Notícias

Mercado imobiliário consolida crescimento

A forte demanda por imóveis projetada por especialistas e a mudança de perfil demográfico da população mostram um crescimento sustentável do mercado imobiliário no Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro continua lindo. E cada vez mais valorizado. O mercado imobiliário do Rio vem registrando uma enorme diversificação de produtos, cada vez mais personalizados, e uma crescente demanda por eles.

Empreendimentos que são verdadeiros bairros, imóveis que já vêm mobiliados e prontos para morar, apartamentos de altíssimo luxo que despertam o interesse de estrangeiros, inovações sustentáveis e empreendimentos que possibilitam ao carioca livrar-se dos longos engarrafa mentos em deslocamentos diários formam hoje um novo e promissor cenário na cidade.

“Este cenário de diversificações, aliado às obras de infraestrutura, à política de segurança e ao calendário de grandes eventos no Rio, dá a 2014 o contorno de ano das oportunidades no segmento imobiliário”, analisa Rubem Vasconcelos, presidente da Patrimóvel e vice-presidente da ADEMI (Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário). A ampliação do crédito e o histórico déficit habitacional brasileiro, na casa de cinco milhões de habitações (dado de 2012, último levantamento do Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), também fazem parte das estatísticas que impulsionam o cresci mento do setor.

Pedro Seixas, coordenador do curso de Gestão de Negócios de Incorporação e Construção Imobiliária, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio), diz que a demanda projeta da por imóveis no Rio é muito forte e decorre da própria mudança do perfil demográfico da população:

“Se, anteriormente, havia uma pirâmide onde no topo estavam os idosos, no meio os produtivos e na base os jovens, hoje temos um retângulo. A parte central é muito maior que o topo e a base. É uma população que produz e consome, gerando aumento de renda. Essa mesma população tem uma de manda reprimida pelo seu primeiro imóvel. Com renda maior e ampliação do crédito, a demanda por imóveis se torna crescente”. Seixas vai além: “É um crescimento sustentável e não artificial como ocorreu nos EUA’

Este crescimento artificial do mercado norte-americano a que se refere o professor aconteceu em 2008, quando a valorização especulativa dos imóveis gerou uma das maiores crises econômicas dos EUA e que ficou conhecida como “bolha imobiliária”. “Aqui no Brasil a alta do merca do dos imóveis foi consequência da demanda maior que a oferta, que é uma oferta real e não especu1ativa’ completa.

João Paulo de Matos, presidente da ADEMI, lembra que lá houve uma alavancagem financeira: “A pessoa pegava um financiamento de 100% do valor do imóvel e em cima dele constituía uma nova hipoteca para adquirir outro bem e assim por diante. Além do mais, no Brasil o crédito imobiliário financia até 80% do valor do imóvel e seu endividamento em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) está em torno de 8%, enquanto que nos EUA é de 80%. Não há nenhuma chance de haver bolha”.

A certeza do presidente da ADEMI encontra amparo nas recentes declarações do diretor de Fiscalização do Banco Central, Anthero Meirelles: “Aqui a gente não tem subprime, não tem segunda hipoteca em praticamente nenhuma residência e mais de 90% dos imóveis são para moradia”,.

No que depender dos números de vendas realizadas pelas imobiliárias, verdadeiros “termômetros” do ambiente de negócios no segmento, o cenário para 2014 é de excelentes oportunidades: “Aumentamos em 70% o Valor Geral de Vendas no primeiro bimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado”, diz, otimista, Sandro Santos, diretor da Sawala Imobiliária. Também a Brasil Brokers vem registrando o crescimento do setor: “Vendemos R$ 3,5 bilhões em imóveis prontos ano passado e 50% disso foi pago à vista pelos compradores”, informa Sérgio Freire, presidente do grupo.

Integrando as estatísticas dos brasileiro que estão adquirindo imóveis, o administrador Eduardo Augusto Vahia comprou uma unidade do empreendimento Vintage Way, em São Conrado, empreendimento da João Fortes Engenharia que foi 100% vendido em menos de uma semana. A instalação de urna Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na comunidade da Rocinha foi um dos fatores que estimulou a compra:

“Sou um investidor conserva dor. Opto sempre pelo que alia a oportunidade de valorização à segurança. Os empreendimentos estão cada vez mais diversificados, o que ajuda a garantir rentabilidade. Comprei com absoluta tranquilidade com relação à solidez do investimento”, afirma Vahia, que não vê qualquer possibilidade de bolha.

Uma possibilidade, aliás, que o presidente da Patrimóvel e vice-presidente da Ademi, Rubem Vasconcelos, afasta com segurança: “A bolha nunca vai estourar por uma razão bem simples: ela não existe”.

Mercado imobiliário do Rio de Janeiro – Zona Oeste

Zona norte

Cinco lançamentos

A CTV Construtora prepara cinco lançamentos para este ano, todos na Zona Oeste. Serão cinco residenciais, que totalizam 130 unidades, e previsão de Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 51 milhões. Os bairros escolhidos, segundo Felipe Videira, diretor da empresa, são Sulacap, Quintino, Irajá, Maria da Graça e Méier.

Mercado imobiliário do Rio de Janeiro – Barra da Tijuca

Condomínio com 207 unidades

A Barra da Tijuca permanece como uma das regiões que mais recebem lançamentos imobiliários. Só em 2013, segundo dados da Ademi-RJ (Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário, foram 2.725 novas unidades. A Gafisa, por exemplo,

está lançando neste final de semana o AlphaGreen, residencial que será construído no bairro planejado Alphaville Barra. O empreendimento terá 207 unidades, sendo 179 apartamentos de duas suítes, todos com varanda gourmet. O condomínio, com acesso pela Avenida das Américas, tem conceito de resort, com 10 mil metros quadrados de área de lazer, e mais de 35 itens como a Cidade das Crianças, o complexo poliesportivo com quadra de tênis, campo de grama natural e vôlei de areia, piscinas adulto e infantil, pista de caminhada, e academia. O Valor Geral de Vendas (VGV) é de R$ 200 milhões.

Minha casa, minha vida

Como os EUA tratam os seus sem-teto

Raul Juste Lores

Resumo: Governo americano e ONGs investem grandes somas em programas que dão moradia, em vez de abrigo temporário, a sem-teto. Veteranos de guerra, ex-drogados e doentes mentais recebem apoio para reintegração à vida comum, e país vê queda no número de pessoas em situação de rua, apesar da crise econômica.

Deitado em um banco com encosto na praça Lafayette, em frente à Casa Branca, o porto-riquenho Miguel, 40, não acreditou na proposta feita por uma assistente social. “Oferecemos a você uma casa, ajudamos a pagar o aluguel, a comprar móveis e a cuidar da sua saúde”, ele ouviu em uma madrugada no mês passado, em pleno inverno, em Washington.

Alcoólatra e desempregado, Miguel diz que apesar dos turistas e dos protestos, a vizinhança “é sossegada e segura à noite”.

No dia seguinte, quando a assistente social voltou, Miguel não estava lá. “Pode ser medo da polícia, de não querer ir para um albergue. Às vezes levamos seis meses para ganhar a confiança dos nossos clientes”, diz Hannah Zollman, acostumada a procurar os sem-teto embaixo de pontes, em bancos ou em pontos turísticos da capital norte-americana.

Ela tabula a localização dos sem-teto, identifica lideranças entre eles, usa perguntas “motivacionais” ensaiadas para quebrar a resistência e leva roupas, cobertores e sopa quente para iniciar a aproximação. E, de fato, oferece moradia permanente.

Sua promessa não era exagerada. De ONGs ao governo federal americano, a política hoje dominante para atender os sem-teto é a chamada “housing first” (primeiro, casa). Desde 2010, o Departamento de Habitação do governo americano tem investido US$ 2 bilhões (cerca de R$ 4,7 bi) por ano para patrocinar vouchers para pagamento de aluguel e programas de “habitação social de apoio permanente” organizados por centenas de ONGs pelo país.

Há 300 mil pessoas atualmente vivendo com vouchers do governo e com assistência social –eles são quase a metade dos 615 mil americanos em situação vulnerável de perder o teto.

“Os albergues para os sem-teto acabam perpetuando o problema. Sem-teto precisa de casa em primeiro lugar. De casa financiada pelo governo e assistência social e médica”, defende o psicólogo nova-iorquino Sam Tsemberis, que fundou há 20 anos a ONG Pathways e é considerado o pioneiro do “housing first”.

“É muito difícil alguém com um problema de saúde mental ou com um vício recuperar a sua vida em um albergue lotado, sem privacidade ou estabilidade.”

VULNERÁVEIS

O governo comemora uma queda de 23% no número dos sem-teto no país entre 2007 e 2013, mesmo com a recessão de 2008 e 2009 e a tímida recuperação econômica desde então.

Há vários graus de vulnerabilidade entre os sem-teto, de acordo com o censo realizado no ano passado. Dos 300 mil que recebem os vouchers para pagar seu aluguel, 58 mil são veteranos de guerras que, ao retornar de campanhas militares, têm dificuldades para se readaptar à família, encontrar trabalho ou acabam sofrendo com vícios ou depressão.

Cerca de 215 mil moram em casas ou construções abandonadas, em bancos de praça ou embaixo de pontes. Desses, 100 mil são os chamados casos crônicos, com mais de um ano sem abrigo –é para eles que vai 50% do orçamento para habitação de “pessoas com necessidades especiais” do Departamento de Habitação. Nesse universo dos sem-teto crônicos, 60% são viciados em drogas ou álcool, 30% têm doenças mentais.

Como se aluga um apartamento e se coloca lá sozinho alguém com um histórico de dependência e que perdeu já há algum tempo o costume das regras e limites da vida em condomínio? “É um risco, com certeza, mas é preciso paciência. A alternativa é sempre pior”, diz Christy Respress, que dirige a Pathways em Washington. O caminho da rua para o teto permanente não é simples.

Ellery Lampkin, 42, foi despejado duas vezes –atraso no aluguel é a reclamação mais comum–, e a organização Pathways Washington (de cem funcionários, entre eles cinco enfermeiros, um psiquiatra e seis ex-sem-teto) continuou a apoiá-lo.

Lampkin foi parar nas ruas da cidade logo depois de ver a mãe, viciada em crack, ser assassinada com três tiros na cabeça. Ele mesmo foi preso algumas vezes pelo envolvimento com drogas. É bipolar e sofre de transtorno de estresse pós-traumático.

Lampkin dormia diariamente diante da Biblioteca Pública Martin Luther King Jr., obra do arquiteto modernista Ludwig Mies van der Rohe na capital americana –sua marquise sobre a calçada sem grades até hoje serve de abrigo para vários sem-teto.

A última década de vida do rapaz teve acompanhamento da Pathways. Ele não consome cocaína desde 2006 e vai regularmente à sede da organização dar depoimentos de sua transformação –tanto para possíveis doadores e voluntários como para pessoas que, como ele, foram encontradas na rua por assistentes sociais.

Corpulento, com jaqueta de couro e calça jeans, ele lembra que por cinco anos teve um “gerente” para seu caso. Lampkin recebia visitas semanais de psiquiatra, tratamento de desintoxicação e apoio moral. “Mas meu apartamento é meu escudo”, sublinha.

Sua saída da rua teve direito a uma semana em hotel pago e a busca por seus documentos até a organização alugar seu primeiro apartamento. Vários sem-teto têm direito a seguro do governo por invalidez (US$ 700 mensais) ou seguro-desemprego, mas sua situação impede que conheçam bem seus direitos. O contrato prevê que 30% da renda que obtêm seja para pagar o aluguel.

ONGs e prefeituras americanas têm feito uma ofensiva atrás de proprietários de imóveis com “alguma consciência social”, segundo Respress, para conseguir contratos mais generosos ou paciência inicial com inquilinos desacostumados a regras de condomínios.

“Muitos sem-teto perderam todo e qualquer contato com seus parentes, com seus amigos, com seus filhos, não têm em quem se apoiar. É um processo até recuperarem o seu círculo”, diz Respress.

Segundo dados do governo americano, após um ano de instalação, 83% das pessoas alojadas no “housing first” continuavam no primeiro imóvel alugado.

Na prática, isso exige um curso intensivo de como voltar à vida comum. Na sede da organização, fotos nas paredes mostram pratos de comida saudável e sugerem “como reduzir seu peso”. Há cartazes com listas de regras de boa convivência para os recém-chegados, “compromisso para comportamento seguro”.

Serviços de apoio também foram criados –para os veteranos militares, há uma linha telefônica de emergência para aconselhamento e ajuda em momentos de depressão ou risco de despejo, nos moldes do CVV.

CUSTOS

O secretário-assistente do Departamento de Habitação, Mark Johnston, confirma que o “housing first”, visto como “ideia radical” nos anos 80, virou política “mainstream” em seu ministério.

Johnston diz que albergues são necessários como “primeiros socorros”, mas que os sem-teto crônicos precisam de atenção especial. Questionado sobre os altos custos de seus programas –aluguel e atenção social custam até US$ 18 mil (R$ 42,3 mil) por ano por “cliente”, valor que sobe a US$ 28 mil (R$ 64,4 mil) se precisar de acompanhamento psiquiátrico ou de reabilitação para dependentes químicos– Johnston diz que seus programas são investimento.

“Um sem-teto pode custar US$ 40 mil por ano aos cofres públicos enquanto está na rua. Uma ambulância custa no mínimo US$ 1 mil, uma noite no setor de emergência de um hospital custa US$ 1,5 mil. Um dia na cadeia custa US$ 100. Em um mês, um presidiário custa aos cofres públicos US$ 3 mil, muito mais caro que o aluguel. E esses são gastos. É mais barato dar casa do que não fazer nada”, diz.

A ideia do “housing first” começa a ser exportada. A organização Community Solutions, que lançou uma campanha chamada “100 mil lares” e que reúne 230 ONGs pelos EUA, abriu uma divisão internacional e, junto com a Universidade DePaul, de Chicago, vai inaugurar um instituto internacional sobre a condição dos sem-teto.

Paul Howard, diretor da Community Solutions, diz já ter “uma lista enorme do que funciona e do que não na aproximação e no tratamento dos sem-teto”, que pretende “sistematizar e compartilhar com outras ONGs pelo mundo”.

Resultados chegam com a persistência, mas sem milagres.

O porto-riquenho Miguel aceitou ir morar em um dos apartamentos alugados pela Pathways na terceira tentativa das assistentes sociais. Ellery Lampkin ainda faz bicos. Além das palestras motivacionais para quem está na situação em que ele se encontrava há uma década, ele busca um emprego de verdade.

EM SÃO PAULO O autor deste texto participa do 9º Seminário Internacional de Projeto Urbano da Escola da Cidade, que ocorre de amanhã a sexta e tem por tema a habitação. O primeiro dos dez convidados a falar no auditório da Aliança Francesa (Centro) será Paulo Mendes da Rocha, às 10h30. Inscrições gratuitas no site escoladacidade.edu.br

‘A sociedade se fechou nesse bunker que são os prédios’

Secretária de Urbanismo e Mobilidade de Niterói, Verena Andreatta diz que é preciso melhorar as condições urbanas para uso coletivo

Karine Tavares

 

A secretária de Urbanismo e Mobilidade de Niterói, Verena Andreatta, numa das obras do Caminho Niemeyer, marco arquitetônico da cidade Ana Branco / Ana Branco

 

Lugar onde o Centro encontra o mar, as frentes marítimas de cidades como Rio, Niterói e Barcelona foram ao longo de décadas passando por processos de desenvolvimento de seus portos, que tornaram suas áreas obsoletas. Perderam beleza. Ganharam vazios urbanos. Em Barcelona, a revitalização feita nos anos 1990 serve até hoje de modelo para outras cidades do mundo. Entre elas, Rio e Niterói, que pretendem recuperar parte de suas orlas hoje escondidas por construções e com pouco uso. À frente do projeto niteroiense está a arquiteta urbanista Verena Andreatta, uma curitibana que passou boa parte da vida profissional no Rio, onde participou de projetos como Favela Bairro, Rio Orla e Rio Cidade, e há um ano e três meses assumiu a Secretaria de Urbanismo e Mobilidade de Niterói.

Técnica experiente, com doutorado em Barcelona, onde morou por 13 anos, Verena trocou a badalada cidade espanhola por Icaraí, para comandar o ambicioso projeto de Niterói. Quis viver o dia a dia da cidade, das compras ao chope na esquina, e conhecer sua organização. Há poucos dias de volta à Ipanema, agora é pelo mar que vai trabalhar, desembarcando no ponto que pretende mudar radicalmente.

Qual a importância de recuperar frentes marítimas de cidades como Rio e Niterói?

Já realizei estudos sobre experiências de renovação em cidades que tem suas frentes voltadas para o mar . No geral, são áreas obsoletas, que com o desenvolvimento dos portos foram se tornando grandes vazios urbanos, mas com um potencial e uma vocação muito forte. Esses projetos permitem juntar novamente a cidade com o mar, valorizando esse contato do mar com a vida urbana.

A área de revitalização inclui o Caminho Niemeyer. O primeiro prédio aprovado na região, que é privado, também foi desenhado por ele. Isso vai definir um padrão estético para a arquitetura que vai nascer no Centro?

É difícil prever a qualidade dos prédios que virão. Não podemos impedir a criação arquitetônica ou criticar o trabalho de alguém só porque gosto ou não gosto. Mas temos critérios e parâmetros para analisar o impacto morfológico que cada edificação causa, por exemplo. Suas dimensões, a maneira como se insere naquela quadra. Dentro do que já existe na nossa legislação, podemos orientar. Mas acredito que Niterói vai receber bons projetos.

O que a fez sair de Barcelona e aceitar o cargo em Niterói?

Em Barcelona, pude viver numa cidade que se ancora no espaço público da mobilidade, onde tudo funciona, os pedestres caminham bem, com conforto, em calçadas amplas, padronizadas; o mobiliário é de qualidade, com bom desenho. Acredito na transformação do espaço público, na melhoria das condições urbanas para o uso coletivo, de todos. E em minha experiência acadêmica observei boas ideias aplicadas em diferentes regiões do mundo e como elas podem ser adaptadas para a nossa sociedade.

Que lições apreendeu da vivência em Barcelona?

Como funciona a cidade. Lá, há a reutilização das águas da chuva, os parques estão preparados para uma cidade sustentável. O transporte coletivo é de qualidade. A mobilidade é ancorada num sistema cicloviário, de bondes, VLTs; as ruas têm trânsito pacificado. Em algumas, o limite é de 30 quilômetros por hora. O carro não é um inimigo, mas o pedestre tem pioridade. E o próprio modelo de sociedade é interessante. As crianças só conseguem vaga em escolas que ficam num raio de oito minutos a pé de suas casas, por exemplo.

E está morando no Rio ou em Niterói?

Voltei há poucos dias para o Rio porque já tinha um apartamento em Ipanema e em Icaraí pagava aluguel. Mas quando aceitei o convite, resolvi vir morar em Niterói por um tempo, um período de adaptação à cidade até para vivenciar a vida urbana. Sempre achei importante pisar o terreno, conhecer a estrutura da cidade, saber como funciona, andar de ônibus, a pé, de táxi, fazer compras, tomar um chope na esquina, visitar parques e praias. Usar a cidade.

Você veio de barca hoje… como está vendo esse transporte público? Há muitas reclamações sobre a qualidade.

Eu realmente uso o transporte público. E quando venho do Rio, venho de barca. Com as barcas, pode ter sido sorte, mas nunca tive problemas. Precisa de melhorias, claro. Os ônibus precisam ter melhor infraestrutura: ar-condicionado para aguentar esse verão mais forte, rebaixamento do piso. Precisam se aperfeiçoar, mas a frota que circula em Niterói já está sendo renovada.

O que mais gosta e o que menos gosta na arquitetura de Niterói?

Essa plataforma de cidade com obras do Niemeyer é bastante destacável. O MAC é um ícone e fez com que Niterói tenha um antes e depois em relação ao turismo. Criou um valor não só arquitetônico, urbanístico, mas também econômico para a cidade. A minha crítica é a essa arquitetura que dissocia os prédios da vida urbana, com construções com embasamentos voltados para garagem, playground. Os prédios se voltaram para eles mesmos. E não só em Niterói, mas em todas as grandes cidades. Esse é um processo que tem a ver com a entronização do automóvel — a vaga de garagem passou a ter um valor muito grande, até pela falta de transporte público de qualidade —, e com a violência também. Hoje, os prédios têm espaço gourmet, espaço disso, daquilo. A sociedade foi se fechando nesse bunker que são os prédios. E a rua como o espaço de brincar, de formação da cidadania, foi se perdendo.

O Porto Vida, único residencial já anunciado no Porto, pretende retomar o contato da arquitetura com a rua, com prédios com lojas térreas, praças públicas. Isso está previsto em Niterói?

É uma preocupação sim. Ao criar a legislação para a área, nos preocupamos em não deixar que o embasamento fosse tão alto, por exemplo, em limitar o número de vagas de garagem, porque este é um projeto de mobilidade urbana. E tivemos a preocupação não só com a forma, mas também com o uso desses prédios… Estabelecemos que 60% serão residenciais e 40%, comerciais. Esse é o equilíbrio que precisamos para que o Centro volte a ser um bairro com bastante vida. Hoje, há um pouco mais de 26 mil pessoas morando no Centro. Atrás do Caminho Niemeyer, por exemplo, é um vazio urbano enorme, numa área de grande potencial.

No Rio, esse equilíbrio entre residenciais e comerciais está ameaçado, já que não houve lançamentos residenciais. O que garante que em Niterói vai ser diferente?

Esses são projetos de longo prazo, que levam até 20 anos para se consolidar. No caso do Porto, a avaliação nesse momento é bastante crítica. Ou porque o projeto ainda não se completou ou porque faltam políticas subsidiárias que animem o lançamento de residenciais. No nosso caso é diferente porque o Centro é ainda residencial. Ele perdeu força nos últimos anos, mas ainda faz parte da memória recente da cidade como um lugar bom para residir. Essa memória, com o estímulo que o projeto vai dar para o uso residencial e a qualidade que esse lugar vai ter, vai alavancar esses lançamentos. Estamos fazendo um projeto atraente para que o bairro fique charmoso, com qualidade, segurança, iluminação, vegetação, com vida.

Projetos de revitalização costumam trazer junto com eles o fenômeno da gentrificação. Como impedir que a melhoria da região e a chegada de comércios e prédios mais sofisticados expulse a população de renda mais baixa que já vive naquela região?

Por mais que o bairro vá se valorizar, acredito que as pessoas que resistiram até agora, vão se apropriar também dessas melhorias. Ninguem está falando em aumento de impostos ou num aumento do custo de vida urbana. Estamos tentando melhorar a qualidade de vida ali e acho que as pessoas vão se sentir melhor, mais seguras e vão querer continuar. A gentrificação é uma questão sempre polêmica, mas a não ação já fez com que esse Centro se esvaziasse.

E por que não fazer as casas do programa Minha Casa Melhor em áreas mais próximas a esse Centro?

O preço dos terrenos conta muito para viabilizar as obras de programas como o Minha Casa Minha Vida ou Minha Casa Melhor. E os terrenos mais próximos às areas centrais sao mais caros. Mas nós estabelecemos, por lei, a possibilidade de construir um empreendimento do Minha Casa Minha Vida num setor de São Lourenço. Só depende de algum empresário querer construir ali, dentro do programa.

A área que será revitalizada inclui favelas. Elas serão incluídas no projeto?

A política é de urbanização também dessas áreas. Será algo no estilo daquela urbanização feita nas favelas do Rio na década de 1990, abrindo ruas, levando equipamentos, médicos de família, postos de saúde. Ninguém será removido.

Vocês fazem questão de frisar que esse é um projeto de mobilidade. Mas será possível construir prédios de até 40 andares. Esse adensamento não pode prejudicar ainda mais o caótico trânsito de Niterói?

Não. A ideia de que o adensamento cria trânsito é um mito. Em 1975, Niterói tinha 13.400 habitantes por quilômetro quadrado. Hoje, são 8.800. A cidade foi se espraiando, as pessoas foram morar em bairros distantes e passaram a usar cada vez mais o automóvel. Quando as pessoas se concentram num mesmo local e há um bom sistema de transporte, como pretendemos, o trânsito diminui. Além disso, só um setor terá esse coeficiente máximo de aproveitamento do terreno. Será ali perto das barcas, onde será permitido construir até dois prédios de 40 andares, no máximo, por terreno. Nesse caso, o uso será misto: residencial e comercial. A área residencial será mais concentrada no entorno do Jardim São João. Como aquela é uma parte histórica da cidade, justamente onde nasceu a primeira trama urbanística de Niterói — encomendada em 1819 por Dom João ao francês Palière —, fizemos questão de preservá-la. Então, ali, o gabarito máximo será de oito pavimentos. Até para não criar distorções com prédios muito altos e outros muito baixos.

E como será o trânsito nesse novo Centro, em especial nesse primeiro momento quando ainda não há VLT, metrô, estação intermodal?

Vai ser um trânsito pacificado, mais calmo, com ciclovias, e algumas ruas privilegiando mais ônibus e carros. Mas sempre dando prioridade ao pedestre, com ampliação das calçadas, por exemplo. Em algumas ruas, inclusive, vamos ser bastante restritivos porque hoje os pedestres andam nas ruas. Mas no futuro, teremos muitos meios de transporte numa região pequena. O Centro de Niterói é caminhável, desde que as ruas tenham arborização, áreas de sombra. E nós vamos plantar três mil árvores nessa região.

Serão 16 quilômetros de ciclovia. Não é pouco?

Essa será a rede cicloviária do Centro apenas. A prefeitura tem planos para fazer a ciclovia Translagunar, de Itaipu até Charitas, outra que corte toda a orla da baía e que se conecte com uma ciclovia universitária, que deverá ligar todos os pontos universitários de Niterói.

O projeto prevê uma implantação ao longo de 15 anos. O que será feito primeiro e quando começam as obras?

A previsão é que as obras comecem já no segundo semestre desse ano. Primeiro pela infraestrutura, que deve durar três ou quatro anos. Vamos fazer um mergulhão, a esplanada em frente à Amaral Peixoto, uma marina pública para 150 barcos, e a criação de um parque litorâneo, com um polo gastronômico na área próxima ao Mercado São Pedro. Vamos fazer um complexo pesqueiro ali, com vários restaurantes, atracadouro novo, local para os marisqueiros trabalharem e casas para a comunidade que já mora na área.

Essas mudanças no Mercado São Pedro causaram muitas críticas de alguns setores…

Este é um setor produtivo importante de Niterói. E acreditamos na valorização não só do setor, como das pessoas que vivem ali. Hoje, aquele conjunto não é condizente com a imagem da frente marítima que queremos resgatar. O projeto prevê a criação de habitações dignas com um novo desenho, uma boa qualidade arquitetônica para que a vida daquelas pessoas que vivem ali fique melhor também. As pessoas criticam, mas ofertar esse espaço público de qualidade é também uma questão de honra para toda a cidade. Não podemos ter uma área como essa abandonada numa cidade com o porte de Niterói. Não estamos decorando. Estamos atacando estruturalmente os problemas.

Para fazer as obras de infraestrutura, vocês precisariam antecipar recursos com a venda dos Cepacs. Mas o Estado não doou os terrenos que seriam dados como garantia financeira para a operação. Isso não pode atrasar o projeto?

Não. A Câmara vai votar o número de Cepacs. Quanto aos terrenos do Estado não são condição sine qua non. No Rio, era importante ter garantias porque 60% dos terrenos eram públicos. O incorporador não consegue acesso a esse terreno. É uma dificudade. No caso de Niterói, os terrenos são privados. Então, acreditamos que os Cepacs, que já estão definidos por lei e nada mais são que esse potencial construtivo, servirão como uma âncora do projeto.

 

 

Página 38 de 175« Primeira...102030...3637383940...506070...Última »