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TCU questiona estudos e deve atrasar ainda mais primeiro leilão de áreas em portos

O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou sérios problemas nos estudos que embasaram a proposta do governo para a nova licitação de arrendamentos em portos brasileiros e impôs 19 condicionantes para a realização do leilão do primeiro bloco, que inclui terminais em Santos (SP) e no estado do Pará. Na prática, as condicionantes devem atrasar ainda mais o lançamento dos editais, anunciados há mais de um ano e previstos para dezembro. Só depois de cumprir as exigências e apresentar as justificativas ao TCU, o governo poderá lançá-los.

Alinhado com a área técnica do tribunal, o voto da ministra Ana Arraes questionou o quanto seriam desafiadoras as metas de aumento da capacidade de movimentação de cargas dos terminais que serão arrendados e apontou “imprecisões que serviram de premissas para a elaboração dos estudos ligados às questões tarifárias”. Entre as 19 condicionantes no acórdão do TCU, está a apresentação de “elementos suficientes à aferição dos quantitativos estimados em projeto”. O TCU pede, ainda, a “apresentação de estudos consistentes para a definição dos parâmetros de desempenho atribuídos a cada terminal”.

Niterói: porto prestes a iniciar operação

O secretário de Fiscalização de Desestatização e Regulação de Transportes do TCU, Davi Ferreira Barreto, disse que, para os próximos três blocos de editais, o governo terá de incluir nas audiências públicas também os estudos de viabilidade, ou seja, colocar essas premissas em discussão. Segundo a Secretaria dos Portos (SEP), “todos os esclarecimentos serão apresentados ao TCU e os editais serão lançados assim que as recomendações forem devidamente atendidas”. Os ministros do TCU avaliarão na próxima segunda-feira, última reunião do ano, o processo de concessão da primeira ferrovia do Programa de Investimento em Logística (PIL). O trecho é o da chamada ferrovia da soja, que vai de Lucas do Rio Verde a Campinorte (MT).

De outro lado, com a decisão do governo de autorizar os primeiros cinco terminais privados após a mudança no marco regulatório do setor, em junho, nos próximos dias começará a operar um novo porto privado no Estado do Rio. O Estaleiro Brasa, em Niterói, é o responsável pelo empreendimento. O gerente executivo do estaleiro, Ivan Fonseca, explicou que foram investidos R$ 60 milhões na modernização da área e na construção do porto, que terá capacidade para movimentar navios de dez mil toneladas. Falta apenas a assinatura do contrato com o Ministério dos Transportes, que ocorrerá amanhã.

O novo porto será utilizado para atividades próprias do estaleiro que está construindo dez módulos para o navio-plataforma Cidade de Ilha Bella, que será instalado em campos no pré-sal da Bacia de Santos. O executivo não descarta, porém, o uso no futuro por terceiros. O Brasa é uma associação entre a empresa holandesa SBM e a Naval Ventures Corp. (Grupo Synergy de Germam Efromovich).

O secretário de Desenvolvimento do Rio, Júlio Bueno, espera que o Rio receba mais investimentos portuários nos próximos meses. Segundo ele, há potencial para que terminais privativos como o da CSA, em Sepetiba, possam movimentar carga de terceiros, assim como o futuro Porto de Maricá, que deve receber investimentos entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões. Segundo Bueno, o porto poderá ter áreas para movimentação de carga própria das empresas e de carga geral. O estudo ambiental deverá ser aprovado em abril.

O especialista em Competitividade Industrial e Investimentos da Firjan, Riley Rodrigues de Oliveira, disse que a autorização para instalação de dois novos terminais de uso privativo para estaleiros no Rio ajuda a impulsionar o setor no Rio. Já a Technip investe R$ 140 milhões em um porto privado no Terminal Flexibras Açu no Porto do Açu, em São João da Barra, que deve estar pronto em março de 2014.

Imóvel comercial apresenta maior retorno

Paulo Vasconcellos

O investimento em imóveis pode não repetir o desempenho excepcional de quatro anos atrás, mas ainda é uma aposta com poucos concorrentes tão positivos e, mais do que tudo, seguros.

Nos últimos quatro anos a valorização foi de 150%, em média, nas grandes cidades brasileiras. Este ano deve chegar a 5% acima da inflação porque a demanda continua aquecida. Imóveis comerciais, que têm retorno do aluguel melhor do que o residencial, na proporção de 0,7% a 1% do valor do imóvel comparados a 0,5% do residencial, estão no foco dos investidores. Unidades menores têm rendimento melhor, mas a tendência, de acordo com especialistas, é de um crescimento da curva de valorização dos escritórios maiores.

Imóvel não é uma opção para pequenos investidores, mas até o acesso ao mercado se tornou mais democrático por causa da expansão do crédito imobiliário. A aposta em fundos imobiliários performados é uma alternativa para quem quer aplicar dinheiro no setor, mas não tem o suficiente para comprar um apartamento ou escritórios. “O investidor com dinheiro na mão tem agora uma grande oportunidade. Como tem muito prédio sendo produzido e as construtoras precisam se capitalizar é possível negociar um preço menor e garantir maior rentabilidade. Quem comprar ativo com preço mais baixo terá um ganho maior quando o prédio estiver pronto e o ritmo da vacância talvez em declínio”, diz Edson Ferrari, diretor de investimento da CBRE, a maior empresa de consultoria imobiliária do mundo com 425 escritórios em 58 países.

“Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte já estão num patamar alto, mas ainda existem nichos com potencial de valorização. É o caso do Espírito Santo e de Curitiba, onde ainda se encontra imóvel barato”, afirma Leonardo Schneider, vice-presidente do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi-RJ).

No Rio, regiões antes esquecidas voltaram a atrair investimentos. Só na zona norte foram lançadas até outubro 4.632 unidades em 15 bairros. Em Campo Grande, na zona oeste, o metro quadrado teve alta de 127% entre 2009 e 2013. Em São Paulo, bairros como Itaquera começam a atrair investimentos porque são as novas fronteiras de crescimento da cidade. É o que acontece também em Brasília. A descentralização administrativa do Governo do Distrito Federal valoriza a região de Taguatinga, Ceilândia e Samambaia.

Nos últimos anos houve uma evolução grande de projetos também nos imóveis comerciais. Quem comprou na planta há dois, três anos, agora começa a ter retorno com a disputa de espaço entre as empresas. Para o investidor em pequenos conjuntos de escritório o momento é de realizar lucros. A hora, dizem os especialistas, é de apostar nos escritórios corporativos maiores, em lajes acima de 500 metros quadrados. Hoje, a taxa de vacância neste segmento chega a 10%, em São Paulo, e a 8%, no Rio. “O investidor que entrar neste mercado agora vai ter mais facilidade de preços e boa chance de liquidez no futuro. Este ano deveremos bater o recorde em absorção bruta, que é a quantidade de movimentação de locação dos inquilinos, e superar o volume de 750 mil metros quadrados de área locável do ano passado”, diz Ferrari.

Investidores que querem entrar neste mercado têm que estar atentos a um detalhe importante: o ciclo de investimento no mercado imobiliário é longo. “Investimento em imóvel é mais seguro, mais conservador e mais a longo prazo. Tem menor liquidez a curto prazo por causa das despesas com a compra, mas depois tem valorização”, diz Leonardo Schneider, do Secovi-RJ.

Para prefeitura, região de Guaratiba precisa de legislação

Eduardo Paes diz que estudo do IAB sobre a região servirá de base para discussão

O prefeito Eduardo Paes afirmou nesta segunda-feira que, antes de investir em um bairro popular no terreno onde foi erguido o Campus Fidei, em Guaratiba, ainda é necessário elaborar uma legislação que regule o crescimento da região. Há cerca de 20 dias, o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) enviou à prefeitura um relatório no qual afirma que o lugar é impróprio para construções por ser alagadiço.

— Não há divergência alguma. A gente tem um loteamento aprovado há mais de 20 anos pelo Inea e pela prefeitura. Mas, em vez de tomar uma decisão unilateral, consultamos o IAB, que emitiu uma opinião que coincide muito com a nossa. É preciso fazer uma legislação para a região. E essa é uma discussão que será aprofundada a partir também desse parecer — afirmou Paes.

O Campus Fidei seria palco do ápice da Jornada Mundial da Juventude, em julho: uma missa celebrada pelo Papa Francisco. Mas esta foi transferida porque o campo alagou. De acordo com análise feita por arquitetos durante os meses de agosto, setembro e outubro, a região não comportaria, a princípio, um bairro popular, porque necessita de projetos de infraestrutura. Além disso, segundo o presidente do IAB, Pedro da Luz, o local ainda não tem um Plano Geral Urbanístico Ambiental.

“Efeito UPP” sobre imóveis chega a 15%

Estudo identifica impacto que programa de pacificação tem sobre mercado imobiliário

Queda na taxa de homicídios também contribui para o crescimento dos valores

RENATA LEITE

Que os imóveis no Rio estão sofrendo uma disparada nos preços, não é novidade. Mas dois pesquisadores decidiram lançar um novo olhar sobre as cifras e isolar o “efeito UPP” por trás dessa escalada. Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, que está elaborando o estudo ao lado do americano Benjamin Mandel, apresentou parte dos resultados já obtidos nesta segunda-feira, no seminário “Cidadania e segurança — Os resultados e futuro da política de pacificação do Rio de Janeiro”, organizado pela Fundação Getulio Vargas. Os especialistas apontam que 15% de todo o crescimento verificado no preço médio dos imóveis da cidade, desde 2008, estão relacionados à instalação de UPPs e, consequentemente, à redução dos índices de criminalidade nas áreas.

— Calculamos que a queda de 10% na taxa de homicídios numa área resulta, em média, no aumento de 1,8% no preço do imóveis — revela Mandel.

No Vidigal, segundo o mapeamento, 26,75% do aumento dos preços dos imóveis num raio de um quilômetro são resultado da pacificação. Já no quilômetro seguinte, essa influência cai para 3,09%.

— Tomando o valor dos imóveis como medida da riqueza das famílias, a política de segurança funcionou como um poderoso instrumento de redução da concentração de riqueza — ressaltou Frischtak na apresentação.

Pesquisa de 2007 a 2011

Os especialistas apontam o vínculo entre a política de segurança e a dinâmica dos preços dos imóveis de janeiro de 2007 a agosto de 2011. Eles levaram em conta os dados de cada uma das áreas sob influência das 18 UPPs que entraram em operação a partir de dezembro de 2008. A pacificação do Dona Marta levou a uma valorização de 10,9% nos valores das propriedades em Botafogo e Humaitá. Já a instalação de UPPs nos morros de São Carlos, Coroa, Fallet e Fogueteiro elevou em 19,5% o preço das habitações no Estácio. A pacificação do Morro do Andaraí resultou na valorização de 17% nos imóveis do bairro e do Grajaú.

Os especialistas ressaltam que outras variáveis, como queda na taxa de juros, ampliação do crédito e elevação dos níveis de renda, também impulsionaram o aumento no valor dos imóveis. Para isolar o efeito da pacificação, eles compararam o incremento nos preços das propriedades nos bairros localizados no entorno das UPPs com o aumento no restante da cidade. Também relacionaram os índices de queda de criminalidade com essa variação no valor das habitações.

Construções proibidas em Niterói

Justiça suspende a aprovação dos empreendimentos imobiliários, com mais de seis pavimentos, no bairro de Santa

IGOR MELLO

A Justiça proibiu ontem, em liminar concedida ao Ministério Público (MP-RJ), que a Prefeitura de Niterói autorize a construção de edifícios com mais de seis andares em Santa Rosa, na Zona Sul da cidade. A Câmara dos Vereadores também fica obrigada a revisar o Plano Urbanístico Regional das Praias da Baía (PURIPB), que rege às regras de ocupação da região. Em caso de descumprimento da decisão foi estabelecida multa diária de R$ 500 mil.

A Ação Civil Pública foi proposta pela Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural de Niterói, após o pelo Centro Comunitário da Orla da Baía de Niterói (CCOB) encaminhar ao órgão um abaixo-assinado com mais de mil assinaturas, pedindo uma investigação sobre os impactos da especulação imobiliária na região e um alerta para a aprovação de grandes prédios. De acordo com o MP-RJ, a decisão vale tanto para empreendimentos residenciais, quanto comerciais.

Técnicos do Ministério Público foram enviados pelos promotores para vistoriar os empreendimentos no bairro e constataram grande número de espigões em construção. Apenas no trecho entre as ruas Mário Viana e Vereador Duque Estrada foram encontrados seis edifícios em construção.

A ACP foi proposta após o MP receber uma representação e um abaixo-assinado contendo 1.009 assinaturas encaminhadas pelo Centro Comunitário da Orla da Baía de Niterói (CCOB). Foi solicitada uma investigação para apurar a especulação imobiliária, com um alerta para a forma indiscriminada de aprovação pelo município dos pedidos de licença para a construção de prédios de grande porte. A prática provocaria danos ao meio ambiente urbano e à qualidade de vida da população.

O processo também menciona a opinião do professor Affonso Accorsi, da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFF), que expôs a necessidade da revisão do plano urbanístico. Segundo ele, enquanto não se faz considera o adensamento urbano, com melhoria da infraestrutura urbana há, inegavelmente, prejuízo à qualidade de vida da população atingida.

De acordo com Jean Pierre Biot, presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário de Niterói (Ademi-Niterói), a demora para revisar os planos urbanísticos da cidade prejudica muito a atuação do setor:

‘Nossa posição é uma só: precisamos que a Prefeitura faça uma revisão dos planos urbanísticos da cidade. Nós estamos em uma insegurança jurídica muito grande”, afirma Biot.

Em nota, a Prefeitura de Niterói diz já ter sido notificada da decisão e promete cumpri-la. O governo diz que a “Procuradoria está analisando os termos da de cisão para adotar as medidas legais cabíveis”.

A ação conclui que “o planejamento foi ineficiente e equivocado ou não mais se encontra compatível com a realidade, situação que até mesmo confirma a necessidade de revisão”. Ainda segundo o documento, o MP requer a nulidade dos atos praticados até o ajuizamento desta ação, enquanto não for promovida a revisão do PURIPB, que deverá observar todas as formalidades legais, inclusive participação expressa da população e do Conselho Municipal de Política Urbana (Compur).