Rio 2016: legado dos Jogos terá investimento de R$ 24,1 bilhões

Somando todos os gastos, as Olimpíadas custarão R$ 36,7 bilhões, segundo último cálculo apresentando pelos três níveis de governo

CAIO BARRETTO BRISO

Reforma do campo de Pólo, ainda sem obras, estará incluída no pacote de obras do Parque Olímpico de Deodoro, que deve ser lançado nesta quinta Marcelo Piu / Agência O Globo (02/12/2013).

Menos de um mês após o Comitê Olímpico Internacional (COI) demonstrar preocupação com a falta de um orçamento detalhado dos Jogos de 2016, os três níveis de governo apresentaram na tarde desta quarta-feira, no Forte de Copacabana, os custos que cada esfera terá com o evento. Somando todos os gastos, a Olimpíada custará, segundo este último cálculo, R$ 36,7 bilhões. Desse total, R$ 24,1 bilhões (65%) serão destinados às obras de legado do evento, R$ 7 bilhões aos custos operacionais e de organização do Comitê Rio 2016 e R$ 5,6 bilhões restantes são dos 24 projetos já aprovados da Matriz de Responsabilidades, documento divulgado em janeiro pela Autoridade Pública Olímpica (APO) que relaciona as obrigações dos entes governamentais e do setor privado em projetos necessários para os jogos, como a Vila dos Atletas e os parques olímpicos. Estiveram presentes o presidente da APO, general Fernando Azevedo e Silva, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, o prefeito Eduardo Paes e o governador Luiz Fernando Pezão.

— A grande conquista é que mais de 60% de todos os recursos são de origem privada, fruto de captação e de PPPs. Londres tem sido usada como modelo de Olimpíada, mas a nossa terá muito menos recursos públicos — afirmou o prefeito.

Valor não é definitivo

Os R$ 36,7 bilhões, no entanto, ainda não são o valor definitivo, pois 28 dos 52 projetos que constam na Matriz de Responsabilidades da APO ainda não foram licitados. Nesta quinta-feira será publicado o edital de licitação do Complexo Esportivo de Deodoro. Estima-se que os 11 projetos do complexo acrescentem mais R$ 900 milhões ao custo total. Os outros 17 projetos que continuarão pendentes ainda não têm orçamento definido. Tudo indica que o valor final da Olimpíada só será conhecido às vésperas do evento.— Só será possível descobrir o custo final quando todos os projetos listados na matriz estiverem em sua maturidade. Será perto da entrega das instalações, infelizmente — admitiu, após o encontro, o general Azevedo e Silva.

O plano do legado apresentado nesta quarta-feira lista os 27 projetos voltados para as áreas de infraestrutura, mobilidade, meio ambiente e urbanização. Integram essa lista, por exemplo, o Porto Maravilha, a Linha 4 do metrô, os BRTs e a duplicação do Elevado do Joá. A maior parte de iniciativas (14) cabe à prefeitura. O percentual de recursos privados nas obras do legado será de 43% (R$ 10, 3 bilhões), contra 57% (R$ 13,8 bilhões) de verba pública. O maior percentual de gastos públicos com o legado ficará a cargo do governo do estado, que terá como principal investimento os R$ 8,79 bilhões da ampliação do metrô, dos quais 88% sairão do erário estadual.

Todas as obras de legado já estavam programadas ou mesmo em andamento, mas foram aceleradas pela Olimpíada. O prefeito Eduardo Paes destacou, no entanto, que foram incluídas no plano de políticas públicas apenas o que ainda não está pronto, pois o objetivo do cronograma, segundo o prefeito, é dar ao cidadão ferramentas para cobrar o poder público.

— Agora todos podem saber quem é responsável pelo quê, quem deve ser cobrado por cada um dos investimentos anunciados. Estamos dando mais transparência aos gastos com os Jogos Olímpicos e Paralímpicos — destacou Paes.

Mais que o prometido na candidatura

O prefeito disse ainda que está sendo feito mais do que se prometia no dossiê de candidatura. Ele citou, por exemplo, os cinco reservatórios — também chamados de piscinões — contra enchentes na Grande Tijuca. O primeiro deles, na Praça da Bandeira, foi inaugurado no fim de 2013 e está em operação.

— Não há hipótese de o Rio alagar durante os Jogos, pois não é uma época de chuvas na cidade. Apesar disso, incluímos no pacote os outros quatro piscinões já em construção, que vão receber as vazões dos rios Trapicheiros, Maracanã, Jacó e Joana. Com isso, estamos garantindo que a Olimpíada deixará uma transformação permanente no Rio — afirmou ele.

A Baía de Guanabara também foi citada durante a apresentação. Como, segundo as autoridades, o problema maior para as competições no local é o lixo na superfície, e não a poluição propriamente dita, foi apresentado o programa Baía Sem Lixo. Dez ecobarcos vão fazer o trabalho permanente de recolhimento do lixo flutuante — três já estão em operação desde janeiro e os outros sete serão licitados ainda este mês. Para reduzir a poluição, o governador prometeu a construção de um tronco coletor que vai captar o esgoto de bairros como Centro, Tijuca, Praça da Bandeira, Catumbi, Cidade Nova, Estácio e Rio Comprido. A promessa é que o novo sistema irá reduzir a carga poluidora lançada no Canal do Mangue — que deságua na Baía de Guanabara.

Já o governo federal vai investir principalmente no Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD/Ladetec), que será também um centro formador de profissionais especializados. O laboratório ficará na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

— O Brasil não possui um centro como esse. Depois dos Jogos, ele continuará sendo uma referência nesse campo — afirmou o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo.

Obras seguem em ritmo lento

Os números apresentados nesta quarta-feira respondem em parte aos questionamentos do Comitê Olímpico Internacional (COI). No dia 21 de março, o diretor-executivo do comitê de inspeção do COI, Gilbert Felli, manifestou preocupação com o fato de que, até aquele momento, União, estado e prefeitura não haviam apresentado o orçamento detalhado dos gastos públicos de cada um para a realização dos Jogos Olímpicos de 2016. O comentário foi feito ao fim da última visita do comitê à cidade, para acompanhar os preparativos para o evento.

Três semanas depois, o COI anunciou uma série de medidas para acompanhar os preparativos dos Jogos. Entre elas, a antecipação da vinda de Felli ao Rio. Sua chegada está prevista para a semana que vem, depois dos feriados, quando ele deve se reunir com o prefeito Eduardo Paes e o comitê organizador dos Jogos. Dias depois, Felli vai apresentar ao COI sua primeira avaliação sobre o andamento dos preparativos.

As medidas foram anunciadas pelo presidente do COI, Thomas Bach, no último dia 10, depois de uma reunião com representantes das federações esportivas, que começam a se alarmar com os atrasos nos preparativos do Rio para as competições. Embora rejeite a palavra intervenção, na prática, o COI decidiu tomar as rédeas da organização dos Jogos: vai acompanhar, passo a passo, as obras na cidade. Bach avisou que anunciará, nas próximas semanas (a data ainda não foi fixada), a criação de forças-tarefas. E que o COI também vai recrutar no Rio um administrador de projetos “com experiência em construções para monitorar, no dia a dia, os progressos das obras de infraestrutura”.

Sobre o anúncio, Paes disse que vê com bons olhos a antecipação da chegada de Felli. O prefeito reconheceu que o atraso nas obras do Parque Olímpico de Deodoro é preocupante, mas garantiu que cumprirá todos os prazos.

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