Projeto devolve aos moradores o convívio com o mar

Requalificação do Centro tem como eixo a valorização do espaço público e a mobilidade

Antiga capital do estado do Rio, Niterói sofreu um processo de esvaziamento e de gradação do seu Centro e de expansão urbana para além das necessidades reais da população. De acordo com informações da Secretaria de Urbanismo e Mobilidade Urbana de Niterói, entre 1970 e 2010, a população do município cresceu 50%, enquanto o Centro perdeu 15% dos seus moradores. A cidade quer atrair de novo estes moradores, esperando fixar mais 34 mil novos habitantes no Centro, nos próximos 20 anos.

Hoje, os impactos negativos do modelo de expansão territorial desordenada das cidades começam a ser sentidos e as mudanças sugeridas pelos especialistas passam a ser consideradas prioridade pela maioria da sociedade. Há consenso de que não é mais possível manter um modelo de expansão e desadensamento, que acarreta um custo elevado de infraestrutura e necessidade crescente do uso do automóvel como principal meio de locomoção, assim como a segregação socioespacial de grande parte dos moradores.

As prioridades do governo municipal de Niterói vão na contramão desse modelo, adotado por muitos anos. Os investimentos, a partir de uma Parceria Público-Privada, co meçam a ser direcionados para a reocupação do Centro da cidade, na busca de reverter o quadro de abandono, equacionar de forma mais inteligente os problemas de mobilidade urbana e, mais que isso, devolver aos quase 500 mil habitantes da cidade a intimidade e o convívio com o mar e a Baía de Guanabara, através de ciclovias, mirantes, polos de lazer, turismo e cultura.

No fim do ano passado, depois de longos meses de planejamento e discussões com a sociedade, através de audiências públicas, foi promulgada uma lei que autoriza a Operação Urbana Consorciada, que pretende, nos mesmos moldes do processo de revitalização da região portuária do Rio de Janeiro, viabilizar os projetos com financiamentos por meio dos CEPACs (Certificados de Potencial Adicional de Construção), instrumentos de captação de recursos para obras públicas.

De acordo com a secretária de Urbanismo e Mobilidade Urbana de Niterói, Verena Andreatta, ainda neste semestre a Prefeitura co meça a licitação para definir a concessionária que vai impulsionar as obras . O modelo é o de construção de uma cidade compacta, geradora de oportunidades, promotora de formas não motorizadas de mobilidade e de um transporte de alta qualidade.

Segundo Verena, arquiteta, urbanista e especialista em revitalização de áreas degradadas, o município investirá na construção de uma estação intermodal, que integrará todo o sistema de transporte: barcas, monotrilho, VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), ônibus municipais e bicicletas. “Ao contrário do que houve no Rio, os moradores de Niterói nunca perderam o contato com a Baía de Guanabara, devido à inexistência de aterros. E essa é a nossa grande aposta, a integração de diversos sistemas de transportes, acessíveis a pé, a requalificação de toda a região central da cidade e a construção de espaços de maior convívio com o mar”, disse.

A urbanista adianta que estão previstos projetos de integração do Caminho Niemeyer ao Centro de Niterói, por se tratar da grande área simbólica da cidade. “E no Caminho Niemeyer que estão diversas obras emblemáticas do arquiteto, como o Teatro Popular, e onde serão erguidos o Museu da Cultura e o Centro de Memória Jorge Roberto da Silveira”, assinalou. O projeto prevê, ainda, a criação de corredores culturais, restauração de fachadas, incentivos pala instalação de bares, restaurantes, livrarias, centros culturais, casas noturnas e espaços públicos digitais. com acesso livre à inter net, além de 20 Km de ciclovias. ‘Do MAC até a Ponta cia Areia haverá um passeio público e ciclovias”. adiantou.

A secretaria também quer estimular a vocação dos moradores para os esportes marítimos, através da construção de uma marina pública e incentivos à Escola de Velas Grael. A urbanista aponta outro destaque dentro do projeto de requalificação do Centro: é o Mercado de Peixes, que atrai moradores de diversas partes do Rio de Janeiro, da Ilha do Governador ao Leblon. “O caminho natural de quem vai ao Mercado de Peixes é seguir em frente e andar pelo Caminho Niemeyer”. No meio desse caminho, a Prefeitura vai transformar a Praça Araribóia em uma grande esplanada e construir uma nova vila de pescadores.

Verena destaca, ainda, aquela que será a primeira grande obra a ser edificada na área central de Niterói: o complexo multiuso Monumental, que simbolizará a nova fase que a cidade projeta para o seu futuro. “As Torres Monumental Niemeyer” ficarão conhecidas como a última obra emblemática do arquiteto no caminho que leva o seu nome. Os prédios dignificam a área não só pela qualidade arquitetônica, mas pelo ambiente de negócios que criará, aliando assim turismo e desenvolvimento econômico”, conclui.

Origem: O Globo - Caderno Cidade Monumento, 20/02/2014

Deixe um comentário