Porteiro está na fila da habitação há 26 anos

Inscrição foi feita em 1988; prefeitura de SP diz que não segue ordem cronológica

Tiago Dantas

SÃO PAULO — Faz 26 anos que o porteiro Gilton José da Silva, de 50 anos, espera ser atendido por um programa habitacional da prefeitura de São Paulo. Ele se inscreveu na Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab) em 11 de março de 1988. Desde então, não recebeu nem previsão de quando poderia, enfim, ter a casa própria. Assim como Gilton, cerca de um milhão de pessoas estão inscritas na lista por moradia popular da prefeitura.

— Quando me inscrevi na Cohab, tinha acabado de me casar. Tinha chegado da Bahia fazia pouco tempo. Pensava que a casa ia sair em um ano. Minha tia tinha conseguido rápido e me incentivou. Nem filhos eu tinha. Mas passou tanto tempo que, agora, já tenho dois netos — conta Gilton.

Atualmente, o porteiro mora com a mulher e uma filha em uma casa construída sobre um terreno invadido há mais de 20 anos na região de Sapopemba, extremo leste da capital paulista. A área, que já está totalmente urbanizada, pertence à prefeitura. Embora tenha pagado pela residência e receba todo mês as contas de água e luz, o porteiro não tem a escritura da casa e teme que um dia seja obrigado a deixá-la.

— Sei que não dá para o governo construir casas para todo mundo. É muita gente que precisa. Mas, se a prefeitura chegasse aqui, visse a construção, regularizasse o terreno e cobrasse uma mensalidade, todo mundo ia querer.

‘TAXA EXTRA’ PARA AGILIZAR

O porteiro lembra que, no dia em que fez a inscrição na Cohab, um funcionário disse que, se pagasse uma taxa de “10 mil cruzados” — o que, na época, equivalia a 30% do seu salário mensal —, o processo correria mais rápido. Gilton não tem o recibo da “taxa”, mas guarda o protocolo de inscrição, já amarelado pelo tempo.

— Além de não ter conseguido minha casa, ainda fiquei sem esse dinheiro. Assim como não acho certo pegar as coisas dos outros, acho que o Estado deveria devolver o que paguei para me inscrever.

Estar inscrito na lista de programas de moradia não garante o atendimento, segundo a Secretaria municipal de Habitação. Dentro do universo de um milhão de inscritos, cerca de 130 mil famílias têm o cadastro atualizado e são levadas em conta na definição das políticas habitacionais. De acordo com a prefeitura, o cadastro de Gilton foi atualizado pela última vez em 18 de julho do ano passado.

A escolha das pessoas que recebem moradia da prefeitura não segue ordem cronológica, mas critérios que consideram vulnerabilidade social e renda. Moradores de áreas de risco têm prioridade. Dados da prefeitura mostram que há cerca de 30 mil famílias em áreas onde o risco geológico é considerado alto e muito alto. Também têm prioridade, segundo a secretaria, famílias com muitos filhos, idosos ou deficientes.

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