Chácara do Céu vai ganhar um edifício anexo e um bondinho para acesso

Descoberta. Ernani Freire no portão antigo da Rua Dias de Barros, que dará acesso ao futuro plano inclinado – Custódio Coimbra / Agência O Globo

O local vai abrigar escritórios, biblioteca, auditório com cem lugares, laboratórios e salas para guarda do acervo do museu

por Rodrigo Bertolucci / Simone Candida / Ludmilla de Lima

RIO — Para Ernani Freire, a boa arquitetura é a que estabelece conexões. Foi assim na década de 1990, quando ele encarou a missão de restaurar e revitalizar a antiga casa de Laurinda Santos Lobo, em Santa Teresa, e idealizou um projeto que, ao mesmo tempo, tirou proveito do aspecto abandonado da residência e integrou o prédio ao terreno do edifício vizinho, o Museu da Chácara do Céu. Surgia assim o Parque das Ruínas, com a bela ponte entre os dois centros culturais e o mirante que conecta cariocas e turistas a uma das mais deslumbrantes vistas do Rio.

Quando, anos depois, foi convidado a criar um edifício anexo para o Museu da Chácara do Céu — instalado na residência em estilo modernista do colecionador e industrial Raymundo Ottoni de Castro Maya —, Ernani avistou uma outra chance de usar a arquitetura como instrumento de integração. Dessa vez, incluiu no projeto um detalhe que promete democratizar o acesso à instituição. O anexo prevê a criação de uma nova entrada por um portão na Rua Dias de Barros. Como o terreno é irregular, o público chegará por um singelo bondinho.

— Descobrimos uma entrada de serviço, um pequeno portão na Dias de Barros, a rua mais larga e plana de Santa Teresa. Abriremos no alinhamento da rua um hall de acolhimento, com um plano inclinado, engenho típico de Santa Teresa. O visitante passará pelo anexo e chegará ao nível do museu. A ideia é democratizar o acesso à Chácara do Céu, que hoje, por ficar num lugar mais alto, é mais procurado por quem usa carro — explica o arquiteto.

Orçado em cerca de R$ 17 milhões, o anexo terá dois mil metros quadrados. O local vai abrigar escritórios, biblioteca, auditório com cem lugares, laboratórios de restauração de obras de arte e salas para guarda e conservação do acervo do museu. O terreno também ganhará um novo paisagismo. Um caminho de pedra pé de moleque, que havia sido cimentado, será restaurado. A construção contará com dois andares e, no topo, haverá um terraço.

— Ali teremos o jardim das esculturas, com exposições de obras do acervo, e uma cafeteria. O público poderá passear entre as peças e usufruir de uma vista incrível da Baía de Guanabara. Teremos também uma passarela, com cobertura de vidro, ligando o anexo aos pilotis do museu — adianta o arquiteto, esclarecendo que o anexo ficará numa área mais baixa do terreno, com impacto ambiental menor e sem comprometimento da vista que hoje se tem do pátio do museu.

Vera de Alencar, diretora dos museus, diz que o bondinho será instalado com uma verba de R$ 1,2 milhão do Instituto Brasileiro de Museu (Ibram):

— Com esse dinheiro, vamos construir o plano inclinado e o novo acesso para que cariocas e turistas já possam usá-los durante as Olimpíadas.

Já a obra do anexo, iniciada em 2012, sofre com a crise que vem levando o governo a restringir a liberação de recursos. As fundações e estruturas já estão prontas, mas faltam todos os acabamentos. Até agora, a construção consumiu cerca de R$ 7 milhões, recursos da Petrobras, do BNDES e obtidos via Lei Rouanet. Ainda não há data para a inauguração do prédio.

CASA SERÁ EXCLUSIVA PARA EXPOSIÇÕES

Quando for aberto, o anexo servirá para desentulhar o prédio principal do museu, que foi feito para abrigar uma residência e, por isso, teve que ser adaptado para receber o acervo.

— A ideia é retirar da casa toda a parte técnica do museu, liberando a residência para que funcione só como um pavilhão de exposições — explica Ernani.

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A casa conhecida desde 1876 em Santa Teresa como Chácara do Céu foi herdada por Castro Maya em 1936. Em 1954, o prédio que ali existia foi demolido e deu lugar à residência de 1,5 mil metros quadrados, projetada por Wladimir Alves de Souza.

— Lúcio Costa foi chamado para implantar a casa no terreno, e o Roberto Burle Marx fez parte do jardim — acrescenta o arquiteto.

O imóvel virou museu após a morte de Castro Maya. O acervo reúne cerâmicas, pinturas, esculturas, móveis e livros. Há obras de artistas como Di Cavalcanti, Matisse, Picasso, Miró e Portinari. Uma das preciosidades é a coleção de 490 aquarelas e 61 desenhos de Debret. O local, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ainda mantém dois cômodos originalmente mobiliados e ambientados, que mostram como era a vida da sociedade carioca nos anos 1950.

 

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