Obras de Burle Marx no Rio estão degradadas

Dez de 28 projetos do paisagista perderam os seus traços originais

Prefeitura diz que até final do ano fará serviços para revitalizar parque que fica no aterro do Flamengo

Lucas Vettorazzo

Das 28 obras do paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994) que deveriam ser mantidas por instituições públicas no Rio, pelo menos dez estão degradadas ou mal conservadas segundo levantamento feito pela Folha.

Três nem existem mais: o paisagismo do estacionamento do Maracanã, da área externa do Tribunal de Justiça e do Conjunto Habitacional do Pedregulho, prédio modernista na zona norte.

As duas obras mais degradadas são a praça Senador Salgado Filho, em frente ao aeroporto Santos Dumont, e o paisagismo do Instituto de Puericultura e Pediatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), na Ilha do Fundão. Ambas são tombadas pelo município e a praça, também pelo Estado.

Na praça Senador Salgado Filho, o lago antes habitado por carpas cor de laranja está vazio há pelo menos dois anos. O gramado tem falhas, árvores e arbustos carecem de poda e lâmpadas que deveriam destacar plantas e monumentos estão quebradas.

A praça foi o primeiro projeto de jardim público do paisagista no Rio. Ela se integra ao projeto do parque que fica no aterro do Flamengo, concluído em 1965.

De acordo com o escritório Burle Marx e Companhia, que cuida dos projetos do paisagista, desde 2000 não é feita manutenção completa no local, com controle de pragas e replantio de espécies.

Segundo Isabela Ono, arquiteta associada ao escritório, o parque recebe apenas podas eventuais no gramado e ainda costuma ser usado por blocos no carnaval e em corridas de rua, o que desgasta ainda mais o jardim.

Já o paisagismo do Instituto de Puericultura e Pediatria, hospital pediátrico da UFRJ inaugurado em 1953, está totalmente descaracterizado. Dos jardins em formato ondular nas laterais do prédio e em seu pátio interno restaram só os contornos.

As áreas onde existiam gramados em duas tonalidades agora são usadas como estacionamento. No projeto original havia diversas palmeiras que hoje convivem com mangueiras e árvores de outras espécies, plantadas nos últimos 50 anos.

A degradação não é de hoje. A Linha Vermelha, via expressa que liga a zona norte ao centro, inaugurada há duas décadas, passou por cima de uma parte do jardim que ficava na entrada do prédio. O BRT Transbrasil, via paralela à Linha Vemelha, comerá o restante do canteiro.

OUTRO LADO

O Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, que tombou a praça Senador Salgado Filho em 1990, disse que fez uma fiscalização em fevereiro e está pedindo à Prefeitura a recuperação do local.

A Secretaria Municipal de Conservação afirmou que desde o ano passado realiza serviços de revitalização do parque do Flamengo. Os trabalhos, previstos para ocorrer até o final do ano, incluem o plantio de 11.000 metros quadrados de grama.

A administração do Instituto de Puericultura e Pediatria disse que está em estudo a recuperação dos jardins que ficavam entorno do prédio.

Origem: Folha de S. Paulo, 20/04/2014

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