Mobilidade urbana e inclusão social

Luiz Chor

Presidente do Conselho Empresarial de Responsabilidade Social Quando se fala em inclusão social, geralmente a discussão segue o caminho das políticas afirmativas, embora isso possa ser feito, também, via esporte e educação, incluindo o ensino e a qualificação profissional. Na verdade, a base de qualquer inclusão social é antes de tudo a garantia das conquistas como abastecimento de água, tratamento de esgoto, coleta adequada do lixo, urbanização, disponibilidade de postos de saúde e hospitais, emprego, lazer e segurança. E dentro de uma realidade de que não é possível desconstruir uma cidade e remontar as peças para garantir 100% de acesso àquelas funções sociais a toda população, a solução para este desafio mundial é complexa e única: mobilidade urbana em quantidade e qualidade adequadas. Esta é a resposta para se combater a deformação das cidades brasileiras, que apresentam núcleos habitacionais distantes e sem os mínimos atributos urbanos. E nesse cenário, a falta de mobilidade adequada é a raiz do mais grave problema urbano: a favelização. O processo de modernização urbana do Rio de Janeiro iniciado no final do século 19 e acelerado no século 20, por não incluir na vida social e econômica toda a população, foi o responsável pelo surgimento e expansão das favelas. Ainda nos dias atuais é assim. O raciocínio é simples: quem, MOBILIDADE URBANA E INCLUSÃO SOCIAL morando próximo a um grande eixo de transporte (trem, metrô, ônibus), mesmo longe das condições ideais, vai querer morar em um novo e distante conjunto habitacional em um bairro que não ofereça condições para um confortável ir e vir? Daí, todo processo de urbanização deveria ser precedido da implantação das infraestruturas, notadamente de ligações metroferroviárias (na superfície, em elevado ou no subsolo), processo que nortearia para onde a cidade deveria crescer e limitaria a ocupação e a distribuição da população no espaço urbano. O Sistema FIRJAN, através do estudo Visões de Futuro vem apontando quais medidas devem ser adotadas para garantir um desenvolvimento equilibrado dos municípios e regiões do estado. Participa, ainda, das discussões sobre o planejamento urbano do Rio de Janeiro e do Brasil, ao integrar o grupo de técnicos que elaboram a nova Política Nacional de Desenvolvimento Regional e Territorial que tem por foco a qualidade de vida da população a partir de medidas que estimulam o crescimento sócioeconômico. Se historicamente a mobilidade é uma das melhores armas para garantir a inclusão social, infelizmente as histórias e lições das nossas grandes cidades continuam sendo ignoradas pelos planejadores urbanos. Até quando?

* Artigo veiculado no Jornal O Globo no dia 12/09/2013 – versão reduzida

Origem: Informativo Carta da Indústria Ano XIII, Número 620, 13 a 19 de setembro de 2013