Concessão de aeroportos: Galeão (RJ) e Confins (MG) – Andrade Gutierrez

‘Estamos na disputa por Galeão e Confins’, afirma presidente da Andrade Gutierrez

Presidente da Andrade Gutierrez diz que propostas por aeroportos serão competitivas, mas responsáveis

Irany Tereza e Antonio Pita

Mesmo após ficar de fora das primeiras concessões do governo, a CCR, empresa de concessões que tem a Andrade Gutierrez como um dos principais acionistas, não vai mudar a estratégia na briga pelos leilões dos Aeroportos do Galeão, no Rio, e Confins, em Minas, com os quais o governo espera arrecadar pelo menos R$ 5,9 bilhões. “Ter seis concorrentes ou ter oito não muda a estratégia”, diz Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez. “Vamos fazer propostas competitivas, mas responsáveis.”

Como a empresa vai para o leilão de Galeão e Confins?

Exatamente como entramos na primeira disputa. Temos participações em aeroportos no Equador, Chile, pelos quais passam 15 milhões de passageiros. Sabemos fazer conta e sabemos a dificuldade de operar aeroportos. Estamos na disputa, vamos fazer propostas competitivas, porém responsáveis. A proposta do primeiro foi perdedora, mas a consequência, no dia seguinte, foi o aumento do preço das ações em 15%. Significa que o mercado reconheceu que fizemos certo.

O governo espera uma concorrência forte.

Pretendemos apresentar propostas para os dois. Ter seis concorrentes ou ter oito não muda a proposta. Em nosso entendimento, existe um erro de avaliação na demanda de Confins. O número de passageiros em 2012 foi menor do que em 2011. De 2013 para 2012, está estabilizado para queda. A diferença nos primeiros anos é o que mais pesa no fluxo de caixa.

Qual o cálculo para o limite de investimento nos aeroportos?

Do ponto de vista econômico-financeiro, a ótica da CCR é diferente da visão das concorrentes. Ela não participa com visão empreiteira, mas exclusivamente com a visão de negócio. Várias obras da CCR não são feitas pela Andrade Gutierrez. Para contratar, ela tem de ir ao conselho justificar o preço e ouvir o mercado. Essa é a grande diferença de estratégia.

O grupo vai investir em mais concessões de aeroportos?

A gente tem expectativa, mas o governo poderia acelerar o programa. É só ver as condições. Está muito lento. A tendência é nas capitais ser o mesmo modelo. Mas há regiões que podem liberar aeroportos privados, como o Rio.

Todas as concessões envolvem os mesmos players. Há capacidade financeira para tudo?

Não há. Quando a CCR precisa de dinheiro, ela tem capacidade de ir ao mercado se capitalizar. Ela hoje vale R$ 31 bilhões, é a maior concessionária do Brasil e uma das maiores do mundo em valor de mercado. Com o fluxo que tem de pedágios já definido nos contratos de longo prazo, ela tem capacidade de se financiar. Não pesa no balanço da Andrade Gutierrez. Estamos estruturando essa companhia há 13 anos e ela vem crescendo. A empresa vai participar de outras licitações rodoviárias e de aeroportos. Mas não vai participar, por exemplo, de licitações ferroviárias. A Andrade estuda (participar de ferrovias), não a CCR.

O modelo para as rodovias está atrativo?

Há a consciência muito correta do governo de que três ou quatro rodovias não são possíveis. Em outras quatro ou cinco haverá interesse. Temos em três. Há problemas pontuais, como o preço alto do pedágio. Não é do nosso interesse pedágio alto, isso significa estrada sem tráfego. Queremos pedágios justos. Tem de ter algum tipo de compensação no edital. As exigências de construção podem ser exercidas ao longo do tempo.

O que, em sua opinião, determinou o fracasso do leilão da BR-262?

Não é a primeira licitação que não sai. O projeto, quando é bom, tem concorrente. Quando é ruim, não tem. As pessoas têm constrangimento de falar, mas ninguém compareceu porque é muito ruim. Não é crítica ao governo, é a realidade da estrada. Existem outros projetos ruins e não sei se haverá concorrente.

Hoje, como a Andrade Gutierrez está estruturada?

Aquilo que foi criado há 65 anos, a construtora, é metade do resultado econômico-financeiro do grupo. Os investimentos representam outros 50%, com CCR, Sanepar, Contax e LogMed. No nosso ponto de vista, é melhor diversificar o risco, participando da estrutura de gestão e controle das companhias, mas diversificando os setores. Se tiver uma crise em um setor, não somos afetados. É quase um privateequity.

As manifestações abalaram as perspectivas de investir no País?

Apesar da extrema legitimidade dos protestos, o componente de arruaça prejudicou muito o Brasil e o apetite para determinados projetos. Imagina quem tem concessão de serviço público: pontos de ônibus, os próprios ônibus, praças de pedágio. Nós ficamos assustados. O componente bagunça traz insegurança. Impactou a percepção internacional de ver o Brasil como oportunidade. Mas é um movimento legítimo. Não sei como alguém pode ser contra uma coisa dessas, até porque existe a sensação de que se precisa protestar contra alguma coisa.

Origem: O Estado de S. Paulo, 7/10/2013