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’Efeito UPP’ na valorização de imóveis chega a 15%

Estudo identifica impacto que programa de pacificação tem sobre mercado imobiliário

Queda na taxa de homicídios também contribui para o crescimento dos valores

RENATA LEITE

Que os imóveis no Rio estão sofrendo uma disparada nos preços, não é novidade. Mas dois pesquisadores decidiram lançar um novo olhar sobre as cifras e isolar o “efeito UPP” por trás dessa escalada. Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, que está elaborando o estudo ao lado do americano Benjamin Mandel, apresentou parte dos resultados já obtidos nesta segunda-feira, no seminário “Cidadania e segurança — Os resultados e futuro da política de pacificação do Rio de Janeiro”, organizado pela Fundação Getulio Vargas. Os especialistas apontam que 15% de todo o crescimento verificado no preço médio dos imóveis da cidade, desde 2008, estão relacionados à instalação de UPPs e, consequentemente, à redução dos índices de criminalidade nas áreas.

— Calculamos que a queda de 10% na taxa de homicídios numa área resulta, em média, no aumento de 1,8% no preço do imóveis — revela Mandel.

No Vidigal, segundo o mapeamento, 26,75% do aumento dos preços dos imóveis num raio de um quilômetro são resultado da pacificação. Já no quilômetro seguinte, essa influência cai para 3,09%.

— Tomando o valor dos imóveis como medida da riqueza das famílias, a política de segurança funcionou como um poderoso instrumento de redução da concentração de riqueza — ressaltou Frischtak na apresentação.

Pesquisa de 2007 a 2011

Os especialistas apontam o vínculo entre a política de segurança e a dinâmica dos preços dos imóveis de janeiro de 2007 a agosto de 2011. Eles levaram em conta os dados de cada uma das áreas sob influência das 18 UPPs que entraram em operação a partir de dezembro de 2008. A pacificação do Dona Marta levou a uma valorização de 10,9% nos valores das propriedades em Botafogo e Humaitá. Já a instalação de UPPs nos morros de São Carlos, Coroa, Fallet e Fogueteiro elevou em 19,5% o preço das habitações no Estácio. A pacificação do Morro do Andaraí resultou na valorização de 17% nos imóveis do bairro e do Grajaú.

Os especialistas ressaltam que outras variáveis, como queda na taxa de juros, ampliação do crédito e elevação dos níveis de renda, também impulsionaram o aumento no valor dos imóveis. Para isolar o efeito da pacificação, eles compararam o incremento nos preços das propriedades nos bairros localizados no entorno das UPPs com o aumento no restante da cidade. Também relacionaram os índices de queda de criminalidade com essa variação no valor das habitações.

Refém da Política

Autor: MALU GASPAR

O governo impede que a Petrobras siga as leis do mercado — e ela se afunda em sua pior crise

A Petrobras viveu na semana passada alguns dos piores momentos de sua história. Em um único dia, 24 bilhões de reais evaporaram no maior tombo de suas ações na bolsa desde o fatídico ano de 2008, quando todo o mercado apanhou com a crise financeira mundial. O valor da empresa encolheu 10%. Tamanha queda não foi fruto de mau humor episódico dos investidores nem de um ataque especulativo. Na verdade, foi um sinal claro e contundente de que os acionistas, que há três anos despejaram 70 bilhões de dólares no caixa da companhia para que ela se lançasse à exploração do pré-sal, se cansaram de ser sócios do governo. O principal ponto de atrito é uma conta que não fecha e ceifa a autonomia e a saúde financeira da Petrobras: ela compra combustível no exterior a um preço mais alto do que vende no Brasil, um péssimo negócio que escapa à lógica de mercado. A razão é política. O governo controla com mão de ferro o preço do combustível para segurar a inflação, artifício que sabidamente não funciona a longo prazo e tem um preço alto. Daqueles 70 bilhões de dólares depositados na Petrobras, 17 bilhões já escoaram pelo ralo.

O que detonou o turbilhão foi um comunicado oficial da empresa em que se informa que, apesar de ter autorizado um aumento de 4% no preço da gasolina e de 8% no do diesel, o conselho de administração decidira manter secreta a fórmula que baseia os reajustes. Lançou-se assim uma sombra sobre quantos aumentos haverá e como serão escalonados, desencadeando um clima de incerteza. Houve quem desconfiasse até mesmo da existência de uma fórmula para o reajuste. A nota oficial fazia apenas um vago aceno sobre a crise financeira em que a Petrobras. já no limite do endividamento, está enredada: a situação vai melhorar, garantia o documento — mas em até dois anos.

Se soubessem quão custoso foi pôr um ponto final no texto, os investidores ficariam ainda mais perplexos. Fechados por seis horas em uma sala da companhia, em São Paulo, os dez conselheiros disseram asperezas, gritaram uns com os outros e até trocaram acusações de má-fé com o dedo em riste. De um lado, o grupo do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que não queria aumento nenhum: de outro, a diretoria da empresa, não só favorável a uma fórmula para subir os preços como à sua ampla divulgação. Preocupados com a ameaça de acionistas minoritários de processá-los por gestão temerária, os executivos haviam aprovado em reunião prévia um documento prevendo um cálculo para o aumento que ponderasse, a cada três meses, a variação do dólar e a cotação do petróleo. Irritado com a pressão. Mantega bateu pé, dizendo que o mecanismo indexaria a economia ao dólar e geraria ainda mais inflação. Quando finalmente o embate acabou, ninguém saiu feliz e nada ficou suficientemente claro.

Nos últimos dias, a presidente da empresa, Graça Foster, garantiu a interlocutores que o governo liberará o aumento dos combustíveis até que alcancem valores de mercado. Ela também tem dito que o crescimento da produção será decisivo para aumentar o caixa. A previsão é que dobre até 2020. O problema é que atingir essa meta requer um investimento pesado — 25 bilhões de dólares só em 2014, capital difícil de obter nos tempos atuais. A Petrobras está prestes a perder o grau de investimento, um atestado de saúde financeira que permite captar dinheiro mais barato no mercado. Se não quiser endividar-se ainda mais, a companhia terá de cortar investimentos ou justamente cessar o subsídio aos combustíveis, o que provoca calafrios em ano eleitoral. Uma das figuras mais queridas da presidente Dilma Rousseff, Graça Foster consumiu boa parte de seu cacife na briga pelo reajuste. Embora tivesse o aval de Dilma, ela anunciou o aumento sem consultar Mantega, que foi queixar-se à presidente Dilma, então deu um selo em Graça. As duas viriam a se reencontrar no ato de assinatura do contrato de concessão do campo de Libra, na semana passada. Acalmados os ânimos, aguarda-se ainda uma solução de bom-senso. Do contrário, quem vai pagar a conta são os brasileiros.

Defesa aberta

Autor: FERNANDO MELLO

A seis meses do início da Copa, a lentidão dos investimentos em segurança e o risco de ataques cibernéticos preocupam mais que os estádios e aeroportos

A tabela da Copa do Mundo já está definida. Os estádios, se não ocorrerem outros acidentes como o do Itaquerão, devem ser entregues a tempo. Até a seleção brasileira, que já causou tanta desconfiança, ganhou a Copa das Confederações e é uma das favoritas, jogando em casa. Mas há ainda um motivo de preocupação para os organizadores: a segurança. Em um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), obtido com exclusividade por VEJA, o governo admite a precariedade de seu sistema de proteção da informação. Mais grave: afirma que o risco de ataques cibernéticos na Copa e na Olimpíada é real. Não é só a defesa digital que preocupa. Os investimentos em segurança pública também patinam. Menos de um quarto da verba prevista no orçamento do evento foi utilizado até agora. Ainda é preciso comprar equipamentos e treinar as tropas das polícias e das Forças Armadas para utilizá-los.

No mês passado, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, teve reuniões com a equipe responsável pela segurança da Copa para discutir a auditoria 201305660/033, concluída pela CGU em 24 de outubro. No documento de 105 páginas, os auditores apontam a inexistência de planejamento, a falta de avaliação de risco e o fato de a gestão da área de tecnologia do ministério ser feita por funcionários terceirizados. Para os auditores, há o perigo real de surgir um Edward Snowden brasileiro, numa referência ao funcionário da agência de segurança dos Estados Unidos que repassou dados confidenciais a outros países. O problema se agrava porque passam pelos computadores do Ministério do Esporte informações sigilosas e estratégicas de outros órgãos do governo, todas elas pouco protegidas e vulneráveis a invasores. Um ataque virtual a esses servidores não comprometeria apenas as informações da Copa. Poderia afetar programas fundamentais de outros órgãos, como a lista de pacientes do SUS e de beneficiários do Bolsa Família, ou os bancos de dados da Receita Federal, por exemplo. Daí a preocupação extrema dos auditores.

Os riscos envolvendo programas eletrônicos em eventos como uma Copa são tratados como prioridade internacional. Sistemas de segurança são considerados alvos para ciberterroristas. De acordo com o britânico Andrew Amery, chefe da segurança da Olimpíada de Londres, no ano passado, os riscos de terrorismo eletrônico só são evitados com prevenção e antecipação de ataques, ações que o Brasil não tem feito a contento. O relatório da CGU ainda tem críticas sobre desperdício de verbas e suspeitas de fraudes. Em um caso, a controladoria revela que o ministério assinou um contrato para o pagamento de 355000 reais para organizar um seminário sobre oportunidades econômicas ligadas às competições. Ocorre que o evento está previsto para 16 de julho de 2014, três dias depois da final da Copa.

Nas reuniões da semana passada na Costa do Sauípe, a Fifa explicitou a preocupação com a segurança, ainda mais com a possibilidade da volta das grandes manifestações durante a Copa. Com razão. Além dos problemas com a proteção cibernética, os investimentos na segurança pública patinam. De acordo com o Portal da Transparência da Copa, a previsão de gastos é de 1,9 bilhão de reais. Mas apenas 422 milhões de reais foram contratados, o que representa 23% do orçamento. O valor pago até agora totaliza apenas 263 milhões de reais,14% do previsto. Só houve investimento do governo federal. Cada uma das doze sedes deveria instalar centrais de comando e câmeras de monitoramento em áreas próximas aos estádios. Mas nada saiu do papel. Neymar e companhia podem dar conta do ataque da seleção. Mas a defesa brasileira, fora de campo, ainda é uma peneira.

Inclusão no Minha Casa, Minha Vida é remédio anticrise

Daniel Carmona

Com uma fatia de 36°I do mercado de painéis de madeira, estimado emR$6,4bilhões, eoutros50°1 do segmento de pisos laminados, de vendas totais na casa de R$ 300 milhões, a liderança de mercado protagonizada pela Duratex deve ser traduzida em novas oportunidades para seguir crescendo. E, se possível, acimadamédia. Essaéamaneira como Alexandre Coelho, responsável pela área comercial da unidadede madeiras da empresa, enfrenta a concorrência — Berneck, Arauco e Masisa são algumas — e busca aproveitar os bons ventos da construção civil para driblar o cenário macroeconômico de volatilidade.

“Não foi um ano fácil. Nós sentimos o enfraquecimento da atividade econômica como um todo, mas ainda assim devemos fechar com um pequeno crescimento de volume capaz de nos ajudar a consolidar um bom resultado”, resume o executivo. A estratégia diversifica da entre a base da pirâmide de negócios, que representa maior volume, embora com menores margens, e o topo, com novos produtos voltados à classe A, justifica a expectativa de um bom fechamento em 2013. Enquanto o mercado deve repetir a média de l0% de crescimento de vendas, o mesmo registrado em 2012, a divisão de madeiras da Duratex considera uma expansão entre 11 e 12%.

No início do ano, Coelho incorporou ao portfólio da Durafloor, marca de pisos da Duratex que completou 15 anos, a primeira linha de pisos vinilicos, embarcando em uma tendência global que começava a chegar ao Brasil. Importados da China e com elevado valor agregado (os produtos entram na categoria luxo), os pisos desenvolvidos a partir de PVC também representaram urna quebra de paradigma da Durafloor, então restrita aos laminados.

Mais tarde, em meados de junho, a disposição do governo na certificação de algumas linhas pisos laminados para serem integrados ao programa Minha Casa, Minha Vida renovou o fôlego da Durafloor na base da cadeia. “Nós já tivemos um aumento de volume na casa de 10% nos últimos três meses justamente por conta da flexibilização de crédito para essas novas linhas de acabamento”, avalia. A expectativa, no entanto, é que a nova demanda ligada ao programa público de crédito habitacional provoque um impacto mais claro na cadeia no próximo ano. “A imagem que se tinha do piso laminado era de um produto elitizado e caro. Há seis meses mostramos que havia competitividade para atuar nesse mercado e quebramos paradigmas”, acrescenta Coelho.

Buscar novos mercados no Norte e Nordeste também está na lista de tarefas da divisão de madeiras da Duratex como um dos caminhos para ampliar o faturamento da companhia. Hoje, 7 da receita da empresa, que registrou R$ 3,394 bilhões no ano passado, vêm da divisão de Coelho. “O Norte e Nordeste são as regiões que ainda estamos mais embrionários.O desafio é traduzir isso em oportunidade”, finaliza.

“C” de conquistas, mas não da casa própria

Embora considerada classe A ou B, na maioria dos critérios de classificação econômica dos lares brasileiros, a família Vieira — cuja história o EXTRA vem contando numa série de reportagens ao longo desta semana — ainda precisa conquistar o grande sonho da classe C: a casa própria. Hoje, a professora Jus sara, de 47 anos, o coordenador de segurança Antônio, de 45, e o filho João Gabriel, de 11, moram de aluguel numa casa dedois quartos na Pavuna, Zona Norte do Rio, pagando R$ 500 por mês. Mas fazem planos de financiar um imóvel.

— Vimos um apartamento, mas a Caixa só financia 80% do valor. Isso dificulta. Além disso, os preços dos imóveis estãosurreais —diz Jussara. Para Leonardo Schneider, vice-presidente do Sindicato de Habitação do Rio (Secovi Rio), a classe média vem conquistando a moradia:

—Temos um caminho longo a percorrer, mas já há mais facilidade de acesso à casa própria do que há alguns anos. Enquanto o sonho não se realiza, a família comemora outra conquista: o Palio 1999, financiado em cinco anos, foi quitado em julho passado. Para economizar, Antônio optou pelo Gás Natural Veicular (GNV):

— Instalei o kit por causa do desconto no IPVA e para andarmais e pagar menos.

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