Banco só emprestou metade dos R$ 2 bi prometidos para construção e reformas de empreendimentos até a Copa
Resultado foi positivo, diz instituição; setor reclama de burocracia para obter crédito com juros mais baixos
PEDRO SOARES
A seis meses da Copa, o BNDES emprestou apenas metade de uma linha de crédito com juros especiais lançada em 2010 para financiar a construção e reforma de hotéis a serem concluídos até o início da competição.
O banco dispõe de R$ 2 bilhões para fomentar o setor por meio do programa ProCopa Turismo, mas, até agora, fechou contratos de financiamento de R$ 1,048 bilhão.
Inicialmente, o valor era de R$ 1 bilhão, mas a cifra foi ampliada para R$ 2 bilhões em 2012. O programa resultou no lançamento ou na modernização de apenas 18 hotéis –dos quais dez estão localizados no Rio.
O projeto mais polêmico é de reforma de tradicional hotel Glória, no Rio, comprado por Eike Batista. Com reabertura prevista originalmente para o próximo ano, tinha um projeto ambicioso de modernização e previa um hotel de altíssimo padrão.
Mas, como outras apostas de Eike, naufragou e as obras estão paralisadas à espera de um comprador. O grupo EBX obteve empréstimo de R$ 200 milhões do BNDES, mas a maior parte do valor não foi liberada diante da interrupção da reforma –o EBX recebeu R$ 50 milhões.
Apesar de metade dos recursos da linha de crédito não ter sido contratada, o BNDES diz que o resultado do programa é positivo e gerou “uma mudança de patamar no relacionamento” entre o banco e o setor hoteleiro.
Nos cinco anos anteriores ao lançamento do ProCopa Turismo, o BNDES fez apenas quatro operações de financiamento a hotéis, por meios de suas linhas tradicionais, de R$ 41 milhões. O banco diz ainda que existem R$ 687,2 milhões em pedidos de crédito sob análise.
ACESSO DIFÍCIL
O setor, porém, reclama da dificuldade de acesso à linha especial de crédito –que, segundo o BNDES, oferece prazos de pagamento mais extensos e juros mais baixos aos empreendimentos que conseguirem obter certificados de eficiência energética ou sustentabilidade ambiental.
De acordo com Alfredo Lopes, presidente da ABIH-RJ (associação do setor), há “muita burocracia”, como a exigência de garantias bancárias para os financiamentos, além da “farta” documentação exigida.
“Quando conseguimos reunir tudo isso, o hotel já está pronto”, afirma Lopes.
Para os contratos de maior valor, o BNDES empresta diretamente os recursos, mas, em geral, exige fiança bancária para diminuir seu risco de inadimplência –como aconteceu no caso do Glória.
Já os financiamentos menores são repassados por bancos privados.
Segundo o banco de fomente, os 18 projetos, considerando a contrapartida dos empreendedores privados (a instituição não financia 100% do empreendimento), correspondem a um investimento total de R$ 1,8 bilhão.