‘Não queremos alugar camarote para qualquer um’, diz arquiteto da Arena Corinthians

Em entrevista ao L!Net, responsável do projeto do estádio diz que espaços serão comercializados com seleção de marketing. Arquiteto comparou com o Allianz Parque

Anibal Coutinho, o arquiteto responsável pelo projeto da Arena Corinthians

Em nota oficial divulgada no último dia 26, o Corinthians informou que, dos 89 camarotes do novo estádio em Itaquera, 13 estavam alugados e outros 16 já estavam reservados. Números modestos quando comparados aos do Allianz Parque, do rival Palmeiras que, antes mesmo de sua inauguração, tem quase 90% de seus 178 espaços comercializados.

Para um dos principais responsáveis pelos primeiros passos da arena do Timão, algo que não preocupa. Em entrevista exclusiva ao LANCE!Net, o arquiteto Anibal Coutinho rechaçou qualquer drama pelo tema, comparou com o que está sendo feito pelo rival do outro lado da cidade e ainda explicou a política de comercialização dos espaços, que deve ser vista como de ostentação por muita gente, já que o arquiteto do projeto do novo estádio do Corinthians deixa claro que há interesse em alugar camarotes apenas para empresas específicas.

Saiba qual é a visão de Anibal para essa que é uma das fontes de arrecadações mais importantes do novo estádio corintiano, que custou cerca de R$ 1,2 bilhão – primeira parcela terá de ser paga em junho do próximo ano. Veja o que diz Anibal:

Qual a importância dos quase 90 camarotes do novo estádio?
A Arena Corinthians é composta por um mix, camarote é uma das receitas. Elas são entrelaçadas, com uma estruturação comercial gigantesca e delicada, que ainda está sendo terminada. Não iniciamos o oferecimento (apesar de alguns já estarem alugados) porque não faria sentido com um único componente. Nós ainda estamos com o estádio em construção, o foco é terminá-lo.

Como é feita a comercialização dos camarotes? Qual a política da venda?
Eu sou uma pessoa do mercado de shopping center, há 35 anos eu faço isso. A estruturação do estádio é como a de venda de shopping, tendo um mix. Não queremos apenas os camarotes com bancos, seguradoras, etc. O objetivo é maximizar o marketing de relacionamento, com distribuição de empresas e setores. As (empresas) líderes de mercado são aquelas que vamos para cima.

Explique melhor, por favor…
O foco da venda dos camarotes é a mistura de empresas, nós tentaremos forçar para que a venda ofereça uma mistura adequada de público que queremos lá dentro. Se você tem um apartamento com dois dormitórios e pretende alugar um dos quartos, o foco será o dinheiro ou a pessoa que estará lá dentro? Você pode cobrar menos para ter quem você deseja. Faremos isso, com venda própria.

Haverá seleção de pessoas…
A pessoa que queremos lá dentro do estádio é para o resto da vida. É como uma lista de convidados. É diferente fazer lista para festa pessoal e para festa aberta ao público. Não é uma seleção social, e sim uma seleção estratégica, que visa o marketing de relacionamento para agregar valor a cada um. Queremos que as pessoas saiam dos camarotes, interajam, é isso que torna o estádio diferente, serão macroplataformas de relacionamento. É isso que pagará as nossas contas.

O Allianz Parque não tem essa política e vendeu quase 90% dos camarotes antes de inaugurar…
Uma diferença é a de que todos os nossos camarotes estão do lado da sombra. Além disso, nossos camarotes têm comida, estacionamento com lugares marcados, segurança, um esquema que se pode frequentar área VIP dentro das áreas VIPs. A estratégia do Palmeiras é correta, é destinada a um público de shows. No Corinthians, como tínhamos muito mais espaço (terreno tem cerca de 200 mil metros quadrados), construímos produtos entre as cadeiras e os camarotes. A estratégia deles eu já examinei, eu faria o mesmo preço lá, mas nosso objetivo é diferente, são produtos que não podem ser comparados.

Os valores dos camarotes do Allianz Parque são menores…
Temos algo similar que tem o mesmo preço (cobrado pelo Palmeiras), que é a Área Business, que acho até que são mais luxuosos que os camarotes. É um espaço corporativo, mas que também serve para pessoas físicas que não têm interesse em camarote. Não é questão de um público melhor ou pior, seria apenas para aqueles que não precisam de um garçom exclusivo, etc. Pelo espaço maior de construção, deu para criar produtos intermediários. Ainda não saímos para a venda (aluguel de três, cinco ou sete anos, na verdade). Fizemos testes, sentimos o mercado e sabemos que não queremos vender para qualquer um. Quando você abre um shopping, você não vende o espaço para qualquer loja, você vai atrás das lojas que você quer. Nossa comercialização será diferente porque temos um produto restrito, é normal que tendo poucos camarotes e muita oferta, o preço seja maior. Temos mais coisas incluídas dentro dos camarotes. O dono dele terá de entrar e usufruir. E nada mais.

Por que a demora para alugar?
A venda foi um pouco prejudicada pela Copa, nós achamos que não era o momento mais adequado, até pela atenção das empresas com o evento. Esperamos também que o estádio ficasse mais pronto, obra retomou e, agora, estamos com coisas mais conclusas. Acho que teremos um momento melhor agora, não ter comercializado simultaneamente com o Palmeiras foi um acerto, pois o público corporativo é semelhante. Os nossos preços (de R$ 640 a R$ 1,5 milhão) são adequados pelo que nós estamos oferecendo. Três camarotes custam um pouco mais do que isso (R$ 2 milhões/ano), apenas três, que são centrais. Mas apenas um deles está à disposição, pois um pertence ao clube e o outro será do detentor do naming rights. Quanto maior o vínculo, mais barato fica. Podem fechar com três, cinco ou sete anos.

Vê alguma chance de não dar certo essa política?
Temos base e calculamos tudo, não temos qualquer indício de que não dará certo. Vamos repetir apenas uma coisa que já existe. Falava-se no início que shopping não daria certo.

 

 

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