Construção civil e a habilidade de prever o futuro

Fábio Rossi

O que será novo, moderno e necessário nas residências daqui a dez anos? Estas são perguntas que as construtoras fazem antes de projetar um empreendimento imobiliário. Diferente de produtos menos duráveis, como um carro ou um celular, o imóvel permanecerá com o consumidor por muitos anos e precisará contemplar necessidades e desejos do morador que ele ainda não sabe que terá. As construtoras tentam mapear essas tendências e incluir ferramentas nos seus lançamentos para atender ao desejo futuro do seu cliente. Tudo isso para valorizar um empreendimento e mantê-lo interessante daqui uma década.

Isso acontece porque as fases para a construção de um empreendimento demandam estudos, análises e, claro, tempo. Por exemplo: para um projeto pensado hoje, seriam necessários, em média, três meses para encontrar um terreno e analisar a viabilidade de se construir no local três meses para a com p do terreno; cerca de um ano e meio para a aprovação da planta na prefeitura e o início das obras, e três anos para a construção e entrega das chaves. Assim, já se foram cinco anos. Como um imóvel é considerado novo com até cinco anos de uso, os projetos devem considerar 10 anos à frente.

Prever o futuro faz parte das novações no mercado imobiliário, mas é um grande desafio. Em 10 anos, a economia muda, a política muda, a tecnologia muda, as pessoas mudam. Os imóveis compactos e funcionais, que hoje fazem tanto sucesso com o novo perfil das famílias, foram pensados em uma época em que a sociedade ainda buscava apartamentos maiores, fora dos grandes centros. Para os próximos 10 anos, essa tendência deverá ser mantida e a preocupação com a mobilidade estará ainda mais presente na parte inicial do projeto, ou seja, na escolha do terreno. Além disso, em uma década, a tendência é termos um mercado ainda mais maduro, com imóveis valorizados voltados, principalmente, para o comprador final, sem especulação e sem bolha no mercado. A manutenção de financiamentos mais longos e o acesso facilitado ao crédito devem colaborar, também, para esse cenário positivo.

Para diminuir esse prazo e acelerar o crescimento da construção civil, seria necessário diminuir as amarras burocráticas, que são os principais impedimentos para um avanço ainda maior do setor. Uma maior agilidade no processo de aprovação da obra e documentos mais simples e unificados poderia reduzir essa necessidade de previsão em pelo menos, um ano e meio. Além disso, uma maior parceria com os governos e investimentos públicos que andassem com a velocidade do mercado imobiliário, além de planos diretores de longo prazo e com ajustes periódicos para que as cidades tenham um direcionamento, diminuiriam as amarras do setor, proporcionando agilidade ao segmento e às negociações.

*Fábio Rossi é sócio da Itaplan Imóveis e membro da diretoria do Secovi-SP

Origem: O Estado de S. Paulo - Coluna da Fiabci/Brasil, 25/03/2014

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