Rendimentos mais altos aquecem setor imobiliário do sul da Europa

Os investidores estão se aventurando na Espanha, Itália e até mesmo na Grécia em busca de barganhas de imóveis comerciais. Eles seguem o princípio de que os retornos maiores compensam o risco do crescimento do sul da Europa continuar lento.

Durante grande parte da recessão prolongada que assolou a União Europeia, muitos investidores se concentraram em escritórios e residências de luxo em cidades como Londres e Paris, onde os mercados imobiliários atravessaram relativamente incólumes a crise do euro.

Agora, embora os aluguéis e os níveis de ocupação do sul da Europa permaneçam anêmicos, a região vem se beneficiando da crença generalizada de que o pior da crise financeira já passou.

“As pessoas estão se dando conta de que a Espanha não afundou no Mediterrâneo”, diz Eric Adler, diretor-presidente da Prudential Real EstateInvestors, que investiu cerca de US$ 1,5 bilhão no mercado imobiliário europeu em 2013 e pretende investir mais este ano.

No ano passado, investidores compraram 177,8 bilhões de euros (US$ 245,3 bilhões) em imóveis comerciais na Europa, um crescimento de 17% em relação a 2012 e o maior desde 2007, de acordo com a Real Capital Analytics.

No sul da Europa – que inclui Espanha, Portugal, Itália e Grécia -, as transações dobraram no quarto trimestre de 2013 em relação ao mesmo período de 2012, para 3 bilhões de euros, segundo a corretora JLL, antes chamada Jones Lang LaSalle.

Entre os negócios efetuados este ano na região está a compra de um shopping center com 62 lojas e 11 restaurantes em San Sebastian, na Espanha, por um fundo imobiliário do UBS, que pagou 61 milhões de euros.

Os investidores internacionais estão de olho até na Grécia, o país que mais sofreu com a crise, tendo visto sua economia se contrair mais de 25% desde 2008.

A firma de investimentos Hines, que é sediada em Houston, no Estado americano do Texas, e controla ativos avaliados em cerca de US$ 25,2 bilhões, está cogitando investir nos setores hoteleiro e varejista da Grécia porque está “chovendo” turistas e muitos proprietários e seus credores continuam com problemas financeiros, diz Michael J. G. Topham, diretor-presidente da Hines para a Europa.

“Eles precisam da gente”, diz.

O aumento no volume de negócios imobiliários na Europa faz parte de uma tendência mais ampla, resultante de um cenário de juros baixos em grande parte do mundo. Os fundos de pensão e outras instituições estão aumentando as alocações para o setor imobiliário em busca de retornos mais elevados, algo que a Espanha e a Itália oferecem.

No ano passado, os maiores fundos públicos de pensão dos Estados Unidos, por exemplo, elevaram para 7,4% a fatia do setor imobiliário global nas suas carteiras, segundo a Wilshire Consulting. Antes disso, o recorde para este grupo, atingido em 2008, era de 6,4%, afirma a Associação Nacional de Administradores de Aposentadorias de Servidores Públicos, que acompanha os investimentos de fundos de pensão de servidores públicos.

Investidores oportunistas também estão abocanhando portfólios de ativos imobiliários problemáticos que os bancos europeus estão tentando tirar de seus balanços. O Commerzbank AG tem visto uma forte demanda por sua carteira de crédito imobiliário espanhol, uma das maiores da Europa este ano, com um valor de face de 4,4 bilhões de euros.

Alguns dos grandes investidores da Europa continuam sendo as firmas americanas de privateequity que chegaram à região mais cedo, incluindo BlackstoneGroup LP, Lone Star Funds, Apollo Global Management LLC, Cerberus Capital Management e Kennedy Wilson Holdings. O Pacific Investment Management Co., um grande gestor de ativos da Califórnia, também vem buscando negócios.

Na semana passada, a BlackstoneGroup completou um fundo de investimentos imobiliários na Europa de 5 bilhões de euros, que é o maior do gênero e cujo montante foi arrecadado em apenas seis meses. Entre os negócios recentes da Blackstone está a compra de uma carteira de imóveis comerciais na Itália e centros de varejo da AXA Immoselect, um fundo de investimento alemão, por cerca de 180 milhões de euros, segundo uma pessoa a par do negócio.

Novos participantes de países como Coreia do Sul, Malásia e China também estão aparecendo no continente. A construtora chinesa Dalian Wanda Group, por exemplo, comprou um arranha-céu icônico em Madrid por 280 milhões de euros do banco espanhol Santander, segundo dados da Real Capital Analytics. No fim de 2013, o fundo soberano China InvestmentCorp. pagou 708 milhões de libras à Blackstone pelo Chiswick Park, um dos maiores empreendimentos de escritórios de Londres.

Outros fundos soberanos também estão se voltando para o setor imobiliário europeu. Esses fundos investiram 13,6 bilhões de euros no mercado imobiliário da região no ano passado, um aumento de 31% no número de negociações ante 2012, mostram dados da Real Capital. Globalmente, as alocações de fundos soberanos para o setor imobiliário avançaram apenas 9%.

Até recentemente, os investidores do mercado imobiliário europeu tinham pouco apetite para o risco. A maioria dos negócios envolvia edifícios de escritórios, shopping centers e outros imóveis cobiçados, totalmente ocupados, em cidades como Londres e Paris.

Mas a demanda por essas propriedades centrais elevou os preços de tal forma que alguns atingiram níveis recorde, reduzindo o rendimento para os compradores. O investidor que comprar um imóvel central hoje em Londres, por exemplo, acabaria com um rendimento anual menor que 5% da renda do edifício.

Por outro lado, em mercados como a Espanha, os ganhos estão acima de 6%. Isso desencadeou uma corrida para o mercado imobiliário do país, aumentando a pressão sobre os preços, segundo executivos imobiliários da Espanha. “Não foi como o sol nascendo devagar”, diz Rupert Lea, responsável pela área de varejo na Espanha da corretora imobiliária Cushman&Wakefield Inc., sobre a retomada do interesse. “Foi como um ricochete.”

Diante, porém, da demanda maior por imóveis em mercados mais arriscados, alguns especialistas alertam que os investidores têm sido muito agressivos, considerando a lentidão econômica.

Origem: Valor Econômico, 27/03/2014

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