No Rio, Botafogo ganha obra projetada por Oscar Niemeyer nos anos 50

Fabíola Gerbase, O Globo

Retirados os tapumes, apenas algumas faixas laranja ainda separam a Praia de Botafogo da mais nova obra de Oscar Niemeyer na cidade. Um torre de 19 andares, batizada com o nome do arquiteto, e um centro cultural, idealizados nos anos 50 para a Fundação Getúlio Vargas (FGV), entram na fase final de obras, atraindo olhares para as formas características do mestre.

Integrando as duas novas construções e a antiga sede da FGV inaugurada em 1968, uma bela esplanada abre um respiro em meio à densa ocupação da área e convida a um passeio para admirar mais um pedaço da história escrita por Niemeyer.

Orçada em cerca de R$ 140 milhões, a obra foi financiada pela Caixa Econômica Federal, que entrou com 85% dos recursos. Segundo Sérgio Quintella, vice-presidente da FGV, depois da inauguração em 19 de dezembro, aniversário da fundação, parte da torre será alugada para empresas e o recurso pagará o financiamento da Caixa. O restante será usado pela FGV, que já ocupa um prédio ao lado. Já o centro cultural será aberto em 2014.

– Vamos precisar alugar para pagar o financiamento – diz Quintella. – O Rio vai ganhar um belíssimo prédio. O centro cultural será usado 100% pela fundação. Teremos basicamente três áreas principais: uma biblioteca, que terá uma parte física e outra digital para dar acesso ao acervo ao país todo; uma grande área para estudo, com wi-fi e computadores; e auditórios. Haverá também área para exposições, e a esplanada poderá ser usada para mostras de esculturas, por exemplo – diz Quintella.

Quem se depara hoje com o centro cultural, que é o prédio de três andares e cobertura arredondada entre as duas torres, pode estranhar o amarelo que tinge o concreto, tipicamente branco nas obras de Oscar. João Niemeyer, sobrinho do mestre e arquiteto responsável pelo projeto, explica que a cor é do impermeabilizante do concreto. O branco será aplicado, apesar de achar que o tio gostaria da nova cor:

– Já brinquei que, se ele estivesse vivo, passaria aqui e falaria: “deixa amarelo”. Ficou bonito. Mas vamos deixar branco, que foi a cor que ele escolheu. Conversei muito com ele sobre esse projeto. Sempre me perguntava como estavam as obras (que começaram há quase três anos, bem antes de Niemeyer morrer). Ele projetou nos anos 50 e sempre quis levá-la até o fim.

No fim dos anos 90, a FGV tentou licenciar a obra. Mas a Associação de Moradores de Botafogo e o Ministério Público impediram a construção com o argumento de que a torre desrespeitava o gabarito de Botafogo para a área (três andares para prédios comerciais). A polêmica consumiu dez anos de batalha judicial.

Além dos 19 andares de fachada de vidro cinza chumbo, a torre tem um pavimento de uso comum e dois subsolos. O térreo terá mobiliário assinado por Niemeyer, uma escultura flutuante da artista Iole de Freitas e quadros de Maria Lynch. A torre terá o certificado Leed de sustentabilidade ambiental, que considera fatores como eficiência energética. No embalo das novidades, a antiga sede entrará em reforma. O que também surgiu de uma conversa entre Niemeyer e o sobrinho João.

– Perguntei: “O que faço com o prédio antigo?”. Ele respondeu: “Põe igual ao novo. Ou tenta” – lembra João, com um sorriso. – A questão é que o prédio antigo é tombado e estamos em discussão com o Patrimônio. Na fachada, poderemos trocar os vidros, que passarão a ter a mesma cor dos vidros da torre nova. Mas as esquadrias terão que ser mantidas com suas linhas verticais. Os prédios precisam conversar.

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