Falta muito mais do que a Arena da Baixada

Como não ficarão prontas a tempo, 22 intervenções saem da lista de obras da Copa

CAROLINA OLIVEIRA CASTRO

O estádio receberá quatro partidas do Mundial, que começa no dia 12 de junho Rodolfo Buhrer / REUTERS

 

Se o único problema do Mundial no Brasil fosse a Arena da Baixada, em Curitiba, o torcedor poderia até comemorar. Em 2010, o governo lançou um documento chamado Matriz de Responsabilidade da Copa. Até então, nele, estavam apenas as obras dos estádios e algumas poucas de mobilidade urbana. Durante os últimos três anos, diversas obras foram incluídas no documento. Mas, diante da expectativa de que não ficarão prontas até o Mundial, 22 foram excluídas. Com um orçamento de quase R$ 26 bilhões, custo mínimo que deve ser gasto no evento, faltando menos de quatro meses para o primeiro jogo, R$ 3,2 bilhões ainda não têm sequer destinação. As obras que constam do documento são consideradas pelo governo como “o grande legado da Copa”.

Apesar de excluídas da Matriz de Responsabilidade, as 22 obras, a maioria de mobilidade urbana, continuam sendo tocadas, mas só ficarão prontas depois do Mundial. Todas obtiveram os benefícios fiscais (financiamento público garantido) de licitação em sistema de RDC (uma forma rápida). Essas obras que deixaram a lista somam R$ 6,1 bilhões. O dinheiro é um pouco maior que o total de recursos destinados a São Paulo, capital onde a Copa custou mais caro — R$ 5 bilhões.

— Todas essas obras são de responsabilidade pública. Depois, pode ser que a gestão seja transferida para o setor privado. A Matriz de Responsabilidade nada tem a ver com a organização da Copa. Ela é mais um documento do governo para a população. É por decisão política o que entra e o que sai dela. Das exigências da Fifa, só os estádios estão na Matriz. A Copa vai acontecer, havendo ou não essas obras — explica Orlando Santos Júnior, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, (UFRJ) e coordenador do Laboratório de Megaeventos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur), da universidade.

O documento não prioriza nenhuma obra. Em tese, todas seriam importantes para a realização da Copa. Por isso, o governo pode tirá-las da lista caso, por exemplo, perceba que não ficarão prontas no prazo. Hoje, existem 303 obras. Em mobilidade urbana, são 45; em aeroportos, 29; em portos, seis; segurança pública, 40; telecomunicações, 72; desenvolvimento turístico, 90; estruturas temporárias (que foram usadas na Copa das Confederações) e estádios, 12. Algumas dessas ações não têm custo, pois são administrativas, como o remanejamento de agentes de segurança pública. Ou simples pedidos para que uma determinada companhia de telefonia reforce cabos onde já opera normalmente.

O custo total da Copa pode ser maior. Quase todas as cidades ainda têm pelo menos cerca de R$ 200 milhões da verba prevista e aprovada para contratar, como é o caso de Salvador, Manaus e Cuiabá. Já Rio, Belo Horizonte, Recife e Curitiba têm cerca de R$ 300 milhões aprovados, cada, ainda por usar. Natal e Porto Alegre ainda podem contratar por volta de R$ 400. São Paulo já contratou cerca de R$ 1 bilhão a mais que o previsto. Brasília gastou quase R$ 400 milhões extras. Somados, esses valores chegam a R$ 4 bilhões — ou seja, quase R$ 1 bilhão a mais em relação ao que ainda falta para ser gasto. Ainda na lista de obras previstas na Matriz de Responsabilidade, há quatro estádios — as arenas da Baixada, Amazônia, Pantanal e Itaquerão — em fase de construção. E seus preços ainda podem subir.

Além disso, por exigência da Fifa, é preciso construir diversas estruturas temporárias, que vão de lugares extras até centros de mídia e de convivência nos estádios. Na Copa das Confederações, quando foram usados seis estádios (Maracanã, Mineirão, Castelão, Fonte Nova, Mané Garrincha e Arena Pernambuco), elas custaram R$ 208 milhões.

Como está hoje, a Matriz é considerada realista, mas há a possibilidade de o governo ainda excluir mais obras da lista:

— Hoje, ela é bem plausível, mas pode ser que, até abril, às vésperas da Copa, sofra uma última modificação — acredita Orlando Júnior.

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