‘O coração da Olimpíada está encaminhado’

ENTREVISTA General Fernando Azevedo e Silva

Presidente da Autoridade Pública Olímpica admite que, se houver déficit no orçamento do Comitê Rio 2016, quem vai arcar com os custos é o governo

Luiz Ernesto Magalhães

Presidente da Autoridade Pública Olímpica (APO), o general Fernando Azevedo e Silva atua como uma espécie de articulador entre os governos e o Comitê Rio 2016 para tentar fazer com que os projetos saiam do papel. O general chama atenção para o fato de que, embora o orçamento do Comitê não conte com recursos públicos, são os governos que terão que arcar com o déficit, caso as contas da entidade fechem no vermelho. Ex-atleta das seleções militares de vôlei e paraquedismo, e presidiu a Comissão Desportiva do Exército durante os preparativos para os Jogos Mundiais Militares de 2011.

O Rio ganhou o direito de sediar as Olimpíadas em novembro de 2009. Por que apenas em abril deste ano foi divulgado um cronograma das obras e dos investimentos dos governos?

O Brasil tem experiência de organizar megaeventos. Mas é a primeira vez que a América do Sul vai organizar uma Olimpíada. De todos os eventos, é o mais complexo. Para a Copa, fala-se em estádios padrão Fifa. Nos Jogos Olímpicos, é o padrão de 42 federações internacionais tendo que ser adaptado ao padrão COI. Cada entidade quer o melhor para o seu esporte.

A impressão que se tem é que os governos demoraram a se articular. A própria estrutura da APO mudou várias vezes. Nomes cotados para o posto foram descartados, desistiram ou ocuparam o cargo interinamente.

Não queria olhar para trás. Quero olhar a minha gestão.

Mas não seria possível fechar com mais antecedência os convênios?

O problema não é a falta de diálogo. É preciso ver que a legislação brasileira é muito rígida para repassar recursos em convênios.

Mas havia opções. Quando o Regime Diferenciado de Contratações foi regulamentado, uma das ideias era aplicá-lo aos projetos olímpicos para agilizar os processos. Isso jamais aconteceu…

Não sei dos detalhes porque em 2009 meu foco não era as Olimpíadas. Como militar da ativa, meu negócio é cumprir missões. A minha agora é essa. Missão não se escolhe, missão se cumpre. E o importante é que o coração da Olimpíada está encaminhado.

Se o senhor estivesse nessa missão desde 2009, gostaria de ter tido mais tempo para essas definições?

O ideal era que tivesse mais flexibilidade em termos de tempo. Algum motivo levou a isso. Mas, no inicio de 2014, deslanchamos muitas coisas. O principal das Olimpíadas está encaminhado.

O senhor garante que, faltando 30 dias para os Jogos, não teremos uma correria para concluir obras?

Eu sou otimista. Pela experiência acumulada pelo Rio de Janeiro na organização de eventos, não acredito que vai acontecer. A Empresa Olímpica Municipal tem uma equipe muito boa fazendo esse planejamento.

Existe alguma possibilidade de os cofres públicos arcarem com as despesas do Comitê Rio 2016?

A previsão legal existe de fato com a aprovação do Ato Olímpico, em 2009, que transformou em lei os compromissos da candidatura. Pelos valores de hoje, os governos federal, estadual e municipal se comprometeram a entrar com até R$ 1,8 bilhão para complementar o orçamento, seja em recursos ou serviços. Até agora, isso não foi necessário. Caso haja o que chamamos de déficit operacional (acima desse limite), a União assumirá.

 

Origem: O Globo, 20/5/20140

Deixe um comentário