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Urban imagination and social innovation through design & science

The real-time city is real! As layers of networks and digital information blanket urban space, new approaches to the study of the built environment are emerging. The way we describe and understand cities is being radically transformed—as are the tools we use to design them. The mission of the Senseable City Laboratory—a research initiative at the Massachusetts Institute of Technology—is to anticipate these changes and study them from a critical point of view.

Not bound by the methodologies of a single field, the Lab is characterized by an omni-disciplinary approach: it speaks the language of designers, planners, engineers, physicists, biologists and social scientists. Senseable is as fluent with industry partners as it is with metropolitan governments, individual citizens and disadvantaged communities. Through design and science, the Lab develops and deploys tools to learn about cities—so that cities can learn about us.

 

Tel Aviv vai ganhar prédio de 100 andares, mais alto que o Pão de Açúcar

Bein Arim com seus futuros 100 andares em arte dos arquitetos

 

A Comissão de Planejamento e Construção do Distrito de Tel Aviv aprovou a construção da torre Bein Arim (Entre as Cidades), com 100 andares, o que irá se constituir no edifício mais alto de Israel. A expectativa é que tenha mais de 450 metros de altura. Comparativamente, o Pão de Açúcar chega aos 396 metros.

Sua localização será num atual estacionamento pertencente a prefeitura da cidade, próximo a estação de trem Savidor e estrada Ayalon.

 

Bein Arim com seus futuros 100 andares e um perfil muito radical em arte dos arquitetos

 

Serão disponibilizados 120.000 metros quadrados para escritórios e lojas. Os últimos 15 andares vão ser ocupados por um hotel com uma vista das mais espetaculares.

 

Azrieli Towers já foram um espanto com quase 50 andares em Tel Aviv

 

As duas Torres Azrieli, completadas 1999 são a circular com 49 andares e 187 metros de altura, a triangular com 169 metros de altura e 46 andares, a quadrada, completada em 2007 com 42 pisos e 154 metros, dominando a paisagem da cidade vão se encolher. A saber, o complexo Azrieli oferece 150.000 metros quadrados e área comercial. Estes três edifícios impressionantes nem são os mais altos de Israel apesar de parecerem. O complexo abriga também o maior shopping center de Israel.

 

Azrieli Sarona Tower atualmente a mais alta de Israel, com seu design torcido muito interessante, inaugurada em Tel Aviv em 2017.

 

Até a inauguração da Bein Arim, o título do prédio mais alto de Israel permanece com a Azrieli Sarona Tower inaugurada em 2017, em Tel Aviv. Ela tem 53 andares e 238 metros de altura, seguida pela Moshe Aviv Tower de Ramat Gan com seus 68 andares e 235 metros de altura.

 

Moshe Aviv Tower de Ramat Gan

 

Jun 11, 2018  José Roitberg

Arquitetura Social: O mal-entendido que levou Ruy Ohtake a Heliópolis, em SP

Arquiteto e urbanista projetou conjunto habitacional e espaços públicos para a favela da capital paulista.

 

 

A história do conjunto habitacional dos “Redondinhos”, em Heliópolis, São Paulo, começou com uma fala mal interpretada de Ruy Ohtake. Em 2003, uma revista publicou a seguinte declaração atribuída ao prestigiado arquiteto e urbanista: “O que acho mais feio em São Paulo é Heliópolis”. Depois de ver a reportagem, Ohtake esclareceu que a intenção foi dizer que o mais feio na cidade era a diferença entre bairros ricos e pobres – “a diferença entre o bairro do Morumbi e Heliópolis, a maior favela”, corrigiu.

 

Na semana seguinte, uma provocação mudou o curso previsível da história: João Miranda, líder comunitário em Heliópolis, ligou para Ohtake. Em vez de exigir explicações, pediu ao profissional que ajudasse o lugar a ficar mais bonito. Conhecido por obras como os hotéis Unique e Renaissance e o Instituto Tomie Ohtake, dedicado à obra de sua mãe, Ruy se viu diante de um desafio até então inédito na carreira – a “Arquitetura real”, como ele chama.

 

Ruy Ohtake falou a respeito de trabalhos em Heliópolis durante palestra em Brasília (Foto: Karina Santiago/Centro Cultural do TCU)

 

A história foi narrada pelo arquiteto e urbanista em uma palestra em Brasília, no dia 6 de junho, realizada pelo Centro Cultural do TCU com o apoio do CAU/BR (saiba mais aqui). Assista ao trecho em que Ruy Ohtake fala sobre o assunto, registrado por Emerson do Nascimento Fraga, conselheiro federal pelo Maranhão:

 

 

A interação foi o ponto de partida para uma empreitada prolongada junto à comunidade, que envolveu vários projetos. Os principais foram um conjunto habitacional e o Pólo Educativo e Cultural de Heliópolis, que inclui uma biblioteca pública, um centro cultural com cinema e galeria e espaço para feira de produtos artesanais, além de uma escola técnica.

 

Ruy Ohtake concebeu e coordenou os trabalhos de forma voluntária, com a colaboração da arquiteta Daniela Della Volpe e o apoio da União dos Núcleos e Associações de Moradores de Heliópolis e São João Clímaco (Unas) e da Prefeitura de São Paulo

 

REDONDINHOS

 

Localização da favela de Heliópolis, em São Paulo, e croqui do conjunto habitacional dos “Redondinhos” (Imagem: RuyOhtake.com.br)

 

A obra de maior porte projetada para a comunidade foi o conjunto habitacional com os prédios cilíndricos, conhecidos como “Redondinhos”. De acordo com Ohtake, o projeto foi elaborado a partir de conversas feitas pessoalmente com os moradores de Heliópolis e considerando as preocupações que eles levantavam. A primeira delas foi com relação a corredores – em conjuntos habitacionais já entregues, eles viraram espaço para comércio, tráfico e drogas e prostituição. “Falaram: Ruy, a gente não sabe viver em apartamento. Vai ocorrer isso”, conta o arquiteto e urbanista.

 

Considerando essa preocupação, Ohtake projetou o edifício sem corredores. “Com circulação de escada e hall de 5 por 5, com as quatro entradas dos apartamentos”, explica. “Os caras falaram: puxa, que solução linda, tá ótimo, vamos pra frente. Aí eu falei: não estou satisfeito, porque essa forma não tem graça nenhuma. Eu vou fazer redondo”.

 

Planta de andar de um dos “Redondinhos” (Projeto: Ruy Ohtake)

 

 

A escolha da forma cilíndrica, que se tornou um marco dos edifícios, não foi meramente estética. “No redondo, primeiro, se eu tenho dois prédios, não encostam um no outro, precisa deixar separado. Ao separar, eu dou dignidade para os quatro apartamentos: sol direto, ventilação direta etc. E na sala, eu consigo por três janelas, uma luz bem boa”.

 

São 19 “redondinhos” com fachadas coloridas, nas bordas do lote. No centro, ficam parquinho, quadra esportiva e um espaço de uso comunitário. Cada edifício tem quatro andares e 18 apartamentos de aproximadamente 50 m², totalizando 342 unidades. Os blocos têm quatro apartamentos em cada um dos quatro andares. Há ainda dois apartamentos no térreo, que abrigam idosos ou pessoas com deficiência.

 

Interior de um dos apartamentos: sala tem três janelas (Foto: Daniel Ducci/Divulgação)

 

PAPEL DO PROFISSIONAL NA ARQUITETURA SOCIAL

 

Para Ohtake, o papel do arquiteto e urbanista é múltiplo ao atuar em Arquitetura Social. “Quando atua em programas sociais, o arquiteto tem que assumir duas atitudes: como técnico e como cidadão. É fundamental conversar com a comunidade, sentir o que os moradores pensam, não se fechar em um escritório para projetar de forma isolada”.

 

O resultado disso, segundo o arquiteto, é dar dignidade às pessoas da comunidade –coisa que não ocorreu na maior parte dos conjuntos do programa “Minha Casa, Minha Vida”, critica. “Foi um desastre. Parece uma plantação de alface, tudo igual. Apenas as empreiteiras ficaram satisfeitas, pois foram contratadas para fazer os projetos e as obras numa empreitada só”.

 

Parte central do conjunto habitacional tem equipamentos públicos (Foto: Daniel Ducci/Divulgação)

 

VÍDEOS RELACIONADOS

 

Mini-documentário “Ruy Ohtake e sua Arquitetura em Heliópolis”

Jornal da Gazeta – Ruy Ohtake leva obras à favela de Heliópolis

Programa Ação – Unas e Ruy Ohtake

Arq!Bacana faz passeio pelos “Redondinhos” com Ruy Ohtake

 

SÉRIE ESPECIAL DE REPORTAGENS

 

Esta reportagem faz parte de uma série especial do CAU/BR e dos CAU/UF que está mostrando o trabalho de arquitetos e urbanistas que, superando orçamentos reduzidos e unificando diferentes opiniões, conseguiram desenvolver moradias dignas e de qualidade para as famílias de baixa renda.

 

Você atua em projetos de habitação social? Envie um e-mail para habitacaosocial@caubr.gov.br falando sobre o seu trabalho na área. Não se esqueça de inserir os autores dos projetos, contatos das pessoas envolvidas (arquitetos, autoridades e beneficiários), com um breve descritivo do projeto e até três fotos/ilustrações. Se sua história for selecionada, o CAU entrará em contato para produzir uma reportagem especial sobre os projetos.

 

SAIBA MAIS

 

Arquitetura Social: Confira 10 dicas para começar a empreender na área

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Arquitetura Social: CAU/BR e CAU/UF destacam projetos inovadores

 

 

(Foto do topo: Vista aérea do conjunto dos “Redondinhos”, em Heliópolis, São Paulo. Projeto de Ruy Ohtake. Foto de Daniel Ducci)

 

 

Por CAU/BR

Is Religious Architecture Still Relevant?

09:30 – 12 April, 2018

 

by 

 

Some of the greatest architectural works throughout history have been the result of religion, driven by the need to construct spaces where humanity could be one step closer to a higher power. With more people choosing a secular lifestyle than ever before, are the effects that these buildings convey—timelessness, awe, silence and devotion, what Louis Kahn called the “immeasurable” and Le Corbusier called the “ineffable”—no longer relevant?

With the Vatican’s proposal for the 2018 Venice Biennale, described as “a sort of pilgrimage that is not only religious but also secular,” it is clear that the role of “religious” spaces is changing from the iconography of organized religion to ambiguous spaces that reflect the idea of “spirituality” as a whole.

So what does this mean? Is there still a key role for spirituality in architecture? Is it possible to create spaces for those of different faiths and those without faith at all? And what makes a space “spiritual” in the first place?

It is interesting to note that there is no fundamental or essential form for worship spaces in most major religions. Although we think of minarets for Islam and Gothic cathedrals for Catholicism, throughout history many sacred spaces were easily switched from one religion to another depending on those in power. For example, the Pantheon was stripped of its sculptures of Pagan gods and replaced with Christian imagery while the architecture itself stayed the same and played the same role. Buildings erected on Biblical sites have changed from churches to mosques to synagogues. Built sacred spaces, no matter the religion, often share very similar typologies, with the use of light and scale to evoke a sense of awe and piety.

However, historical architecture has very rarely built spaces with the purpose to house multiple religions. An exception is the Golden Temple in Amritsar (1577), where entrances on all four sides represent the temple’s willingness to open its doors for people from all walks of life and religions. But the historic desire to clearly separate the architecture of different faiths is changing, with the Temple of All Religions in Russia (1992) tackling the architectural problem by juxtaposing Greek Orthodox domes with Russian minarets and ornamental flourishes that would be at home in a Jewish synagogue or Islamic mosque. And currently being built in Berlin is the House of One (2015), where a church, synagogue, and mosque will exist under the same roof.

Another interesting way this issue has been explored is through “multifaith” rooms that exist in airports, shopping centers, hospitals, prisons, schools, and government buildings. These multifaith rooms, often invisible if one does not look for them, are typically simply an empty, white-walled room tucked in somewhere without any input by architects, where people of different faiths can come in to worship while waiting for a plane or a discharged patient. Andrew Crompton, Head of the School of Architecture at the University of Liverpool, explores the phenomenon of multifaith spaces and describes them as “mundane spaces without an aura,” explaining that “in order not to be meaningful in an inappropriate way, they use banal materials, avoid order and regularity, and are the architectural equivalent of ambient noise.” [1] Rather than attempting to promote unity through inclusion, using the Temple of All Religions’ approach of a strange eclectic mix of everything, these multifaith rooms attempt to promote unity by stripping away anything that evokes the sacred, leaving us with nothing.

But are “spiritual” or “multifaith” spaces even relevant in a time where rates of religiosity are declining rapidly? In fact, they may be more important than ever. Julio Bermudez’s collection of essays, Transcending Architecture: Contemporary Views on Sacred Space describes how “our contemporary civilization has exacerbated the feelings of existential emptiness and meaninglessness” and that the need for “spiritual” or “transcendent” space could not be more relevant. [2] With consumerism and hyper-connectivity, where we are continually besieged by constant images, noise, and information, the need for spaces to reflect, to meditate and to feel silence is crucial. In this way, spirituality in architecture can be completely disconnected from organized religion and take on a new role—with architecture that creates a sense of wonder, a space for reflection, and a glimpse into clarity.

The ways to create these architectural conditions can be learned from the structures of the past, to recreate the atmosphere of self-reflection and awe without the necessity of religion. Through form, space, scale, materiality, and light, the role of spiritual spaces can begin to form a new typology, one that today’s society can benefit from. Louis Kahn believed that spiritual spaces could be created through silence and light, evidenced in his projects such as the Salk Institute, where a program of religious worship was not essential to the creation of a sacred place. He described his use of light and dark in his architectural work as pertaining to the philosophy that “even a space intended to be dark should have just enough light from some mysterious opening to tell us how dark it really is.” [3] In the Salk Institute, the stark difference between the shadowy cloisters beneath the laboratories and the open brightness of the plaza emphasizes the qualities of light in each of those spaces, heightening the sense of drama and emotion. In Robert McCarter’s tome on Louis Kahn, he describes that although this plaza does not have a formal program, it “remains one of the most powerful and deeply moving spaces ever built.” [4]

Another way in which architects have tackled the question of how to create spiritual spaces is through the use of nature. The dappled shadows cast by the branches of an ancient tree, or the way the ocean laps gently against the shore, are all moments in nature that create a sense of tranquillity, working to uplift the human spirit. In the Salk Institute and Carlo Scarpa’s Brion Cemetery, the use of water flowing through the site acts as a moment of calm, its precision and simplicity creating a brief moment of absolute clarity. In Peter Zumthor’s Therme Vals water is an essential part of the program and, paired with the materiality of the quartz stone walls, it creates a surreal and meditative space. These examples give a hint to how these new spiritual spaces can be built, where the emphasis moves from specific religions to a space for all that is necessary for all.

Our ongoing architectural fascination with cathedrals, mosques, and temples points to the continuing relevance of religious architecture. Although we may not all follow the traditions and beliefs of organized religion, the effects that these buildings create suggests a new type of architecture that can be relevant and even essential in our current world.

Just as ivy grows round a wall for centuries, so the cathedrals have grown around the silence. They are built around the silence.
—Max Picard, The World of Silence

References

  1. Crompton, Andrew. “The Architecture of Multifaith Spaces: God Leaves the Building.” The Journal of Architecture, Volume 18 Issue 4 (2013).
  2. Bermudez, Julio. “Transcending Architecture: Contemporary Views on Sacred Space.” The Catholic University of America Press (2015).
  3. Kahn, Louis. and Vassella, Alessandro. (2013). Silence and light. Zurich: Park Books (2013)
  4. McCarter, Robert. (2005). Louis I. Khan. London: Phaidon (2009)

Balkrishna Doshi, o arquiteto indiano que transforma refúgios em moradias

Os edifícios do mais novo prêmio Pritzker mostram como a depuração da arquitetura tradicional cria prédios modernos.

 

Sangath, o estúdio do arquiteto Balkrishna Doshi, em Ahmedabad (Índia). Sangath, nome dado ao complexo, significa “avançar juntos por meio da participação”

“O design transforma refúgios em moradias.” Balkrishna Doshi (Pune, Índia, 1927), o primeiro arquiteto indiano e também o mais velho a receber o prêmio Pritzker, passou quase 70 anos demonstrando que a depuração da arquitetura tradicional cria edifícios modernos. É essa abstração, que os afasta dos modismos, que também impede que sejam datados. Doshi também tem defendido que o urbanismo, o paisagismo e a arquitetura não podem ser separados. E também que, na arquitetura, a responsabilidade é tão importante quanto a identidade.

O vencedor do prêmio Pritzker deste ano — em 2017, os vencedores foram os espanhóis do estúdio RCR — estudou arquitetura em Mumbai. Com 24 anos, viajou a Paris e permaneceu quatro anos na França trabalhando com Le Corbusier. Com ele, fez projetos em Chandigarh e Ahmedabad. Seria nesta cidade, a quinta mais populosa da Índia, onde cresceria profissionalmente fundando e construindo as escolas de arquitetura e urbanismo que comandou durante décadas.

Em 1962, quando os empresários têxteis de Ahmedabad pensaram em construir uma escola de negócios, o premiado arquiteto contou-lhes sobre Louis Kahn. O projetista do Museu de Arte Kimbell morreu quando voltava de uma das visitas às obras. Nunca viu seu edifício terminado. Mas deixou a marca das abóbodas no museu que, naquela época, era construído no Texas. Nem Doshi esqueceria as lições de Kahn, nem Kahn esqueceria as de Doshi. De seu “guru” Le Corbusier, havia aprendido a usar o concreto e a linguagem moderna. Com Kahn, aprendeu que o arcaico depurado mantém sua vigência.

O arquiteto indiano Balkrishna Doshi.

Os cilindros, os grandes arcos e as “abóbodas semienterradas”, segundo sua denominação, tornaram-se seu selo arquitetônico. No entanto, as utiliza porque permitem conviver com o sol e com a chuva. Sagath, o estúdio que construiu em 1980 em Ahmedabad, prova isso. O termo significa “avançando juntos” e, como Frank Lloyd Wright fez em sua escola-estúdio em Taliesin, também é um lugar que funciona como escritório e escola para 60 pessoas.

Doshi, que defende a arquitetura como transformação, viu sua cidade e seu país crescerem além das marcas do colonialismo britânico no qual nasceu. E, com frequência, tem dito que não é a oposição ao anterior, e sim sua digestão o que permite prosperar.

Nos mais de 100 edifícios e bairros que ele e seu estúdio construíram na Índia, os pátios, as persianas, as pérgolas que protegem os deslocamentos, a largura das ruas e as sacadas souberam lidar com o sol e aproveitar as brisas com uma sustentabilidade lógica e tradicional, que não precisa de rótulos, e que Doshi defende desde a década de setenta do século passado, quando também projetou, em Ahmedabad, o Instituto de Tecnologia e Meio Ambiente.

Compassivo, amável e sofisticado: é como descreve o ser humano. Humilde, anônima e sem adjetivos: é como sempre defendeu como a arquitetura deve ser. Mas que ninguém se confunda: a sustentabilidade ambiental, agora na moda, só pode ir de mãos dadas com a sustentabilidade econômica e responsabilidade social. É o modelo que tem sido defendido pelos grandes arquitetos universais. Luis Barragán, no México, e Oscar Niemeyer, no Brasil, deixaram claro que a tradição é que entende os lugares, e que a depuração moderna deve trabalhar a partir dela. Por isso, a modernidade de Doshi, assim como a de Niemeyer e de Barragán, é uma digestão, e não uma cópia.

Para este arquiteto indiano, como também para o desaparecido Charles Correa, era essencial reivindicar sua própria cultura em um momento em que o país acabava de conseguir sua independência. Embora também fosse essencial não se isolar e conseguir falar de si próprio para o mundo. Esse esforço está presente no discurso de um arquiteto tão fundamental pelos edifícios que construiu, quanto por seu compromisso com a educação de arquitetos capazes de trabalhar a partir do lugar e meios disponíveis, e não de teorias abstratas.

A Casa Kamala é a residência de Doshi em Ahmedabad (1958). Nela, a luz natural que penetra pelas junções entre os planos coexiste com a proteção que ameniza o excesso de luz solar.

Reconhecendo a trajetória de Doshi, o Pritzker lhe oferece uma medalha. Por um lado, premia um pioneiro quando se trata de projetar com os pés no solo, e não à distância nos escritórios. Por outro lado, reconhece uma arquitetura que concede a todos os sentidos — do tato à audição — a mesma importância que à visão. É muito difícil explicar o trabalho de Doshi com imagens. Em parte, é onde está seu valor: porque fala mais de um lugar do que de si mesmo. E o faz, não é necessário lembrar, com a responsabilidade de construir com os meios disponíveis. Ou seja, de maneira social, econômica e ambientalmente sustentável. Com 90 anos, é o arquiteto premiado com mais idade. Não questionaremos por que o Pritzker não o reconheceu antes. Seu prêmio entra na lista das recentes premiações concedidas a Wang Shu, Alejandro Aravena e Shigeru Ban e redefine a arquitetura como uma disciplina que entende o mundo inteiro (e não 5% do planeta) como seu campo de ação.

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