Corrida contra o tempo para concluir o Arco Metropolitano

Estado diz que entregará em maio trecho de 71,2Km, mas parte federal só em 2016

Fernanda Pontes

Operários trabalham na construção de um viaduto do Arco Metropolitano, em Itaguaí, cujas obras correm contra o tempo para a inauguração em maio. Segundo o estado, 95% do trecho sob sua responsabilidade já estão prontos Márcia Foletto / Agência O Globo

RIO E SÃO PAULO – Entre vacas, cavalos e muita lama, começa a se concretizar uma das maiores e mais importantes obras viárias para a economia do estado: o Arco Metropolitano. O governo estadual garante que o trecho de 71,2 quilômetros entre Duque de Caxias e Itaguaí, que está sob sua responsabilidade, será inaugurado em 30 de maio, o que significará um atraso de quatro anos. E vai custar quase o dobro do previsto: R$ 1,9 bilhão. O traçado completo, no entanto, só deve ficar pronto em dezembro de 2016, com a duplicação da rodovia entre Magé e Manilha (BR-493), que está a cargo do governo federal e cujas obras sequer começaram.

Considerada uma obra estratégica por fazer a ligação de quatro polos industriais, o Arco Metropolitano vai cortar inicialmente cinco municípios: Caxias, Nova Iguaçu, Japeri, Seropédica e Itaguaí. A expectativa é que sejam retirados do trânsito da Avenida Brasil e da Via Dutra mais de dez mil carretas e outros 22 mil veículos leves por dia, desafogando o principal eixo viário da capital.

— O arco é essencial para o escoamento da produção de polos industriais. Ele é estratégico porque vai baratear o custo da carga no estado em até 30% e gerar um milhão de empregos nos próximos dez anos — diz o secretário estadual de Obras, Hudson Barga. — O Arco Metropolitano, que ficou conhecido por esse nome devido ao seu formato, vai se chamar Raphael de Almeida Magalhães, uma homenagem ao político, morto em 2011.

O prazo para a inauguração é considerado curto por operários e engenheiros que trabalham no projeto. Com as chuvas recentes que caíram no estado, ainda há muita lama no caminho, principalmente nas vias de acesso. Viadutos de grande porte ainda não foram concluídos e, para completar o cenário de incertezas, 1.500 trabalhadores da Odebrecht entraram em greve no dia 4 de abril, comprometendo as obras no trecho de Duque de Caxias, que estão sendo executadas pela construtora. O viaduto de Vila de Cava, por exemplo, ainda nem foi erguido.

— O sinal vermelho acendeu em alguns pontos da rodovia, como o viaduto de Vila de Cava. Também tivemos essa greve, mas vamos inaugurá-lo no prazo — garante Hudson.

A pressa em finalizar a obra tem motivos políticos. A presidente Dilma Rousseff pretende vir ao Rio inaugurar a obra ao lado do governador Luiz Fernando Pezão antes do início do período eleitoral, que começa em 5 de julho.

A quase um mês da inauguração, O GLOBO percorreu grande parte dos 71,2 quilômetros do trecho do Arco Metropolitano sob a responsabilidade do estado. Como em alguns pontos não é possível passar, o veículo utilizou rotas alternativas sete vezes. O atraso é visível nos viadutos metálicos. A própria Odebrecht sustenta que só será possível entregá-los em junho. Também há poucas passarelas. Mãe de quatro filhos e moradora de Nova Iguaçu, Elisângela Galvão, 24 anos, diz que não tem como levá-los à escola:

— A rua onde moro deixou de existir e minha casa ficou isolada. Para chegar do outro lado, só com uma passarela.

A má impressão causada por alguns trechos da rodovia é compensada com a chegada em municípios como Japeri e Seropédica. Nessas cidades, os dois sentidos do arco parecem prontos, e operários já fazem o assentamento do gramado. Ao final do arco, em Itaguaí, uma surpresa: a estrada de terra termina num matagal. A interligação com a Rio-Santos, de cerca de 300 metros, que será executada pela União, ainda está em fase de terraplanagem. O prazo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para a entrega da obra é 15 de junho.

Os moradores da Rua Euclides de Andrade, justamente por onde passará o final do traçado, ainda estão negociando indenizações para sair de seus imóveis. O aposentado José Antônio Batista, por exemplo, discordou do valor:

— Entendo que essa obra é importante, mas eu vivo aqui há 37 anos e no meu terreno tenho três casas e uma piscina. Com o dinheiro que eles querem me pagar, não compro nada.

Se o cenário não é dos melhores no lado de Itaguaí, no outro lado a situação é ainda pior. As obras do trecho Magé-Manilha, que serão executadas pelo governo federal, só começam em agosto. Nos 22 quilômetros, serão gastos R$ 405 milhões.

O investimento na parte da obra feita pelo estado, aliás, ficou bem acima do planejado. Orçado em R$ 965 milhões em 2008, o trecho custará R$1,9 bilhão, pagos com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), numa parceria com a União. O aumento do custo deve-se a reajustes contratuais (R$ 265 milhões) e à execução de projetos complementares. Entre eles, a reformulação de viadutos sobre os gasodutos da Petrobras, que custou R$ 250 milhões. A ampliação das alças de acesso no entroncamento da BR-040 recebeu R$ 70 milhões.

A complexidade da obra também pesou. Três mil imóveis foram desapropriados — ainda restam 11. No caminho, lagoas, rochas e até a perereca Physalaemus soaresi, que paralisou um trecho por um ano e meio. Os trabalhos só foram retomados depois que se decidiu fazer uma ponte de R$ 12 milhões sobre o lago, habitat da espécie. Nas escavações, ainda foram encontrados 68 sítios arqueológicos com 170 mil peças.

— O prazo inicial foi ousado, mas sem ousadia, a gente não faz nada — prega Hudson.

Em São Paulo, rodoanel fica pronto em dois anos

O governo do estado de São Paulo pretende entregar, em março de 2016, o último trecho do Rodoanel Mário Covas. A obra viária, de cerca de 180 quilômetros, liga as dez rodovias que chegam à capital e permite que caminhões e carros acessem o Porto de Santos e o Aeroporto Internacional de Guarulhos sem precisar entrar na cidade. Os serviços começaram em 1998 e devem consumir cerca de R$ 15 bilhões.

Passados 16 anos do início das obras, apenas dois (oeste e sul) dos quatro trechos planejados pelo governo estão em operação, ligando sete estradas. O terceiro ramal deve ser inaugurado até julho. Pelos trechos oeste e sul do rodoanel passam atualmente 143 mil veículos por dia. O governo estima que o movimento de caminhões caiu 37% na Avenida dos Bandeirantes e 43% na Marginal Pinheiros, após a inauguração das duas obras.

Além do tamanho da obra e do alto investimento, dividido entre financiamentos internacionais e os governos estadual e federal, a dificuldade de desapropriar terrenos e de conseguir licenças ambientais são apontadas pelo governo como justificativas para os atrasos.

Para tentar minimizar o impacto ambiental, o ramal norte terá sete túneis. As obras, que tiveram contrato assinado em março de 2013 e têm financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), enfrentam forte resistência de ambientalistas, que tentam barrar os trabalhos na Justiça. O trecho, de 44 quilômetros, vai ligar o rodoanel ao Aeroporto de Guarulhos e deve tirar 17 mil caminhões por dia da marginal Tietê.

Inicialmente previsto para ser entregue em março deste ano, o trecho leste, com 43,3 quilômetros, está atrasado.

O anel viário começou a ser construído pelo trecho oeste, uma via expressa de 32 quilômetros. Desde 2008, o pedágio é cobrado na estrada. Em 2007, começou a ser feita a parte sul, que tem 61 quilômetros e está concluída.

Origem: O Globo, 20/04/2014

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