Arquitetos elogiam decisão de cancelar construção do píer em Y

Companhia Docas afirma que projeto não ficaria pronto até 2016

Contrato de R$ 223,2 milhões será revogado no fim deste mês

LUIZ ERNESTO MAGALHÃES

Desproporção. A fotomontagem mostra como ficaria a paisagem com a instalação do píer em Y no Cais do Porto: o prédio do Museu do Amanhã é ofuscado pelo transatlântico Reprodução

Arquitetos comemoraram nesta quarta-feira a decisão da Companhia Docas, que desistiu de levar adiante o projeto para construir um novo cais com formato em Y nas imediações do Píer Mauá. A proposta era criticada, entre outros pontos, por não se integrar à paisagem da região, que passa por processo de revitalização. Mas eles reclamaram do fato de Docas não se esforçar para encontrar uma alternativa a curto prazo para a área, a fim de evitar que os recursos, incluídos no PAC 2, sejam remanejados. A decisão de Docas foi antecipada pela coluna Gente Boa, do GLOBO, e confirmada nesta quarta-feira pelo presidente da empresa, Jorge Luiz de Mello.

Segundo ele, nenhuma obra irá adiante antes das Olimpíadas de 2016. O contrato de R$ 223,2 milhões mantido com o Consórcio Rio Y Mar para a execução do projeto será revogado no fim deste mês, depois de já terem sido gastos R$ 10 milhões no detalhamento do píer e na montagem de canteiros.

— Primeiro, pensamos o projeto para a Copa do Mundo, mas não era possível. Agora, não há mais tempo nem para as Olimpíadas. Com isso, o projeto também sairá do PAC 2. Vamos precisar encontrar outra fonte de recursos. Além disso, caso a opção seja por um empreendimento num formato que não seja em Y, teremos que recomeçar do zero, incluindo a realização de novas audiências públicas — disse Jorge Luiz Mello.

Para o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), Sidney Menezes, o arquivamento do projeto significou uma vitória dos interesses paisagísticos da cidade. Agora, segundo ele, é hora de pensar no futuro.

— Para mim, Docas só pensou na questão operacional e não da integração do Porto ao resto da cidade. Mas não podemos esperar 2016. A solução tem que ser debatida desde já, para que realmente tenhamos um equipamento qualificado para a cidade, quando o projeto sair do papel — disse Sidney.

O presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), Pedro da Luz, tem uma avaliação semelhante:

— Precisamos de um projeto bem definido, que seja desenvolvido com toda a transparência. Mas, para isso, a sociedade precisa opinar. Se ainda existem recursos assegurados, esse debate tem que começar de imediato. Acredito que ainda haja tempo de desenvolver um projeto para os Jogos Olímpicos — afirmou.

O prefeito Eduardo Paes não quis se manifestar sobre a decisão de Docas. Já o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Alfredo Lopes, também defende que se encontre um solução imediata:

— Existe uma tendência de o Rio receber cada vez mais navios de turismo. Os visitantes não podem continuar tanto tempo desembarcando num espaço degradado.

Dirigente diz que suspensão atendeu a pedido do COI

O presidente de Docas, Jorge Mello, argumentou que a mudança na localização elevaria o custo das obras em R$ 130 milhões, porque exigiria mais investimentos, principalmente em dragagem. Também seriam necessárias novas licenças ambientais. Tudo isso alteraria o cronograma, e haveria ainda o risco de as obras não terminarem a tempo para as Olimpíadas. De acordo com Mello, o caso teria sido discutido com o Comitê Olímpico Internacional (COI). Ele afirmou que a entidade tinha interesse no projeto já que, no caderno de encargos da candidatura do Brasil para os Jogos de 2016, havia a previsão de que até 10 mil pessoas poderiam se hospedar em seis ou sete navios:

— O COI estava preocupado com o deslocamento de milhares de pessoas em meio aos canteiros se as obras não terminassem a tempo. E sugeriu que o projeto ficasse para depois do evento. A Olimpíada era uma oportunidade em forma de cavalo selado que a gente deixou escapar — disse Mello.

O COI não se manifestou. Já o Comitê Organizador Rio 2016 negou que o píer em Y tenha sido discutido com o COI. O Comitê lembrou que, com a expansão da oferta de quartos de hotéis na cidade, a demanda por navios caiu. A expectativa agora é alugar apenas um transatlântico.

Impacto visual foi alvo de críticas

O píer em Y, planejado entre os Armazéns 2 e 3, foi alvo de críticas devido ao impacto visual que poderia causar ao concentrar num mesmo ponto transatlânticos com até 60 metros de altura nas proximidades de bens tombados, como o Mosteiro de São Bento, ou de novos empreendimentos projetados dentro do pacote de intervenções para a revitalização da Zona Portuária, como o Museu de Arte do Rio (MAR), já inaugurado, e o Museu do Amanhã, em construção. Em maio de 2013, chegou-se a discutir a alternativa de se deslocar o novo terminal para as proximidades dos Armazéns 6 e 7, mantendo o formato em Y. Mas a proposta, criticada por especialistas, também não foi adiante. Os problemas do projeto, porém, são antigos. Começaram na licitação do empreendimento, em 2010. A concorrência foi adiada por mais de um ano devido a suspeitas de superfaturamento suscitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

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