Prefeitura, no entanto, promete entregar instalações a tempo
Renata Leite
RIO – Nem uma betoneira, nem um saco de areia. O Complexo Esportivo de Deodoro continua apenas como uma promessa, ou melhor, um compromisso olímpico. Apesar do sinal amarelo aceso, a prefeitura garante que conseguirá entregar o empreendimento até março de 2016, a quatro meses do início dos Jogos. Antes responsabilidade do governo do estado, a missão de erguer os equipamentos que receberão 11 modalidades olímpicas e quatro paralímpicas foi assumida pelo município, que agora corre contra o tempo. Pronto, só o projeto conceitual. O projeto básico — imprescindível para a licitação das obras — só deve ser concluído em março do ano que vem. Enquanto isso, a contagem regressiva para o evento continua e marca, hoje, 975 dias.
O complexo, que reunirá provas de canoagem slalom, rúgbi, ciclismo, hipismo e tiro, entre outros esportes, ocupará um terreno de dez mil hectares — o que corresponde a dez mil campos de futebol — de área militar. O investimento, que pode ultrapassar R$ 1 bilhão, segundo cálculos do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), será desembolsado pelo governo federal. O valor estimado no dossiê de candidatura era de menos da metade disso, R$ 454.303.010,73. A prefeitura, no entanto, só apresentará o orçamento após a conclusão do projeto básico.
Em julho, o Tribunal de Contas da União relatou, após realizar uma auditoria no empreendimento, a preocupação com um aumento ainda maior nos custos da obra, por conta dos atrasos que, na época, segundo o órgão, já chegavam a 15 meses. “Quanto ao atraso identificado nas atividades de implantação do Complexo Esportivo de Deodoro, entendo que os seus riscos potenciais são deveras danosos à administração, podendo levar a práticas emergenciais que resultam em majoração dos gastos públicos, a fim de concluir as obras no prazo necessário”, diz um dos relatores no documento.
— Sempre que você deixa as coisas para um tempo mais apertado, acaba aumentando os custos. Compete ao TCU cobrar de quem não cumpriu os prazos — disse o prefeito Eduardo Paes, que culpou a indefinição de responsabilidades pelos atrasos. — Esse era um projeto do governo federal, que foi passado para o governo do estado e terminou com a prefeitura. Mas a gente já recuperou o tempo perdido. O Comitê Olímpico Internacional ficou muito tranquilo com o que viu nas últimas visitas.
O governo do estado, por sua vez, nega atrasos no cronograma. Por meio de nota, informou que assinou convênio com o governo federal, em dezembro de 2012, e iniciou em março deste ano a concorrência para a escolha do consórcio hoje responsável pela elaboração dos projetos. A empresa vencedora foi anunciada em agosto.
Responsável por colocar o projeto grandioso de pé, a presidente da Empresa Olímpica Municipal, Maria Silvia Bastos Marques, diz que a decisão de passar a responsabilidade pelas obras para a prefeitura foi correta, em virtude da experiência acumulada pelo município durante as obras do Parque Olímpico da Barra.
— O Parque Olímpico é bem mais complexo do que o Complexo de Deodoro. Na Barra, as instalações saíram do zero. Tivemos que demolir o autódromo, retirar tudo, fazer infraestrutura, todas aquelas instalações. Tivemos uma longa trajetória de aprendizado e com isso estamos conseguindo acelerar muito (o processo) — disse Maria Silvia, reconhecendo, no entanto, o cronograma justo. — É um desafio, mas não é uma missão impossível.
Estruturas do Pan serão aproveitadas
Algumas estruturas que foram erguidas na área militar para receber os Jogos Pan-Americanos de 2007 serão aproveitadas, mas todas precisarão passar por adequações. O centro de tiro esportivo, o centro de hipismo e a piscina de pentatlo moderno estão entre os equipamentos que receberão reformas. Haverá ainda estruturas provisórias, que serão desmontadas após o evento, como o circuito de mountain bike. Entre as novas instalações permanentes que serão construídas, estão a Arena Deodoro, de esgrima e basquete, que, após os Jogos, terá uma arquibancada desmontável retirada; uma pista de ciclismo e o circuito de canoagem slalom, que teve seu tamanho reduzido em 40% para poder ser construído no prazo.
Os dois últimos equipamentos — circuito de canoagem e pista de ciclismo — serão aproveitados, após as Olimpíadas, no Parque Radical. A prefeitura prevê para 2017 o lançamento da área de lazer que ocupará 540 mil metros quadrados, cujo terreno foi cedido pelo Exército. Esse será o segundo maior parque do Rio, atrás apenas do Aterro do Flamengo, com vocação para os esportes radicais.
Outro legado para a região serão os investimentos em saneamento e mobilidade. Está prevista a construção de uma estação de tratamento de esgoto na área, assim como a melhoria da rede coletora do local. Os equipamentos esportivos permanentes que não estiverem abertos à população, por estarem dentro do terreno do Exército, poderão ser usados para treinamentos e campeonatos de alto rendimento.