BRT acelera a transformação de Campo Grande

Túnel da Grota Funda e corredor expresso reduzem a distância até o bairro e aquecem o setor imobiliário

RIO — Campo Grande já foi uma freguesia rural, mas quem ainda pensa no bairro da Zona Oeste como uma área pouco desenvolvida é porque, definitivamente, perdeu o bonde da história. Ou melhor, ainda não cruzou o BRT Transoeste e o Túnel da Grota Funda, que, este ano, deixaram a região mais próxima da Barra e do Recreio, por exemplo. Quem segue por este novo caminho ou pega a Avenida Brasil descobre que o lugar ganhou cerca de sete mil novas unidades imobiliárias nos últimos três anos, que mudaram a paisagem do bairro, dono de um comércio fervilhante. Somente pelo calçadão circulam cerca de 250 mil pessoas por dia. Boa parte desses consumidores são agora esperados no Park Shopping Campo Grande, que acaba de ser inaugurado com suas 276 lojas, sete salas de cinema de última geração e parque de diversões indoor, que prometem atrair clientela de todos os cantos da cidade.

Com cerca de 329 mil habitantes, Campo Grande tem apresentado melhorias em sua infraestrutura, segundo o diretor de Informações da Cidade do Instituto Pereira Passos, Sergio Guimarães Ferreira. Sobre a coleta de esgoto, um antigo problema da região, ele ressalta que dados do IBGE mostram que, atualmente, 81% da população têm o serviço. Em 2000, esse percentual era 39%. Na cidade como um todo, atualmente há esgoto em 90,9% dos lares.

— O mercado imobiliário não atua em locais abandonados. O cliente só compra empreendimentos em áreas com infraestrutura — diz Luigi Gaino Martins, diretor da unidade Rio da Lopes Consultoria de Imóveis, que aposta no bairro. — Somos a única grande empresa do ramo que tem uma equipe própria para Campo Grande, formada basicamente por profissionais que moram e conhecem bem a região.

Bairro é o campeão de arrecadação de ICMS

Bairro antigo, que começou a ser ocupado por volta de 1600, Campo Grande abriga hoje grandes empresas, como Ambev e Michelin, que impulsionam a economia e ajudam o bairro a ser o que mais arrecada ICMS na cidade. Quem afirma é o presidente da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande, Guilherme Eisenlohr, que tem outros dados:

— Temos o maior número de agências bancárias por bairro. Se fossemos emancipados, seríamos a terceira cidade do estado que mais arrecada imposto, só perdendo para a capital e Caxias — conta Eisenlohr.

Entusiasta da região, o presidente também está atento aos problemas que ainda existem. Segundo ele, dia 11 tem reunião com o secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osório, para discutir alternativas para o trânsito. Ele cita ainda o problema de iluminação, que aumenta a sensação de insegurança em algumas áreas e poderia ter sido resolvido com a Unidade de Ordem Pública, prometida para julho.

— A base está pronta, chegaram a selecionar 250 agentes, mas adiaram a inauguração. Seria em agosto, mas até agora nada. Não dá para ficar apenas no discurso político. São 10 mil novas famílias na região, precisamos de infraestrutura.

Metro quadrado valorizado

Gilmara Pereira Teixeira, de 28 anos, acaba de chegar ao bairro. De casamento marcado para dezembro, ela morava com os pais em Nova Iguaçu e mudou-se para a casa nova na terça-feira, para facilitar a ida ao trabalho no novo shopping.

— Sou gerente de uma loja que abriu filial no Park Shopping. Aqui meu salário é melhor, aceitei o desafio. Acho que vou ter mais qualidade de vida — diz Gilmara, que paga R$ 1 mil de aluguel numa casa de dois quartos.

Presidente da Associação de Dirigentes de Empresas de Mercado Imobiliário, José Conde Caldas diz que o metro quadrado em Campo Grande hoje custa, em média R$ 3,5 mil. Na Freguesia, o valor é R$ 6 mil o metro quadrado e, na Barra, chega a R$ 7,8 mil.

Com ascensão da classe C, Campo Grande passou a ter características de regiões próximas, como Barra e Jacarepaguá. Mas, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura, Vicente Giffoni, este ainda é um bairro de personalidade:

— Houve a verticalização, mas ainda há condomínios de casas, com infraestrutura de lazer, como os da Barra e do Recreio. O bairro é um desafio grande para os arquitetos, que precisam seguir a renovação urbana e preservar as características originais do lugar.