismo e depto de patrimônio), e sempre fui informado de que buscou-se a união de esforços e sinergia das obras comandadas por georio e cedae, mas que também o cronograma e agentes das duas obras realmente não estavam alinhados.
Infelizmente o que vem sendo executado, e pelo drone relatado de que já 80% das obras estão concluídas, não condiz com o século XXI, não condiz com o bom urbanismo, não condiz com uma via litorânea, zona turística da cidade patrimônio da humanidade.
Não há um local novo de convívio, de respiro, onde as pessoas possam parar e observar a vista e descansar no meio de 4km de trajeto ; onde se possa beber uma agua de coco, onde as passarelas do Vidigal possa “pousar” com conforto, onde enfim poderia haver vida, onde os pescadores buscariam um bom ponto de pesca, enfim não há!
Talvez a mais “trágica” constatação seja a de que metade deste percurso é resolvido por uma via dissociada a avenida Niemeyer, com poucos acessos(que dizem serão feitos), mas que representam falta de segurança e sensação de medo. A pior constatação é de que esta solução foi adotada, pois a obra da cedae, que já se “arrasta” por mais de 2 anos, iniciou a troca da antiga tubulação, simplesmente criando uma nova, acima da antiga, totalmente aflorada da mureta de proteção , causando uma paisagem horrível e medíocre. Medíocre como a técnica de se criar apoios metálicos, e acabamentos totalmente improvisados e sem qualquer refino estético, obra esta que inviabilizou a construção da via contigua a avenida por toda a sua extensão.
O que o DRONE não vê, e que ainda há tempo de mudar??
É possível, com pouco esforço, retirar as tubulações mediocremente recém colocadas, e recoloca-las por sob o “viaduto-ponte” que foi construído. Com um pouco mais de esforço, seria possível criar uma conexão entre este viaduto-ponte, e a Avenida niemeyer, aumentado a área de passeio, e evitando a iminente sensação de medo ao atravessar esse trecho da ciclovia.
É possível eleger alguns pontos principais da via e criar espaços arborizados, de contemplação, de acolhimento
É possível aproveitar esta obra e melhorar os recuos para ônibus e vans da avenida
É possível!
Enfim, solução há! Tempo há! Dinheiro há!, pois bons profissionais temos, tempo ainda temos, e dinheiro podemos ter, pensando e projetando, podemos ate economizar investimentos.
Criar áreas que possam ser exploradas economicamente, onde os acessos às comunidades possam ser valorizados, criar elementos para “ocupar” o espaço.
Corremos o serio risco de depois de concluída esta obra, termos gerado problemas que não havíamos, e não gerar a solução de que desejávamos
Anibal Sabrosa Gomes da Costa
Homenagem a Peter Gasper
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Subir, ou não subir: essa é a questão!
O artigo abaixo foi escrito pela arquiteta Sandra Sayão, sócia da De Fournier & Associados, e publicado no Jornal O Globo de 8/6/2012.
É uma opinião, do ponto de vista arquitetônico, sobre a discussão a respeito do aumento de gabarito na área portuária, que vem sofrendo um precesso de revitalização.
Segue o artigo na íntegra:
“A Cidade do Rio de Janeiro, motivada pelos eventos da Copa do Mundo e Olimpíadas, entre outros fatores de impulso econômico, é palco de uma releitura urbana. Surge aquela vontade política e privada em revigorar a autoestima da Cidade. Após longo período de congelamento das revitalizações, a Zona Portuária vive uma concreta oportunidade para sua requalificação e reintegração à Cidade. Entretanto, em paralelo, passa por momentos importantes de reflexões e questionamentos. A Av. Perimetral, a exemplo relevante, transformou por muitos anos a estética do Cais do Porto. Sob a larga laje do elevado e entre o ritmo de seus robustos pilares, abriga espaços urbanos sombrios e degradados que provocaram a segregação deste setor do contexto urbano. O traçado extenso do elevado que cobre uma grande fatia da Cidade, há mais de 20 anos, provoca divergentes discussões sobre os benefícios ou malefícios que gerou para a Cidade. Hoje, prestes a ser removido, ainda divide a opinião pública entre sua demolição e o papel importante que exerce na fluidez do deslocamento urbano. A população ainda divide opiniões sobre esse assunto, mas, entretanto, todos na mesma intensidade anseiam o resgate dos espaços públicos perdidos pela degradação. No momento em que a Cidade recuperar seu patrimônio natural retomando a frente mar, e ofertar à população espaços atraentes e arejados, iremos todos esquecer os transtornos e questionamentos do passado, frente aos surpreendentes benefícios que virão.
O processo de revitalização muda os paradigmas sociais, buscando a reocupação urbana, a solução de trânsito e a criação de transportes de massa, além de casar tudo isso aos resultados matemáticos econômicos para seu sucesso. Sendo assim, então pergunto: congelar a leitura de uma célula que fervilha a oportunidade de sua recuperação e faz parte do organismo vivo de uma Cidade, é o caminho?
A liberação do gabarito neste setor de 18 para 33m tem sido pauta de várias discussões. E sendo mais específico, o foco no momento aponta para o terreno do Banco Central. Concordo com Adauto Lúcio Cardoso, que defende o direito de igualdade para todos. A Lei com certeza garante esse direito. No entanto, será errado nos defrontarmos com propostas pontuais, que abrem a oportunidade para legados arquitetônicos mais emblemáticos? O prédio em questão, não poderia assumir a função de marco na paisagem da Cidade? Isto seria ruim?
O cenário de uma Cidade hoje é muito dinâmico. A composição das tomadas visuais, a permeabilidade dos ventos, a relação do uso público com os térreos e embasamentos, a arte e o comportamento cultural de uma Cidade, a tecnologia, a globalização, a preocupação com a sustentabilidade, entre outros itens, contribuem para este dinamismo. O que não podemos repetir nesta região, são os erros cometidos no passado. Acreditando que a arquitetura é um mero espelho das redações que compõem as leis urbanas. A arquitetura é mais que isso, é criatividade, ousadia, dinamismo e principalmente sensibilidade. Isso não significa que iremos abandonar as posturas legais da Cidade, longe disso. O que não podemos desprezar é que os grandes saltos da arquitetura surgiram das releituras provocadas por grandes fóruns de questionamentos. Achar a linha tênue entre o ideal e o desejo para o que está prestes a nascer na Zona Portuária é o que aguça a criatividade que irá enriquecer o resultado da futura paisagem de nossa Cidade.”