BRT vai cortar área de Mata Atlântica

Novo traçado do Transolímpica, que ligará a Barra a Deodoro, reduzirá de 497 para 25 as desapropriações

CHRISTINA NASCIMENTO

Uma área da Mata Atlântica que equivale a aproximadamente 20 campos de futebol vai ser extinta para dar lugar ao corredor Transolímpica, que ligará a Barra da Tijuca a Deodoro. O decreto, que permite a supressão de 19,98 hectares de vegetação, foi publicado ontem, no último Diário Oficial do Estado em que Sérgio Cabral assina como governador. No despacho, ele usa como argumento a lei federal que autoriza a retirada da mata em caso de utilidade pública.

A Secretaria Municipal de Obras garante que a decisão foi tomada para reduzir o número de desapropriações nas imediações da Colônia Juliano Moreira. “A secretaria fechou um novo traçado para o corredor expresso Transolímpica, em Curicica. O traçado antigo beirava as Estradas de Curicica, André Rocha, do Guerenguê e do Outeiro Santo, e exigia 497 desapropriações formais nessa região”, afirmou o órgão em nota.

Para compensar a extinção da vegetação, prefeitura fará plantio de 40 hectares de espécies no Parque da Pedra Branca, em Jacarepaguá Foto: Vander Alvim / Agência O Dia

O novo traçado vai passar dentro da Colônia Juliano Moreira, o que vai reduzir para 25 a quantidade de remoções. A prefeitura disse que para compensar a extinção da vegetação fará o plantio de 40 hectares de espécies encontradas na Mata Atlântica dentro do Parque Estadual da Pedra Branca.

O ambientalista Mario Moscatelli disse não bastar replantar espécies. “Um reflorestamento desse leva 20, 30 anos. Não é tão fácil assim. É fundamental que tenha um trabalho de manutenção permanente. O que tem de ser discutido é a relevância da área que terá corte e qual é o tipo de espécie que tem lá dentro”, afirmou ele.

De acordo com o Inea, há uma licença, expedida em 19 de abril de 2013, que permite a retirada da vegetação por causa da construção do BRT. O decreto apenas reiterada a autorização. Do que será extinto, há 19,60 hectares de vegetação em estágio médio — reflorestada ou em fase de recuperação — e 0,38 hectares em fase avançada de regeneração.

Segundo o último relatório da organização SOS Mata Atlântica, feito em parceira com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o estado do Rio tinha, em 2012, 814.935 hectares remanescentes de mata, o que representa 18,6% da vegetação original.

Novo corredor terá 23Km e passará por nove bairros

O novo corredor terá 23 quilômetros e vai passar por Barra, Recreio dos Bandeirantes, Camorim, Curicica, Taquara, Jardim Sulacap, Magalhães Bastos, Vila Militar e Deodoro. Em 2011, um relatório da prefeitura mostrou que a região da Zona Oeste, por onde vai passar a maior parte do BRT, é a que tem maior concentração de cobertura vegetal em hectares da Mata Atlântica.

No Rio, há nove bairros com mais de 50% de cobertura da Mata Atlântica. Desses, sete ficam na Zona Oeste, e dois, na Zona Sul. As dez principais áreas de Mata Atlântica do Rio de Janeiro são: Floresta do Gericinó-Mendanha, Floresta da Tijuca, Floresta da Pedra Branca, Campos de Sernambetiba, Restinga da Marambaia, Parque Natural Municipal de Grumari, Parque Natural Municipal da Prainha, Reserva Biológica e Arqueológica de Guaratiba, Área de Proteção Ambiental das Brisas, Área de Proteção Ambiental das Tabebuias

O Transolímpica já foi alvo de questionamentos do Tribunal de Contas do Município (TCM-RJ), no ano passado. Em um relatório publicado em outubro, o órgão fiscalizador questionou ‘a defasagem (no calendário da obra) e disse que o atraso causava grande preocupação.’ No documento ainda, os técnicos chamam atenção para o fato de que o corredor de ônibus ‘está inserido na matriz de responsabilidades dos Jogos Olímpicos de 2016 a serem realizados pela cidade’. O BRT foi um compromisso assumido pela cidade do Rio com o Comitê Olímpico Internacional (COI) para 2016. A prefeitura promete inaugurar o Transolímpica no final de 2015.

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