Tatuzão volta a operar em obra da Linha 4 do metrô em até 60 dias

Laudo sobre crateras abertas em Ipanema diz que problema foi causado por quebra de bloco de rocha

Interrompidas desde o último dia 11, as escavações do metrô com o tatuzão só devem ser retomadas em Ipanema num prazo de 45 a 60 dias. Até lá, o Consórcio Linha 4 Sul, responsável pela obra, adotará medidas para compactar o solo, deixando-o nas mesmas condições de antes do aparecimento de duas crateras na Rua Barão da Torre. A informação foi divulgada nesta terça-feira, com a apresentação do laudo sobre as causas do acidente. O documento descartou de vez qualquer comprometimento estrutural dos prédios da rua.

O trecho da Barão da Torre é uma zona de transição entre a rocha pura e a areia, o que exige cuidados adicionais na preparação do solo. Antes da passagem do tatuzão pela área, foram feitas injeções de calda de cimento no solo, a fim de reduzir as diferenças entre os dois tipos de terreno. Com o acidente, novas aplicações de cimento, além de outros materiais, serão necessárias.

Segundo Aluísio Coutinho, engenheiro do consórcio responsável pela obra da Linha 4 do metrô, o acidente foi causado por um “comportamento anômalo”: durante a escavação, um bloco de rocha caiu para dentro da câmara da máquina, afetando blocos vizinhos.

— É como um (efeito) dominó. Ao cair esse primeiro bloco, iniciou-se um processo que se propagou tanto para a direita quanto para a esquerda. Ao se propagar, ele começou a ter contato com areia, que começou nesse momento uma movimentação. Essa movimentação evoluiu verticalmente para a superfície, e o material, a areia, começou a entrar na câmara de escavação da máquina, do tatuzão, como entrou o primeiro bloco a que me referi — explicou o Aluísio.

Laudo: sem risco para prédios

Ele acrescentou que foi feito um estudo prévio no local, comprovando que o efeito foi pontual. O engenheiro afirmou que a probabilidade de o problema voltar a acontecer naquele local é muito baixa. Disse ainda que o tatuzão já escavou 400 metros — seis no trecho em transição. E que falta escavar 20 metros num trecho com solo em área de transição.

A Defesa Civil do município considerou o laudo satisfatório.

— Foi um problema localizado, pontual. Houve esse assentamento, mas ele foi restrito às calçadas — disse o engenheiro, acrescentando que, nos trechos de transição, o tatuzão não opera embaixo dos prédios, só passando pelo eixo da rua, justamente por medida de segurança. As fissuras nos prédios foram estéticas. Não há riscos.

O engenheiro lembrou que, ao perceberem as primeiras movimentações na superfície, técnicos que trabalham 24 horas por dia no monitoramento do solo e dos prédios da região acionaram o plano do contingência. A paralisação da perfuração não interfere nas obras de construção das estações, cujas escavações não dependem do emprego do tatuzão. Aluísio acrescentou que o equipamento terá que escavar numa nova área de transição (só que agora a máquina sairá da areia para a rocha), num trecho no final do Leblon. Ali, no entanto, o risco de problemas é menor.

— O equipamento sairá de um meio mais macio para um mais duro — explicou o engenheiro do Consórcio Linha 4 Sul.

Cronograma será mantido

De manhã, moradores foram informados sobre as causas do acidente numa reunião. No encontro, foi apresentado um vídeo explicando como o problema aconteceu. Romulo Poltronieri, síndico de um dos prédios onde surgiram rachaduras, disse que os moradores ficaram satisfeitos com as explicações:

— Ficou claro que se tratou de um acidente de pequeno porte, que não causou risco aos prédios. Eles alegaram que não poderiam prever o que aconteceu.

Segundo o consórcio, a interrupção das perfurações não compromete o cronograma final das obras de extensão do metrô da Zona Sul até o Jardim Oceânico, na Barra, onde será interligado ao BRT Transoeste, a ser expandido até o local. A previsão é que os trabalhos sejam concluídos no primeiro semestre de 2016, antes dos Jogos Olímpicos.

ENGENHEIRO: HOUVE FALHA

O vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ), Manoel Lapa, acredita que o acidente na obra do metrô em Ipanema aconteceu por causa de alguma falha, mesmo mínima, de planejamento.

— Erros podem acontecer nos melhores projetos. Não conheço os detalhes para identificar qual foi a falha na execução da obra do metrô de Ipanema. Mas que houve erro, houve. Caso contrário, a obra não teria que ser interrompida por semanas. No entanto, ressalto que a técnica empregada nesse caso foi a correta, inclusive para a preparação do solo. A decisão tomada, agora, de reforçar a compactação (do solo), com o emprego de polímeros de alta densidade, radicalizou os mecanismos de proteção. Normalmente, se empregam apenas as injeções de cimento no solo — explicou

Para ele, o caso é um exemplo prático da Lei de Murphy: “Se algo pode dar errado, dará”. Manoel Lapa justifica a afirmação, dizendo não ter dúvida de que os técnicos envolvidos no projeto de expansão do metrô se preocuparam bastante com o fator segurança na execução das obras. Mas frisou: se um acidente aconteceu, é porque algum detalhe, por mínimo que seja, deixou de ser pensado.

Segundo o conselheiro do Crea-RJ, pelas informações técnicas disponíveis, está descartada a possibilidade de ter havido comprometimento estrutural dos prédios no entorno das escavações, pois as rachaduras foram superficiais.

Deixe um comentário