Parque Nacional da Tijuca sofre com insegurança e conservação precária

Laura Antunes

Na cidade onde o sol brilha impiedosamente há semanas, ter como vizinho um pedaço generoso de Mata Atlântica, com quatro mil hectares, é um privilégio e tanto. E, à medida que a temperatura sobe, cachoeiras e recantos do Parque Nacional da Tijuca se tornam um oásis ao alcance de cariocas e turistas. Mas, além de consenso em beleza, esse território verde encravado na área urbana é alvo de queixas por parte dos frequentadores. A principal diz respeito à permanente sensação de insegurança. Há reclamações ainda sobre a ausência de sinalização turística (ou a má conservação das placas), o desleixo na manutenção do parque, a quase inexistência de opções para alimentação e a superlotação das cachoeiras, além do trânsito caótico nos pontos mais visitados. Para os frequentadores, fica a sensação de que os cuidados com o parque estão aquém de sua importância. Afinal, ele abriga uma das sete novas maravilhas do mundo, o Cristo Redentor.

— É uma pena. Quem passa pelo Horto e pelas Paineiras percebe o abandono do parque, a começar pela sinalização ruim. Uma área com tantos turistas não tem placas com informações básicas, como indicação para as principais atrações e a distância até elas, por exemplo. Além disso, a sensação de insegurança é grande. Você percorre quilômetros sem ver policiamento — reclama o empresário e maratonista Marcelo Leite, que, no ano passado, quase teve o relógio arrancado por dois ladrões, que pularam na mata quando ele passava pelo setor do Horto.

Vista Chinesa: encantamento e cuidado

Por medo de assalto, aliás, o paleontólogo argentino Juan Porfiri, que visitou o parque na última sexta-feira com a mulher e os dois filhos, preferiu não levar nada de valor. Até o relógio ficou no hotel. O conselho partiu da própria mulher, que é carioca. Ele conta ter tido dificuldade para se deslocar pela região de carro devido à falta de placas. Mas, ao chegar à Vista Chinesa, Juan ficou deslumbrado.

— Eu vim com receio e, realmente, não vimos policiamento até chegarmos à Vista Chinesa, que na minha opinião tem a paisagem mais linda do Rio. O parque é uma maravilha, mas peca pela falta de placas com informações sobre os pontos turísticos para quem chega pela primeira vez. Não sei, por exemplo, que atrações haverá pelo caminho, após sairmos do mirante — queixa-se Juan, que mora com a família na Patagônia.

O calorão foi a deixa para que outra família, esta carioca do Rio Comprido, visitasse o parque pela primeira vez, também na sexta-feira. A ideia era passar o dia em uma das cachoeiras. O grupo, de cinco pessoas, optou por ir de ônibus até o Horto e subir a pé até a Cachoeira do Quebra.

— Nossa sorte é que havia um vigilante na entrada e nos disse que a cachoeira fica perto. Não tem uma placa indicando. Queria visitar depois a Vista Chinesa, mas não sei se é longe para ir a pé — diz a estudante Carolina de Oliveira Ferreira, que propôs o passeio à família no lugar de ir à praia. — Também ficamos com receio porque não vimos patrulhas da PMs na via.

E tanto a Cachoeira do Quebra como a Vista Chinesa são alvo de queixas. Nos dois locais há congestionamentos nos fins de semana, por causa do carros estacionados ao longo da pista. O trânsito simplesmente para.

— É uma loucura. Vira terra de ninguém. Sem fiscalização, as pessoas param em qualquer lugar — queixa-se a consultora de RH Marilda Gonçalves, que costuma correr, principalmente pelas Paineiras, acompanhada por amigos por questão de segurança. — Os cuidados com o parque são poucos. As árvores que caíram no último temporal na pista do Horto, por exemplo, até hoje não foram retiradas. Estão todas amontoadas nas laterais. Isso dá uma aparência de desleixo. E também quase não há lixeiras ao longo da estrada.

O fotógrafo e ciclista Fred Bailoni é outro frequentador que adora o parque, mas vê problemas:

— Como conheço bem o lugar, não me perco, mas faltam placas. Há alguns anos, fui assaltado e me levaram a câmera. Agora, não trago mais. Uma área turística como esta merece cuidados.

Mas há pontos positivos. Recentemente, o asfalto do parque, no setor do Horto, foi recapeado, o que ganhou elogios dos frequentadores.

— Achei que a obra ficou muito boa. O piso está lisinho — afirma a empresária Luana Silva Mota, que costuma correr e pedalar por lá.

Parque tem gestão compartilhada

Outro setor do parque, no entanto, a Floresta da Tijuca também coleciona queixas sobre a sinalização insuficiente e em mau estado de conservação, a existência de poucos vigilantes para orientar o público, a falta de locais para fazer refeições e comprar bebidas e as cachoeiras lotadas.

— Quanto venho com turistas, já trago água e refrigerante porque aqui não tem para comprar. Há poucos banheiros, e nem sempre há papel e água. A Cachoeira das Almas, uma das preferidas, tem péssima sinalização. Tem gente que se perde na hora de voltar porque há duas trilhas. Ao meu ver, faltam ao parque funcionários treinados para orientar o público — diz Antonio Nápoles, guia de turismo veterano.

O Parque Nacional da Tijuca é subordinado ao Instituto Chico Mendes, do Ministério do Meio Ambiente, e sua gestão é compartilhada entre os governos federal, estadual e municipal. Procurada pelo GLOBO, a direção do parque não quis se manifestar sobre os problemas de conservação apontados pelos frequentadores.

Com relação à segurança (feita por vigilantes, guardas municipais e PMs), o comandante do Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (BPTur), tenente-coronel Cândido da Silva, informa que o policiamento do parque é compartilhado pelos batalhões das áreas correspondentes (que mantêm patrulhas circulando pela região) e que cabe ao BPTur patrulhar os pontos turísticos, como Vista Chinesa, estação do Corcovado e acesso das vans ao Cristo. A unidade mantém oito policiais por turno e quatro veículos, além de apoio de homens em bicicletas na área das Paineiras, atualmente fechada a veículos. Ele garantiu que até a Copa haverá um reforço de mais 20 homens:

— O BPTur receberá, como ocorreu na Jornada Mundial da Juventude e na Copa das Confederações, um aumento de efetivo de mais 130 homens para reforço nas áreas turísticas. Parte irá para o Parque da Tijuca.

Origem: O Globo, 25/02/2014

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