Apesar de declaração de Júlio Lopes, panes continuam rotineiras. Ele afirmou nesta quarta que problemas da SuperVia estarão solucionados em 2016
Athos Moura , Daniel Pereira , Flavio Araújo , Gabriel Sabóia , Marcello Victor , Paloma Savedra e Vania Cunha
Nesta quarta-feira, em meio à pane no sistema viário, o secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, afirmou que os problemas envolvendo os trens da Supervia serão solucionados até 2016. De acordo com ele, no ano em que o Rio sediará os Jogos Olímpicos, 60 novos trens comprados pelo Governo do Estado do Rio — ao custo de US$ 306 milhões — já terão substituído a frota com mais de 30 anos, que representa 50% dos trens de hoje.
Entretanto, não é a primeira vez que o secretário promete melhorias num espaço de dois anos. Em 10 de fevereiro de 2012, quando um trem da Supervia apresentou defeito, afetando a circulação de outras três linhas, e passageiros revoltados promoveram quebra-quebra (com direito a 27 feridos) nas composições, Lopes prometeu a solução em dois anos.
A compra de 30 trens vindos da China, ao custo de US$ 166 milhões, e obras nas estações eram apontados na época como solução dos problemas até 2014. Ontem, com as composições chinesas já em operação e a 19 dias do ‘aniversário da data’, o secretário disse: “Isso aqui não foi um caos. Tivemos problemas pontuais em uma ocorrência de grande porte. Isto poderia acontecer em qualquer grande sistema viário do mundo”, afirmou Lopes.
O secretário reconheceu, no entanto, que a superlotação dos ônibus e metrô eram ‘a prova de que o plano de contingência não dá vazão a uma crise que atinja todos os ramais da Supervia’. Ao chegar à estação São Cristóvão, onde técnicos faziam vistoria, ele foi vaiado por populares.
Lopes afirmou também que, apesar dos problemas, o sistema de trens tem apresentado melhorias nos últimos anos. Nesta quarta segundo ele, os esforços da secretaria se concentravam em fazer com que a concessionária reembolsasse todos os passageiros com dinheiro, para que eles pudessem escolher outro meio de transporte.
Entretanto, equipes do DIA constataram, nas estações Triagem, São Cristóvão e Engenho de Dentro, que muitos passageiros iam embora sem saber da possibilidade do reembolso. Na Central do Brasil, passageiros esperavam no chão a liberação da linha férrea, já que não tinham dinheiro para os ônibus. Só a partir das 16h, os ônibus intermunicipais e municipais, do Rio, passaram a aceitar o vale-passagem da SuperVia.
Direitos dos passageiros
Informação: os usuários devem ser informados sobre qualquer incidente que ocorra nas composições. Ressarcimento: a concessionária tem obrigação de deixar o passageiro no destino final e realocá-lo em outro modal. Se não for possível, deve ressarci-lo.
Declaração: É direito do usuário recebê-la para justificar atrasos no trabalho ou para quaisquer fins. Especialista em Direito do Consumidor, Luiz Octávio Miranda explica que quem se sentir lesado deve procurar o Procon ou os juizados especiais.
“Júlio Lopes é ‘incaível’ graças à força de Dornelles” – Rozae Monteiro, jornalista do DIA
Considerando o conjunto da obra do secretário de Transportes, que não viu ‘caos’ no inferno de ontem, é inevitável lembrar de uma expressão criada por Antônio Magri. Foi o homem que Fernando Collor de Mello nomeou ministro do Trabalho em 1990. Magri se dizia ‘imexível’, mas foi demitido acusado de corrupção dois anos e dois meses depois de assumir.
Ficou, portanto, muito menos tempo no poder do que o ‘incaível’ Júlio Lopes. Alvo de ação pública de improbidade administrativa do Ministério Público pela tragédia do Bonde de Santa Teresa, o secretário está grudado no cargo há sete anos — a ação ainda não foi apreciada pela Justiça.
Não cai graças à força de seu padrinho, o senador Francisco Dornelles (PP), forte ao ponto de encabeçar lista de possíveis candidatos a vice de Pezão. Para quem rogou alguma praga a Júlio ontem, em meio ao caos que ele não viu, uma informação: o secretário não deve cair mesmo. Mas está para sair de cena até o início de abril para viabilizar sua candidatura à Câmara dos Deputados.