Paes quer integrar cidades de países pobres no C40

Chico Santos

Eleito por unanimidade para presidir por três anos o grupo C40 de Liderança Climática, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), primeiro líder de um país emergente a assumir o comando do grupo de megacidades criado em 2005, tem a missão estratégica de ampliar a participação das cidades dos países mais pobres na organização. Outro objetivo a ser alcançado em sua gestão será de reforçar a atuação das grandes cidades na diplomacia global, além de trabalhar pelo cumprimento das metas ambientais das 63 cidades que compõem o grupo.

Está nos planos do prefeito carioca viagem, ainda neste ano, à China como parte dos esforços para atrair mais cidades chinesas para a rede. Hoje, figuram na lista das 63 cidades filiadas à rede apenas a capital, Pequim, e Xangai. Um dos principais objetivos na China é atrair a cidade de Shenzhen, na província de Guangdong, no sul do país, considerada um símbolo da arrancada econômica chinesa a partir do final dos anos 1970.

Shenzhen foi a primeira cidade do país a receber uma zona econômica especial, em 1979, estratégia do governo chinês para atrair capitais estrangeiros e possibilitar o avanço econômico a taxas superiores a 10% ao ano por mais de três décadas consecutivas. Hoje ela é um dos mais importantes centros industriais e tecnológicos do mundo e sua população cresceu exponencialmente, já ultrapassando os 10 milhões de habitantes.

Paes é o quarto líder municipal a assumir o comando do C40 desde a criação do grupo em prol da redução das emissões de poluentes. Cabe a ele definir estratégias para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. O mentor da criação do C40 e seu primeiro presidente foi o então prefeito de Londres, Ken Livingstone. O segundo foi David Miller, ex-prefeito de Toronto (Canadá), seguido de Michael R. Bloomberg, de Nova York, sucedido pelo prefeito do Rio de Janeiro.

O foco ambiental conduziu a organização a se engajar no esforço para a melhoria da qualidade de vida global, objetivo para o qual as megacidades – os participantes do C40 são cidades com mais de 5 milhões de habitantes – tornaram-se elementos-chaves. É esse protagonismo que justifica a ofensiva diplomática para dar ao grupo maior peso nos fóruns internacionais, incluindo a Organizações das Nações Unidas (ONU).

Não se trata de confrontar o papel das nações como agentes naturais dos entendimentos em âmbito global. O objetivo é obter o reconhecimento de que as cidades são protagonistas nessas discussões e que precisam ser ouvidas para que os países tomem suas decisões. Isso já foi reconhecido pela ONU e o C40 realizará em setembro, em Nova York, como parte das atividades da Assembleia Geral Ordinária das Nações Unidas uma Cúpula do Clima (“ClimateSummit”) que será a forma de inserção das cidades no encontro global.

Números não faltam para justificar o protagonismo reivindicado pelo C40: as cidades integrantes do grupo têm 544 milhões de habitantes, ou seja, 8% da população mundial, e representam 21% do Produto Interno Bruto (PIB) global. Se fossem um país, rivalizariam com a China como a segunda maior economia do mundo.

Com emissões de gases de carbono de 1,7 bilhão de toneladas por ano, mais do que o Japão, o C40 é o quinto maior emissor de gás do efeito estufa do mundo e seu ritmo de emissões cresce a 5% ao ano. Por isso, uma das metas é a redução das emissões em 248 mil toneladas anuais, mais do que emitem hoje Argentina e Portugal.

A palavra resiliência, que em física significa a capacidade de um material recuperar sua forma anterior após um choque, está na ordem do dia do C20. Paes pretende trabalhar para aperfeiçoar a estrutura das cidades para lidarem com as mudanças climáticas e suas consequências. Um dos exemplos foi a resposta rápida dada em 2012 por Nova York, na época governada por Bloomberg, à devastação provocada pelo furação Sandy.

Outra palavra-chave, e nova, é polidigitocracia. Quer dizer o uso das ferramentas tecnológicas para ampliar cada vez mais a interação em tempo real entre gestores da cidade e seus habitantes, democratizando a gestão.

Origem: Valor Econômico, 26/05/2014

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