Escola de Música da UFRJ, no Passeio, será reformada

Projeto prevê que salas ganharão camarins e tratamento acústico

Paula Autran

Villa-Lobos e Pixinguinha se encontrarão na Lapa, no vaivém de músicos que serão retratados no novo gradil da Escola de Música da UFRJ, na Avenida República do Paraguai, que passa por uma grande reforma, incluindo a recuperação de dois prédios centenários que integram o complexo e a construção de um novo edifício. Para idealizar o mobiliário, que vai mudar a paisagem daquela região do Centro, foi convidada a designer BitizAfflalo e o ilustrador Rafael Fonseca, responsável pelos desenhos de mestres da música, que já estudaram no lugar, retratados em chapa galvanizada. A ampliação do conjunto arquitetônico, noticiada por Ancelmo Gois, em sua coluna no GLOBO, faz parte da comemoração dos 165 anos da instituição. As obras, que custarão R$ 15 milhões, serão concluídas em dois anos. O novo prédio começará a ser construído depois e deve ficar pronto em 2019. Ele terá oito andares de salas de aula para melhorar a vida dos cerca de mil alunos que se espremem hoje nos dois prédios existentes, onde há apenas um banheiro. Atualmente, não há tratamento acústico no espaço onde salas de concerto convivem com áreas administrativas.

— A ideia de ilustrar o gradil com pessoas passando surgiu porque, como vamos abrir uma entrada do prédio anexo para a República do Paraguai, e o novo também será voltado para lá, pensamos em movimentar aquela calçada, hoje em dia muito erma — conta a arquiteta Andrea Borde, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, que coordena o projeto.

Terraço para visitantes

O conjunto arquitetônico ganhará também um terraço aberto à visitação, com vista para a Lapa e a Baía de Guanabara, além de uma passarela que ligará todas as unidades. A novidade é uma das modificações feitas para melhorar a acessibilidade. Um elevador será construído no lugar onde fica hoje uma cantina, improvisada entre os dois prédios já existentes.

— Hoje, se um aluno está no terceiro andar do prédio anexo e vai tocar no salão Leopoldo Miguez, ele tem que descer carregando o peso do instrumento, sair de um prédio e entrar no outro, sujeito à chuva, por exemplo — diz Andrea.

O maestro André Cardoso, atual diretor da escola, só vê vantagens na reforma, que beneficiará alunos da iniciação musical à pós-graduação:

— A reforma vai caracterizar cada prédio. Vamos ganhar banheiros e camarins.

A Escola de Música da UFRJ é o endereço que conta a história do ensino musical carioca e nacional. Surgiu quando a Sociedade de Música, em 1841, pediu autorização para criar um Conservatório de Música a fim de formar novos artistas para orquestras e coros. Chamado depois de Instituto Nacional de Música, a atual Escola de Música é subordinada à universidade desde 1965. O imóvel só foi inaugurado em 1922. Por lá passaram nomes como Antônio Carlos Gomes (“O Guarani”) , Francisco Braga (autor do Hino à Bandeira), Pixinguinha, Villa-Lobos e Wagner Tiso.

Obras no prédio principal já estão em andamento

Já o novo gradil, que será instalado no final do ano que vem, se estenderá da esquina da Rua do Passeio até a Escola Superior de Desenho Industrial da Uerj (Esdi). Ao mesmo tempo, as obras no prédio principal do complexo já estão em andamento. As salas de concerto Leopoldo Miguez, de acústica exemplar, ganharam adaptações feitas por Andrea Borde, com base em um projeto de 2005. Restaurado pela última vez há cinco anos, o painel “Paisagem urbana” de Ivan Freitas, com 25 metros de altura e 960m de comprimento, pintado em 1984, também será recuperado. A obra fica no prédio principal da Escola de Música da UFRJ, mas ainda não há data para a inauguração do painel recuperado.

— Estamos redefinindo os espaços do conjunto arquitetônico. Esse edifício principal ficará reservado para concertos. Para isso, algumas salas de aulas do térreo serão transformadas em camarins reversíveis para salas de aula, caso seja necessário, e as janelas ganharão tratamento acústico. Já o segundo prédio ficará reservado para aulas e para a administração da escola, embora também vá ganhar uma sala para concertos de câmara. E o terceiro, a ser construído, terá oito andares para salas de aula e uma cafeteria aberta no térreo — explica a arquiteta. — Vou fazer uma fachada dupla, com um vão de 65 centímetros, para amenizar o calor do sol da tarde. O vento correndo ali vai diminuir a temperatura. E, à noite, será possível ver os alunos em aula.

Origem: O Globo, 16/10/2013