Rio contemporâneo e internacional

Karine Tavares – O Globo

RIO — Uma nova arquitetura: contemporânea internacional. Com certo sotaque gringo, mas sem perder a ginga carioca. Questão de gosto à parte, esse é o estilo que o bom e velho Rio, majoritariamente eclético, começa a ganhar com as parcerias entre arquitetos nacionais e estrangeiros, na transformação urbana por que passa a cidade. Em especial, no Porto, onde o gabarito, que pode chegar a 150 metros, permitirá o surgimento de grandes torres e um novo horizonte.

Mas outros pontos da cidade também já recebem obras de destaque. Em Copacabana, onde a prevalência é do art-déco do início do século passado, a fachada do novo Museu da Imagem e do Som, um projeto do escritório americano Diller, Scofidio + Renfro, reproduz o famoso calçadão do bairro. Na Bartolomeu Mitre, Leblon, o também americano Richard Meier — ganhador do Pritzker, o Oscar da arquitetura mundial — está construindo um prédio que terá a fachada coberta por brise-soleil, elemento comum no modernismo, tão presente na cidade.

— A arquitetura do Rio é muito rica: tem o velho, o novo, o bom, o ruim. Isso torna a cidade muito interessante. Mas nós temos uma preferência pelos prédios modernos, mesmo os mais obscuros — confessa Bernhard Karpf, sócio do escritório Richard Meier Partners, mostrando que mesmo grandes nomes internacionais se rendem à nossa arquitetura.

— A maioria dos arquitetos estrangeiros falam de Niemeyer, Burle Marx, Paulo Mendes da Rocha. Eles não fazem apenas uma arquitetura importada. Utilizam alguns de nossos elementos também — diz Aníbal Sabrosa, sócio-diretor da RAF Arquitetura, escritório que trabalha num dos grandes projetos para o Porto do Rio, o Pátio da Marítima, em parceria com o inglês Norman Foster (outro ganhador do Pritzker).

Projetado para ser construído num terreno de 24 mil metros quadrados de frente para o mar e no centro da região, o complexo de escritórios da Tishman Speyer (outra gigante americana) terá dois volumes distintos, que se tocam no último pavimento através de uma estrutura metálica. Uma grande praça central deve permitir a integração do empreendimento com os espaços públicos, característica que vem ganhando prioridade nos edifícios projetados para a área.

— O que se vê, de forma geral nesses projetos, é uma preocupação com a sustentabilidade. Mesmo edifícios ícones precisam dialogar com o entorno onde estão inseridos — destaca Vicente Giffoni, presidente da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (AsBEA-RJ).

Outro exemplo disso é a Torre Carioca. Projetado pelo arquiteto Sérgio Caldas, o edifício terá dois núcleos ligados por passarelas. E, no térreo, praças com lojas permitirão a integração com a rua e a passagem de pedestres.

‘Não é uma cidade para 2014. É para 2050’

Outro projeto que sai em breve do papel é o Porto Atlântico Leste, empreendimento da Odebrecht que será lançado ainda este ano. Dois hotéis, uma torre comercial, uma corporativa e um mall com lojas ocupando um quarteirão inteiro no Santo Cristo, com a mesma premissa de permeabilidade urbana.

O projeto é do escritório STA Arquitetura, que também assinou o Dimension, na Barra da Tijuca, outro comercial da Odebrecht, que foi entregue na última semana e tem um pórtico de 26 metros de altura. É deles também o desenho do Port Corporate, edifício da Tishman Speyer, que já está em construção ao lado do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into).

— O Porto será uma grande experiência para a arquitetura carioca, que já fez escola no período áureo do Modernismo. O embate, a contraposição e o debate são fundamentais nesse processo de enriquecimento da qualidade da arquitetura — acredita Marcos Sá, diretor do STA.

Foi exatamente por acreditar nisso que a Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ) resolveu dar ao seu prêmio anual, que será entregue amanhã, o tema Arquitetura Maravilha, em alusão às obras do Porto. Para o presidente da instituição, José Conde Caldas, os próximos prêmios já devem, inclusive, agraciar projetos feitos para a área:

— Nossos arquitetos têm a mesma capacidade de criar projetos que não deixam nada a dever a outras áreas revitalizadas do mundo.

Entre os que prometem dar o que falar, está o Porto Maravilha Corporate. Projeto do escritório paulista Aflalo & Gasperini, o empreendimento terá duas torres de escritórios que se conectarão formando um retângulo vazado.

E a região vai ganhar ainda dois ícones arquitetônicos, já em obras. O Museu do Amanhã tem assinatura do espanhol Santiago Calatrava em parceria com Ruy Rezende. E o Museu de Arte do Rio foi projetado pelo escritório Bernardes + Jacobsen e deve ser aberto no mês de março.

— Demos uma pegada bem carioca a esse projeto, que deveria ligar dois prédios bem diferentes dando uma unidade ao conjunto — explica Paulo Jacobsen, um dos sócios do escritório. — A arquitetura não tratou bem o Rio. O Porto é a oportunidade de trazer um padrão internacional para a cidade.

Para Vicente Giffoni, da AsBEA-RJ, a cidade vive hoje uma revolução:

— Isso exige excelente arquitetura nacional e internacional e uma visão integrada da cidade que estamos criando. E não é uma cidade para 2014. É para 2050.