Entrevista com o novo Presidente do IAB-RJ, arquiteto e urbanista Pedro da Luz Moreira

Concursos dariam transparência, afirma novo presidente do IAB-RJ

Pedro da Luz defende discussão pública sobre as mudanças na cidade

Natanael Damasceno

À frente do IAB-RJ, Pedro da Luz defende que as mudanças sejam pensadas de forma mais holística e menos segmentada

Há um mês à frente da seção fluminense do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), o arquiteto e urbanista Pedro da Luz Moreira defende a adoção de concursos para obras públicas como forma de dar mais transparência ao processo que está redesenhando a cidade. Ele defendeu que as mudanças sejam pensadas de forma mais holística e menos segmentada. E citou os BRTs e as obras do Porto Maravilha como bons exemplos de projetos para melhorar a mobilidade na cidade e evitar a dispersão da população sobre seu território.

— Numa cidade mais compacta, a democratização dos serviços de infraestrutura é mais fácil e mais barata — afirma.

Pedro da Luz se formou em 1983 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UFRJ, onde também fez mestrado e doutorado. Hoje é professor adjunto da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. Além disso, assumiu em 2010 a coordenação do Programa Morar Carioca, projeto que pretende urbanizar todas as favelas do Rio de Janeiro até 2020, pelo IAB-RJ.

Vice-presidente da instituição desde 2010, Pedro da Luz, de 54 anos, assume o mandato com a promessa de transformar a sede do IAB-RJ num ponto de encontro para os arquitetos do estado, de forma a atrair uma nova geração de talentos e ampliar o debate sobre o futuro das cidades. Segundo ele, o diálogo e a discussão das obras ainda na fase dos projetos poderiam evitar equívocos e desperdícios.

— O projeto deveria ser protagonista, e não é o que acontece hoje. Essa fase inicial de uma obra deveria ser mais transparente, permitindo que a sociedade possa dar sua opinião sobre os projetos. Um projeto bem pensado, bem discutido, tem uma execução mais fácil — defende o arquiteto, que responderá pelo IAB-RJ até 2016.

CORPO A CORPO

O GLOBO: O senhor assumiu o IAB-RJ com a promessa de ampliação do debate sobre as cidades e o estímulo ao aumento do número de concursos para projetos públicos. Uma coisa está ligada à outra?

PEDRO DA LUZ: Claro. Adotar mais concursos significa ampliar a transparência das obras públicas no Brasil. Vemos que hoje há uma série de problemas: orçamentos que estouram, prazos dilatados. Deveríamos ter uma cultura que enfatizasse a fase dos projetos, do planejamento. Antes de se fazer qualquer obra, a sociedade deveria poder dizer o que quer. Tome o Maracanã como exemplo: se houvesse discussão antes da execução, muitos problemas poderiam ter sido evitados. Os concursos não chegam a ser uma garantia de que não haverá problemas, mas o debate suscitado por eles garante mais transparência.

Não será difícil implantar essa nova cultura?

Sem dúvida. Temos setores influentes, como as empreiteiras, aos quais não interessa ter o projeto como protagonista de uma obra. Mas chegamos a um ponto em que essa discussão deve ser abordada.

O que o senhor acha do momento pelo qual passa o Rio, que tem regiões sendo totalmente remodeladas?

Existem projetos que temos de aplaudir. A Transolímpica, a Transcarioca e a TransBrasil são esforços que vão ao encontro de um dos princípios que defendemos para todas as cidades, que é a mobilidade efetiva para todos. Já as obras que envolvem o porto caminham no sentido de enfatizar a densidade populacional da cidade. Por outro lado, acho que há projetos inadequados, como as obras na Barra, o conjunto habitacional da Rua Frei Caneca, que merecia um cuidado maior, e a série de pontes estaiadas que estão surgindo na cidade.

Como aproveitar projetos que se mostram inadequados à realidade da cidade?

Há sempre formas de se integrar. Se hoje já houvesse essa cultura do projeto, do debate, alguns problemas seriam evitados. Mas sou otimista e acho que o tempo vai ajudar. O debate vai se aprofundar e isso vai acabar se resolvendo no futuro.

Origem: O Globo, 03/01/2014

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