Prédio utiliza energia da terra

Dauro Veras

Diversas empresas e profissionais estão trabalhando com projetos de construções sustentáveis – aquelas que conservam energia elétrica, das águas e física-humana, na definição do arquiteto Edo Rocha: “Os lugares precisam ter qualidade para a energia humana, pois sem isso a arquitetura não serve para nada”. Com mais de 970 projetos no portfólio, seu escritório tem introduzido tecnologias inovadoras no país. Um dos clientes, o grupo educacional Uniesp, terá o primeiro prédio do Brasil a usar energia geotérmica (obtida pelo calor da terra) para a climatização, em Ribeirão Preto (SP).

Rocha lamenta que o conceito de “prédio verde” ainda seja utilizado como estratégia de marketing para vender produtos, mas observa que existe hoje uma consciência bem maior sobre a crise do modelo energético convencional. O arquiteto criou no Brasil o primeiro consórcio licenciado pela Universidade Carnegie Mellon fora dos Estados Unidos, o ABSIC – Consórcio para Integração de Sistemas em Prédios Avançados. A parceria entre universidade, indústria e governo realiza pesquisas sobre a melhoria da qualidade e do desempenho de prédios comerciais. Um dos produtos em teste é um robô que analisa qualidade do ar, temperatura, umidade e iluminação dos ambientes.

Em São José dos Campos (SP), o engenheiro Daniel Secches uniu suas ideias às do sócio, o arquiteto Lucas Sonnewend, para projetar uma casa sustentável que é hoje a residência do primeiro. “A obra durou seis meses e o custo empatou com o de uma construção convencional – R$ 1.800 o m²-, mas neste valor estão incluídos um sistema de geração de energia, um telhado verde e um sistema de aproveitamento da água da chuva”, conta Secches. A estrutura da construção, por utilizar menos concreto, é um terço mais leve que as convencionais. Um conjunto de células fotovoltáicas gera 200 quilowatts/hora mensais, que tornam a casa autossuficiente em eletricidade. “Nossa ideia é replicar o modelo para outros clientes”, diz.

“Muitas pessoas não sabem que as tecnologias às vezes são simples e acessíveis – mas o ideal é que sejam previstas no projeto”, lembra a arquiteta Mayra Rosa, sócia-fundadora do portal Ciclo Vivo, voltado para a difusão da sustentabilidade. Ela cita dois exemplos de empresas que atuam com água. A AcquaBrasilis instala um sistema biológico que trata a chuva e reaproveita a “água cinza” – proveniente do chuveiro, pias e lavagem de roupas. “Dá para economizar entre 30% e 50% na conta”, diz a diretora Sibylle Müller.

A Ecotelhado, especializada em pavimentos permeáveis e jardins verticais, fornece soluções que protegem a fachada dos prédios dos raios solares, reduzindo o uso de eletricidade na climatização. Seu Sistema Integrado de Ecoesgoto foi um dos projetos recomendados pela Organização das Nações Unidas para enfrentamento das mudanças climáticas. “Adotamos o modelo de matriz circular, que reutiliza a água e os resíduos sólidos orgânicos para fertilização das plantas”, explica o diretor João Feijó: “Esse paradigma substitui o de matriz linear presente nas construções convencionais, em que a água vem de longe, vai para longe e causa danos ambientais”.

“Somos a primeira incorporadora brasileira a controlar as emissões de gás carbônico em nossas obras”, conta Sandra Germanos, gerente de marketing da Stan, uma empresa familiar fundada há 70 anos. O procedimento começou a ser adotado em 2008 a partir de um inventário do processo produtivo das construtoras contratadas, que serve como base para a compra de créditos de carbono. Conforme o tipo de empreendimento e do material utilizado, a geração é de 180 a 280 kg por metro quadrado.

Origem: Valor Econômico, 28/03/2014

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