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Construção ecológica

As construtoras têm cada vez mais se voltado para sustentabilidade em seus empreendimentos. A Even acaba de lançar o RG Personal Residences, no Recreio dos Bandeirantes, que conquistou certificado Aqua.

Entre as iniciativas de qualidade ambiental estão aumento dos vãos para melhor circulação natural; uso de plantas para reduzir o calor dentro do imóvel; além de varandas projetadas para atenuar temperaturas internas.

Também foram utilizadas lâmpadas de alta eficiência energética, sistema de medição de água individualizado, cozinhas inteligentes com espaços para coleta de lixo e sistemas de aproveitamento de água da chuva.

Cortiços do século XIX sobrevivem em meio à modernização do Rio

Crianças brincam no cortiço da Rua Santo Amaro, no Catete Custódio Coimbra / Agência O Globo

 

Sinônimo de simplicidade e de precariedade, moradia tem características únicas, com equipamentos coletivos

Taís Mendes

Enquanto se discutem aspectos modernizantes da vida nas cidades, uma moradia típica da segunda metade do século XIX sobrevive em algumas partes do Rio, equilibrando-se entre suas próprias dificuldades e a cultura de seus moradores. Os cortiços são sinônimo de simplicidade e de precariedade, pobreza mesmo em muitos casos, mas, por suas características únicas, ajudam a manter uma cultura de solidariedade, com seus equipamentos coletivos e uma proximidade que contrasta com a impessoalidade de outras moradias. Hoje são poucos, mas ainda conservam grande parte das características imortalizadas por Aluísio Azevedo em 1890, no romance “O Cortiço”.

Parte do cortiço que se supõe ter dado origem ao romance ainda está de pé, na Rua Marechal Niemeyer, em Botafogo. Com algumas modificações, o lugar abriga cinco famílias e preserva portas, janelas e um portal de pedra da época. O sobrado principal, onde morava o comerciante português dono do imóvel, hoje abriga um templo da Assembleia de Deus e uma lavanderia. Rosilda Barros Aragão, de 78 anos, há 46 morando num pequeno quarto, nunca ouviu falar dos tempos de outrora, mas lista as vantagens de morar ali hoje.

— Tem tudo perto: mercado, hospital, farmácia. É só atravessar a rua — afirma Rosilda. — A única coisa que sei é que os herdeiros dessas casas moram em Portugal. Mas, mesmo estando aqui há muitos anos, nunca os conheci.

Os quartos foram adaptados. Ganharam um jirau e banheiro. A cozinha é improvisada, na sala mesmo, mas a pia e os tanques ainda são de uso coletivo.

— Quis tombar esse patrimônio, mas o casarão foi considerado feio pelas autoridades — lamenta o arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti.

No casarão da Rua Senador Pompeu, no Centro, são 28 moradores, e a harmonia reina. Não poderia ser diferente: há reuniões regulares e regras estabelecidas, como num condomínio qualquer, tudo supervisionado por uma das herdeiras do patrimônio, Andreia Barros, de 42 anos.

— Existe uma convenção que estabelece multas para quem joga lixo no chão ou faz barulho fora de hora, por exemplo. Sou linha-dura — admite.

O casarão onde Andreia mora há 36 anos pertenceu a sua bisavó e abrigou os soldados da cavalaria do Império. Os banheiros coletivos guardam antigos azulejos portugueses e uma pia de ferro. E a numeração dos quartos ainda é em algarismos romanos.

— Aqui foi filmada uma passagem do filme “Madame Satã”, a cena da briga no banheiro — lembra Andreia, com orgulho.

‘São poucos e querem cobrar caro’

Maria Aparecida Ananias, de 80 anos, conhece bem a realidade desse tipo de moradia. Ela conta que só morou em cortiços desde que chegou ao Rio, ainda adolescente, em 1956.

— Naquela época era fácil encontrar esse tipo de moradia. Hoje é muito difícil. Quando tive que mudar do Flamengo, há mais de 20 anos, já não foi fácil encontrar esse quarto aqui. São poucos e querem cobrar caro — conta Maria Aparecida, que paga R$ 270 por mês pelo pequeno quarto onde mora, sem cozinha e sem banheiro.

Ela mora há 22 anos em um cortiço na Glória, mas sente saudades de quando vivia em um casarão na Rua Correia Dutra, demolido para dar lugar a um prédio residencial.

No casarão de 1859 na Rua Santo Amaro, vivem 48 famílias. Maria Aparecida é uma das moradoras mais antigas. A cozinha, os seis banheiros e os quatro tanques são de uso coletivo.

— Dizem que este casarão era cheio de celas de escravos e que aqui eles eram torturados — diz Maria, que é negra e escolheu o 13 de maio, dia da libertação dos escravos, como data de aniversário. — Meu pai me deu para uma família criar, mas eles não me registraram para não ter que dividir a herança dos filhos legítimos. Aos 17 anos me registrei. Gosto do mês de maio e escolhi o dia 13.

Com a solidariedade dos vizinhos

No cortiço da Rua Santo Amaro também vive o vendedor ambulante Orlando Alves, que ganhou fama nas redes sociais como o “Garçom de Sinal” nos cruzamentos da Glória. Exibindo a bandeja com que serve os clientes nos sinais, Orlando elogia o local, onde mora há um ano:

— Não troco por nenhum apartamento. Aqui, além da tranquilidade, tenho espaço para os meus bichinhos — diz o ambulante, que cria duas cadelas e um coelho no quintal.

Todos afirmam que o convívio com os vizinhos é tranquilo.

— O coelho não pode ver um grupo conversando que se enrosca nas pernas da gente — conta a camareira Janaína Borges, de 45 anos, há dois anos no cortiço.

Ela e Maria Júlia do Vale, de 65 anos, não poupam elogios ao ambiente. Auxiliar de enfermagem, Maria Júlia mora há 30 anos no cortiço. Seus dois filhos nasceram e cresceram ali.

— Além do aluguel barato, aqui não tem solidão. Fora a solidariedade. Se eu sair de casa, deixar roupa na corda e começar a chover, posso ficar sossegada porque sei que os vizinhos vão recolher e guardar para mim — garante.

Visita de Camila Pitanga

No Centro, um casarão na Rua do Lavradio perdeu seu segundo andar em um incêndio, há oito anos. Mas isso não abalou o maestro Rubens Paulo, o Rubinho do Bandolim, que mora ali há dez anos. Entra as boas lembranças, ele cita o dia em que seu quarto recebeu a atriz Camila Pitanga, em gravações da novela “Belíssima”, da Rede Globo, em 2005:

— Ela sentou aqui, na mesa em que passo os dias compondo minhas músicas. São lembranças que vou carregar para sempre.

O historiador Nireu Cavalcanti conta que os precursores dos cortiços, chamados pardieiros, surgiram na época colonial:

— Eram construções com pequenos cômodos para aluguel. Depois começaram a fazer, nos quintais das casas, quartos com banheiros e tanques coletivos. Mas em 1850 começaram as grandes epidemias, e o poder público exigiu melhores condições de moradia. Esse tipo de moradia sobreviveu até a República, quando começou uma campanha para erradicar os cortiços.

Vagas que valem um apê

Pesquisa mostra que garagem faz imóvel custar até 37,8% a mais no Rio
André Coelho / O Globo

Pesquisa mostra que garagem faz imóvel custar até 37,8% a mais no Rio

Raphaela Ribas

Se você acha que gasta muito dinheiro para manter seu carro guardado numa garagem, você está certo. E se comparar o preço de um apartamento que tenha vaga com outro que não tenha vaga, ambos com o mesmo número de quartos, vai descobrir que a diferença pode significar bem mais do que muito dinheiro: pode chegar, simplesmente, ao valor de um ou mais imóveis.

É o que revela levantamento feito pelo Sindicato da Habitação (Secovi-Rio) para o Morar Bem: essa diferença faz com que, por exemplo, um apartamento de três quartos com duas garagens no Leblon compre um apê de um quarto em Ipanema. Ou compre um de quatro quartos na Tijuca. Ou ainda três de três quartos no Méier.

No caso do Leblon, considerou-se o valor médio de R$ 3,2 milhões para o apê com duas vagas e o de R$ 2 milhões para o que não tem garagem. Com o saldo, de R$ 1 milhão, equivalente a 35%, paga-se os imóveis dos exemplos acima. No geral, mostra a pesquisa, toda calculada a partir do custo médio do metro quadrado, a maior diferença entre a valorização de apartamentos por conta de uma vaga de garagem no Rio de Janeiro está em Botafogo (37,8%) e a menor, em Jacarepaguá (3,6%).

Carros que só cabem em duas vagas

Maurício Eiras, coordenador do departamento de pesquisa do Secovi-Rio, responsável pelo levantamento, explica que esta valorização é resultado, basicamente, de dois fatores. Um deles, as muitas construções antigas na Zona Sul, com poucas vagas por morador. Outro, a lei 12.607, sancionada no ano passado, que determina que as vagas de garagem só podem ser alugadas para moradores do prédio — a não ser que a convenção do condomínio permita locação a terceiros.

— Isso dificulta se encontrar vagas — lembra Mesquita, acrescentando que essa falta de garagens interfere muito nas negociações. — Às vezes, a pessoa olha o apartamento de três quartos e pergunta: “só tem uma vaga?”.

O presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Rio (Creci-RJ), Manoel Maia, avalia que a falta de vagas dificulta, mas não chega a impedir uma venda. Entretanto, ele acrescenta um terceiro fator que pesa na disputa por espaço: o tamanho dos carros.

— Antes, os automóveis eram menores e, hoje, há casos em que são necessárias duas vagas para estacionar um carro de grande porte — diz.

Na conta, moradia + transporte

Para Rafael Duarte, sócio-diretor da Percepttiva, agência de marketing imobiliário, a falta de investimentos no transporte público favorece a cultura brasileira de usar carros, o que acaba interferindo no valor dos imóveis.

— Há famílias em que se tem um automóvel para cada motorista, até porque nem sempre é fácil se locomover nas cidades, diferentemente de outros países — diz Duarte, lembrando que, na Europa são comuns imóveis sem garagem terem boa valorização por conta da qualidade do transporte ao redor.

A diferença de preços fez com que a família da publicitária Deborah Melo decidisse procurar um apartamento em Botafogo ou Laranjeiras, sem garagem, ou na Tijuca, com garagem. Para ela, a maior facilidade de transporte nos dois bairros da Zona Sul pode compensar a falta de lugar para estacionar.

— Nestes bairros, há melhor oferta de transportes alternativos e eu gostaria de usar cada vez menos o automóvel. Acho que vale a pena ter carro quando se tem filhos pequenos, que precisam ser levados para a escola, por exemplo, mas, caso contrário, não compensa ter carro em Botafogo — afirma Deborah, ressaltando que, além do preço maior a pagar pelo apartamento, há os gastos com o veículo. — Encarece muito. Dependendo do estilo de vida, pode valer mais ter um imóvel sem garagem e pegar táxi. A conta pode dar menos do que a diferença entre imóveis com e sem vagas.

Onde e quanto custa uma garagem no Rio

Escassez de vagas faz preço do aluguel chegar a até R$ 700 e o de compra, a R$ 150 mil

Mas qual é a saída quando o imóvel que se quer comprar não tem vagas ou elas não são suficientes para o morador? Teoricamente, a solução é o aluguel ou a compra de um espaço. Em tese, apenas. Pois, como a procura é grande e não é possível alugar para terceiros, nem sempre há disponibilidade, especialmente na Zona Sul. E, quando há, segundo o presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Rio (Creci-RJ), Manoel Maia, os valores podem chegar a até R$ 700 — mais que o atual salário mínimo federal (R$ 678).

De acordo com Rafael Duarte, da Percepttiva, agência de marketing imobiliário, o valor de compra e venda de uma vaga de garagem na Zona Sul do Rio pode chegar a R$ 150 mil e, na Zona Oeste, a R$ 60 mil.

— Em bairros como Barra da Tijuca, Freguesia e Jacarepaguá ainda é mais forte essa necessidade de imóveis com duas ou três vagas, pois as opções de serviços são distantes e não há muita oferta de transporte alternativo — avalia Duarte.

O presidente do Creci, por sua vez, aponta Copacabana, Ipanema e Leblon como os bairros onde há maior dificuldade em se encontrar vagas.

— Em Copacabana, a maior procura para alugar acontece entre os postos 4 e 5, no trecho que vai da Avenida Nossa Senhora de Copacabana até a Avenida Atlântica. Já em Ipanema, seria mais próximo à Visconde de Pirajá e, no Leblon, nas adjacências da Ataulfo de Paiva — resume Maia.

Segundo Maia, em Copacabana há um contrapeso sobre a demanda por garagens, pois, se, de um lado, há muita procura e prédios antigos sem vagas, do outro, há idosos que dispensam veículos e moradores que não usam carros e se viram com o transporte local, seja metrô, táxi ou ônibus.

Entretanto, mesmo assim, nesta matemática, ainda há mais procura do que vagas, o que encarece o preço

É o que acontece, por exemplo, em um apart-hotel no Leblon, próximo à Avenida Ataulfo de Paiva. O local terceirizou a garagem para a empresa Estacenter, que usa o espaço para estacionamento rotativo, mensal e para os hóspedes.

As vagas mensais para carros pequenos saem a R$ 500 e, para veículos de grande porte, a R$ 600. Caro? Pode ser, mas, ao menos, nesta garagem, as vagas mensais estão lotadas e a procura por diárias é constante.

— Antes, tinha mais procura pelo aluguel de vagas diárias, agora, a procura maior é pelo contrato mensal — conta Wilson Rivadavia, supervisor do estacionamento.

 

Mercado imobiliário do Rio de Janeiro – RJZ/Cyrela

O maior

A RJZ Cyrela faz amanhã seu maior lançamento do ano. Beira R$ 397 milhões o valor vendas do Ocean, residencial no Pontal Oceânico (Recreio). O empreendimento terá 665 apartamentos de dois e três quartos, coberturas dúplex e imóveis térreos com gramado. Nos Jogos 2016, o condomínio abrigará a Vila de Mídia.

Utilização de casarões é motivo de debate em Santa Teresa

Mansão na rua Hermenegildo de Barros, que pode ser vista até do Aterro do Flamengo, e pertence à Universidade Santa Úrsula Ana Branco / Agência O Globo

Um lado defende uso comercial; outro quer mais residências

Rafael Galdo

Na Rua Almirante Alexandrino, o palacete fechado há anos tem seu charme ofuscado por paredes descascando, janelas quebradas e a ponta de uma torre ameaçando desabar. No alto da Ladeira de Santa Teresa, uma imponente mansão — avistada até do Aterro do Flamengo — está em ruínas e sem telhado. Na Rua Paschoal Carlos Magno, a antiga casa do Barão de Mauá já foi escola e centro cultural, mas hoje também é o retrato da decadência. Nos tortuosos caminhos de Santa Teresa, é fácil se deparar com casarões históricos subutilizados, malconservados ou abandonados. Situação que agora os põe no centro de uma polêmica entre moradores e empresários. No bairro, há consenso sobre a necessidade de recuperá-los. Mas o debate em relação aos usos que esses imóveis poderiam receber tem posto diferentes grupos em lados opostos.

Uma corrente, liderada pela Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast), sustenta que os casarões deveriam se tornar unidades residenciais multifamiliares. Outra, que inclui empresários do setor de turismo e associações de comunidades do bairro, defende que possam abrigar hotéis, pousadas e estabelecimentos comerciais.

Debate gera abaixo-assinado

Em meio às divergências, um abaixo-assinado, batizado de “Viva Santa Teresa”, firma posição contra os empecilhos à criação de novos negócios no bairro. Já a Amast afirma em seu estatuto que zela “pela manutenção e melhoria da qualidade de vida do bairro, preservando a sua caracterização como zona residencial” e protegendo Santa Teresa do “turismo predatório e da especulação comercial, defendendo a integridade arquitetônica e urbanística do casario”.

Na celeuma, o proprietário do Relais & Châteaux Hotel Santa Teresa, o francês François Delort, é uma das principais vozes favoráveis ao uso dos casarões para atividades como o turismo. Ele reconhece que o bairro tem dificuldades de infraestrutura. Mas acredita que o incentivo a novos investimentos em Santa Teresa possa trazer também melhorias urbanas.

— O falso pretexto da preservação tem sido usado contra a preservação de Santa Teresa. Impedir o pequeno comércio é matar o residencial do bairro — afirma Delort.

Já o presidente da Amast, o arquiteto Paulo Saad, diz ser contrário à transformação dos casarões em estabelecimentos comerciais, como pousadas. Ele afirma que a solução seria torná-los habitações coletivas, com o argumento de que outros usos causariam impactos à infraestrutura do bairro.

— Existe uma questão básica do impacto viário, ambiental e de vizinhança. Os empreendimentos de impacto não podem prosperar em Santa Teresa — diz Saad, estimando em até 50 os casarões do bairro subutilizados.