Opinião: “A revitalização que passa pela Zona Portuária”

A revitalização que passa pela Zona Portuária

O redesenho da cidade implica também intervenções no eixo que vai da Zona Norte ao subúrbio, área onde há rede de serviços públicos mas é mal aproveitada

Em razão dos compromissos assumidos na escolha do Rio para sede das Olimpíadas de 2016, a cidade, inicialmente, limitou ao eixo da Barra da Tijuca boa parte dos investimentos impostos pelos Jogos.

Foi equivocada a decisão de concentrar inversões ligadas aos Jogos naquela faixa da Zona Oeste, onde as consequências de uma urbanização mal planejada reclamam não apenas intervenções urbanísticas, mas uma profunda revisão da política de ocupação da região. Mas, jogo jogado, deu-se em seguida uma correção de rumo, em razão de o município ter encampado, e passado a tocar, o projeto de reurbanização e revitalização da Zona Portuária, para onde irão alguns equipamentos das Olimpíadas.

Com obras em andamento, o Porto Maravilha resgatará para a vida dinâmica da cidade uma vasta área que, abandonada e relegada à degradação nos anos 60, agora se abre para o futuro do Rio.

Ao fim das obras na Zona Portuária, a cidade terá reincorporado uma área sub-aproveitada, ou simplesmente abandonada, de cinco milhões de metros quadrados, que se estende pelo Centro, Caju, Gamboa, Saúde e Santo Cristo. O movimento de terras ali, grandioso, prevê entre outras intervenções a demolição de parte do Elevado da Perimetral, a transformação da atual Rodrigues Alves em via expressa e a construção da Via Binário do Porto, que cortará toda a região da altura da Praça Mauá até a Rodoviária Novo Rio. São 70 quilômetros de vias. Ainda estão sendo reconstruídos 700 quilômetros de infraestrutura urbana (água, esgoto, iluminação, drenagem e telecomunicações), implementados 17 quilômetros de ciclovias e plantadas 15 mil árvores. Mais: boa parte do financiamento é oriunda da cobrança de uma espécie de mais-valia, paga pela iniciativa privada em troca do aumento da área construída de prédios da região. Um alívio para os cofres públicos.

Mas o redesenho da cidade também passa por outra área com grandes demandas — a região que se estende da Zona Norte ao Subúrbio. Há exemplos de recentes de bem sucedidas intervenções na área, como a criação do parque de Madureira. Mas, obviamente, é pouco. Trata-se, em boa parte, de uma área, principalmente no eixo que costeia a Avenida Brasil, que já dispõe de infraestrutura instalada (vias, energia elétrica, telefonia, água e rede sanitária, trens), mas cuja ocupação deveria ser otimizada. Até mesmo com a construção, nesses trechos, de bairros populares, alternativas viáveis ao adensamento de favelas que compromete a qualidade vida de seus moradores e dos habitantes desse entorno. É preciso aproveitar a revitalização do Porto e interligá-la à Zona Norte e subúrbios. Será uma forma de melhorar a utilização de investimentos já feitos em infraestrutura e criar novas alternativas de ocupação à Zona Oeste, onde tudo ainda precisa ser feito.

Origem: O Globo, 6/10/2013