Corrida desigual nos Jogos

Obras na vila dos atletas avançam; no Parque Olímpico, não passam de 20%

Luiz Ernesto Magalhães

As obras do Parque Olímpico, de responsabilidade do poder público: operários aceleram o ritmo para cumprir prazos Parceiro / Genilson Araújo / 07-05-2014

 

Cerca de 500 metros separam os terrenos da futura Vila Olímpica, na Avenida Salvador Allende, e do Parque Olímpico, na Avenida Embaixador Abelardo Bueno, na Barra da Tijuca, onde estão em andamento R$ 4,4 bilhões em obras estratégicas para os Jogos Olímpicos de 2016. Nos dois pontos, o movimento de operários é intenso, mas a diferença entre o avanço das obras num e noutro lugar é o que mais chama a atenção. No Parque Olímpico, funcionários aceleram o ritmo para cumprir os prazos, após uma série de ajustes no cronograma que adiaram a execução de projetos. Em 2009, no dossiê da candidatura carioca apresentado ao Comitê Olímpico Internacional (COI), a promessa era que parte das novas arenas já estaria concluída até 2011. No entanto, segundo a prefeitura, apenas 20% dos serviços previstos foram executados. Esse percentual também leva em conta as obras de demolição das estruturas do antigo Autódromo de Jacarepaguá, de terraplenagem e outros trabalhos.

O cenário é muito diferente na Vila Olímpica, construção a cargo da iniciativa privada que deve receber os 16 mil atletas esperados para os Jogos. Cerca de 32% dos serviços já foram feitos. E, como a etapa mais difícil de construção das fundações já acabou, a previsão é chegar ao fim do ano com 60% das obras concluídas. Em algumas frentes, a ordem é botar o pé no freio para evitar gastos desnecessários com manutenção. Com a redução do ritmo, três dos 31 prédios que, pelo cronograma original, já estariam concluídos este mês só ficarão prontos em dezembro, quando também acabarão todos os serviços de concretagem nos canteiros.

Na Vila Olímpica, estão sendo construídos 3.604 apartamentos, ao custo de R$ 2,3 bilhões. Todos financiados pela Caixa Econômica Federal (CEF). Após as Olimpíadas, antes de devolver os apartamentos à construtora, o Comitê Rio 2016 terá que reformá-los. As incorporadoras, no entanto, já planejam vender as primeiras unidades logo após a Copa do Mundo. A previsão é entregar os imóveis para os futuros proprietários em 2017.

– Há tempo de sobra para concluir as obras da Vila Olímpica. O comitê organizador precisa dos apartamentos apenas em 1º de março de 2016 – diz o diretor-geral da Ilha Pura Empreendimentos Imobiliários, Maurício Cruz Lopes.

ARENAS PRONTAS PRECISAM DE REFORMA

O Parque Olímpico receberá 13 modalidades olímpicas e 11 paralímpicas em oito complexos esportivos – seis dos quais em construção. Enquanto já é possível vislumbrar parte dos prédios que receberão os atletas, a área que abrigará as arenas só tem algumas estruturas metálicas. É possível ver também duas instalações construídas pela prefeitura para os Jogos Pan-Americanos de 2007, que serão aproveitadas. Uma delas, uma arena explorada pela iniciativa privada para shows, será cedida para as provas de ginástica olímpica e basquete em cadeira de rodas. A segunda é o Parque Aquático Maria Lenk, que ainda precisa de reformas. A previsão é que apenas em julho fiquem prontos os projetos que servirão de base para estimar custos e licitar a obra.

O prefeito Eduardo Paes afirma que a impressão de que as obras não avançam é ilusória. Segundo ele, mais de R$ 500 milhões já foram investidos para dotar o terreno de toda a infraestrutura necessária. Mas há instalações que começaram a ser construídas este ano, quando, pela concepção original, os trabalhos deveriam ter sido iniciados em 2013. Hoje, a Empresa Olímpica Municipal evita bater o martelo sobre datas para acabar as obras. Informa apenas que, para boa parte das instalações, o prazo de entrega é o segundo semestre de 2015. E, no caso do Centro Aquático, admitiu que os serviços avançarão até o primeiro semestre de 2016.

PRAZOS FORAM ALTERADOS

Os preparativos para transformar o autódromo em Parque Olímpico começaram em 2011. A Aecom – mesmo escritório que desenvolveu o projeto do Parque de Londres – venceu o concurso organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), para desenhar o plano urbanístico das Olimpíadas cariocas. Logo em seguida, a prefeitura licitou uma parceria público-privada para implantar a infraestrutura do Parque Olímpico. As obras começaram em meados de 2012 e ganharam velocidade a partir do ano seguinte, com o fechamento do autódromo. A maior parte dos editais de licitação das instalações esportivas saiu entre 2013 e este ano:

– Os prazos para o lançamento de alguns editais de arenas, tanto na Barra da Tijuca quanto em Deodoro, foram alterados. Se as obras terminassem cedo demais, teríamos que arcar com custos de manutenção, sem necessidade. Além disso, detalhes dos projetos das instalações esportivas foram longamente debatidos com as federações internacionais ao longo dos anos. Houve alguns detalhes que só foram fechados há pouco tempo, durante os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi (Rússia), em fevereiro deste ano – justificou o secretário nacional de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser.

A conta dos investimentos no Parque Olímpico já chega a R$ 2,1 bilhões. O valor da reforma do Maria Lenk ainda não está fechado. O orçamento inclui não só os gastos com infraestrutura e instalações esportivas, mas a conservação das estruturas por um período após o evento, a construção de centros de mídia e transmissão e a desmontagem de instalações provisórias, além da manutenção de áreas públicas, como jardins, até 2027. Após as Olimpíadas, três galpões serão mantidos para que seja concluído o complexo destinado ao treinamento de atletas de alto rendimento do Comitê Olímpico Brasileiro. A arena de handebol será desmontada e transformada em quatro escolas.

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