Os projetos (reais ou imaginários) para o Rio do arquiteto Indio da Costa

Apaixonado pela cidade, ele faz 50 anos de carreira

Por Josy Fischberg

O arquiteto Indio da Costa em seu escritório, no Humaitá – Ana Branco / Agência O Globo

 

RIO – A fachada da casa na Rua Pinheiro Guimarães, entre Botafogo e Humaitá, é bastante discreta. Apenas o logotipo no alto da construção, desenhado a partir de uma combinação das letras “i” e “c”, de Indio da Costa, sugere vagamente o que funciona ali dentro. Poucos cariocas imaginam, mas daquele escritório de arquitetura já saíram ideias que efetivamente transformaram — ou ainda estão transformando — certas áreas do Rio de Janeiro. Muitas outras não chegaram a se concretizar, mas dão a dimensão de como o responsável por elas é um sujeito apaixonado pela cidade. O arquiteto Luiz Eduardo Indio da Costa já sonhou até em ver os morros da Zona Sul interligados a partir de bondinhos, tendo como ponto de partida o Pão de Açúcar.

Hoje, aos 77 anos de idade e 50 de carreira, é ele o responsável pela integração do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) às ruas do Centro, por duas grandes estações do BRT, além da parceria com um escritório internacional no Museu da Imagem e do Som (MIS), citando apenas alguns dos projetos que estão em andamento.

— Quando resolvi fazer arquitetura, nos anos 1950, era uma profissão marginal. É claro que havia Oscar Niemeyer já como expoente, mas ele era praticamente o único — explica o arquiteto. — Eu, que vinha de uma família de advogados, devo ter chocado as pessoas em volta com a minha decisão. Gostava de cinema, música, pintura, achei que era lógico não seguir uma carreira de terno e gravata.

A confirmação de que aquele era realmente o caminho certo veio dentro da Catedral de Notre-Dame, em Paris:

— Existe uma alquimia na arquitetura. Numa catedral gótica, isso fica ainda mais evidente. Quando você “desmonta” aquele cenário, percebe que ele é, na verdade, um monte de areia, pedra, vidros… É fantástico que a partir disso erga-se uma construção grandiosa.

Indio da Costa costuma dizer, em tom de brincadeira, que desde então vem tentando fazer a sua própria catedral, mas que ainda não conseguiu. De todo modo, ele já deixou sua marca no Rio com projetos como o Rio Cidade Leblon. Inaugurada em 1996, a obra modificou uma área de cem mil metros quadrados no bairro, priorizando a iluminação para pedestres com postes baixos, modificando paisagem e mobiliário urbano.

— Foi um trabalho feito com a comunidade. Eu tinha um arquiteto de plantão que atendia todos os moradores. E foi o primeiro projeto que fiz em parceria com o Guto, meu filho — explica.

O arquiteto se refere ao designer Luis Augusto Indio da Costa, que, após ter concluído os estudos fora do Brasil, voltou para trabalhar com o pai no escritório. Quase 20 anos depois do Rio Cidade, os dois novamente assinam um outro projeto tão importante quanto ele.

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— O Guto está fazendo as paradas do VLT, e eu faço a inserção urbanística dessas paradas no Centro. Precisa compatibilizar calçadas, postes, meio-fio…

 

Projeto da Marina da Glória, que foi interrompido – Divulgação

 

Para o arquiteto e urbanista Luiz Fernando Janot, Indio da Costa sempre busca incorporar inovações tecnológicas aos seus projetos. O Rio Cidade Leblon, ele aponta, é dos poucos que conseguem manter suas características originais:

— Foram usados materiais de altíssima qualidade, que estão lá até hoje. O Rio Cidade Leblon é uma das grandes obras do Indio da Costa e da cidade.

Para cada projeto executado, Indio da Costa explica que há muitos que não saem do papel. Um deles, por exemplo, previa que os bondinhos do Pão de Açúcar passassem por dentro da própria pedra.

— Fomos contratados pela Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar, ainda nos anos 1990, para fazer este projeto e pensamos em substituir as estações de acesso por reentrâncias na rocha — conta.

A partir do mesmo Pão de Açúcar, surgiu outro grande desejo, chamado Rio Panorâmico, desenvolvido para a mostra “Penso cidade”, que reuniu projetos, ideias e estudos polêmicos sobre o planejamento urbano carioca. A proposta era criar dois circuitos independentes de teleféricos: um na Zona Sul, partindo da Praia Vermelha; e outro que percorreria a Zona Norte, a partir do Itanhangá.

— Ao contrário do que muita gente pensa, não seria um projeto complexo. Imagine que no início do século XX os bondinhos do Pão de Açúcar foram instalados. Estamos em 2015, não há nenhum desafio tecnológico especial — analisa.

Outros dois projetos mais recentes que poderiam mudar radicalmente paisagens importantes da cidade ainda são lembrados pelo arquiteto. O primeiro é o da Marina da Glória, com paisagismo de Haru Ono. O outro é a highline na Avenida Presidente Vargas.

— A highline ainda pode sair do papel. Quando fui convidado para fazer duas estações do BRT, na Francisco Bicalho e na Presidente Vargas, imaginamos uma elevação da cobertura deste segundo local, para fazer uma grande praça linear. As pessoas subiriam até essa praça e dali desceriam para a estação. Não começamos porque havia a preocupação de que o projeto todo não ficasse pronto até as Olimpíadas. Mas, depois, ele ainda poderá ser retomado.

 

A partir do alto, highline na Avenida Presidente Vargas, que seria feita em cima da estação do BRT – Divulgação

 

Com tantos projetos, o dia a dia de Indio da Costa é intenso. Chega ao escritório todos os dias às 9h, vai embora às 19h. Duas a três vezes por semana, passa pelas obras. Se ele tira férias?

— Eu me sinto eternamente de férias — diz, rindo. — Trabalho em algo de que gosto tanto que nem parece trabalho.

 

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